Funcionários de escola viram réus após aluna ser achada morta em excursão

Victoria Natalini foi encontrada morta em 2015, e laudo apontou asfixia mecânica como causa; cinco se tornaram réus por abandono de incapaz

2 out 2023 - 18h11
Victoria Mafra Natalini foi encontrada morta em 2015
Victoria Mafra Natalini foi encontrada morta em 2015
Foto: Arquivo pessoal

O Tribunal de Justiça de São Paulo aceitou a denúncia do Ministério Público contra dois professores e três gestores da Escola Waldorf Rudolf Steiner, de São Paulo, por abandono de incapaz. O caso trata da morte da estudante Victoria Mafra Natalini, de 15 anos, que desapareceu durante uma excursão realizada para uma fazenda em Itatiba, no interior de São Paulo, em 16 de setembro de 2015. Ela foi encontrada sem vida no dia seguinte. Depois de oito anos, ninguém foi preso pelo crime. 

A Fazenda Pereiras está localizada a 85 km de distância da capital paulista, na Rodovia Engenheiro Constâncio Cintra. A excursão ocorreria entre os dias 11 e 18 de setembro, para uma atividade extra curricular promovida pela escola. Entre os alunos, estavam professores e monitores. 

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Na tarde do dia 16, Victoria pediu para ir ao banheiro da fazenda, teve autorização para ir sozinha e desapareceu. Conforme o boletim de ocorrência registrado no dia do desaparecimento, a professora encontrou seu boné na estrada, mas no sentido oposto ao da sede da fazenda, onde ficava o banheiro. O corpo da estudante foi encontrado pela Polícia Militar no dia seguinte. 

A denúncia do MP aponta que os professores e funcionários da instituição educacional que estavam no local, “mantendo-se em sua omissão, continuaram com suas atividades e não foram apurar onde estava a vítima”, e que, em virtude do baixo número de professores e monitores para a atividade, “ninguém percebeu a ausência da vítima por horas”. 

Diante disso, dois professores, um gestor executivo, uma gestora pedagógica e uma coordenadora da instituição se tornaram réus no último mês, oito anos após a morte de Victoria. 

O Terra solicitou por e-mail um posicionamento da Escola Waldorf Rudolf Steiner, mas, até o momento, não teve retorno. O espaço permanece aberto para manifestações.

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Conquista e sofrimento

Em entrevista ao Terra, o pai da menina, João Carlos Natalini, afirmou que a acusação formal de abandono de menor com resultado morte é uma conquista importante, mas que também é um sofrimento. 

“O custo de se buscar Justiça e a morosidade de se responsabilizar aqueles que têm responsabilidade direta sobre as circunstâncias que vitimaram minha filha é um trauma e um sofrimento indescritível”, lamenta, ao apontar que os professores nunca foram afastados de seus cargos.

Victoria Mafra Natalini foi encontrada morta em 2015
Foto: Arquivo pessoal

Morte ainda é mistério

De acordo com o Fantástico, da TV Globo, Victoria foi encontrada a 1,2 km do alojamento onde estava. A menina estava vestida e deitada de bruços. Na época do caso, os exames do Instituto Médico Legal (IML) de Itatiba indicaram que a menina não teve qualquer contato com drogas ou álcool. Ela também não apresentava sinais de violência sexual. A causa da morte foi registrada como indeterminada, sugestiva de morte natural, mas a família contesta, já que ela não tinha problema de saúde.

Seis meses depois da morte da adolescente, o Departamento de Homicídio e de Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo assumiu a investigação e pediu um novo parecer médico ao Centro de Perícia da Secretaria de Segurança Pública estadual. Um novo laudo apontou que a menina morreu por asfixia mecânica, na modalidade sufocação direta, muito comum em casos de assassinato. No entanto, ninguém foi apontado como autor do crime.

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João acredita que a Polícia Civil de Itatiba foi negligente com o caso e aponta que as autoridades foram inertes em preservar o local onde Victória foi encontrada, além de ter faltado foco em investigar o caso. 

“Até para alguém leigo como eu, havia diversos pontos que deixavam claro que algo estava muito errado. Depois disso, um laudo absurdo, que não se sustentou perante os peritos com quem trabalhamos e nem perante o IML de São Paulo. Quando conseguimos avocar o inquérito para o DHPP em São Paulo, fomos nós quem municiamos a equipe de investigação com informações, testemunhas e pareceres que fizeram a polícia começar a investigar”, destaca João. 

Ele também afirma que diligências importantes deixaram de ser feitas e que houve falhas periciais, de processo e de interrogatórios. “Mas a falha maior foi a de deixarem de investigar o principal suspeito com o rigor necessário para esclarecimentos fundamentais. [...] É inexplicável e inaceitável que a polícia não tenha chegado ao autor, na minha opinião”. 

Para tentar encontrar quem possa ter matado Victoria, a família oferece R$ 50 mil por informações que levem ao esclarecimento da autoria do crime. “Não entendemos até hoje o porquê de o principal suspeito, caracterizado por evidências, não foi preso para averiguações. O sofrimento e a humilhação que é uma família ter que buscar Justiça em nossa sociedade. Vimos relatos de muitas famílias que desistiram de buscar Justiça e quem pode que faça por si mesmo o papel que seria obrigação do Estado", finaliza. 

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Fonte: Redação Terra
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