Garçom do Fasano se afastou do trabalho presencial após ser agredido por Thiago Brennand

Empresário acusou o funcionário do restaurante de passar de moto em alta velocidade na frente de sua mansão em condomínio de luxo

7 set 2022 - 10h11
(atualizado às 10h15)
Thiago Brennand
Thiago Brennand
Foto: Reprodução/ Facebook Thiago Brennand FV

O garçom Vitor Igor Rodrigues Machado, de 26 anos, viu sua vida mudar na noite de 11 de março deste ano, quando saiu do trabalho, no restaurante Fasano, no interior do condomínio Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz (SP), um dos mais requintados do País, e seguia para sua casa. Acusado de passar "correndo" com a moto pela frente da mansão do empresário Thiago Brennand Fernandes Vieira, de 42 anos, o jovem foi agredido a socos e ameaçado para não mais voltar a cruzar o caminho do agressor.

Desde o episódio, o garçom está afastado do serviço, mudou de função e está em home office como auxiliar administrativo.

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A agressão sofrida por Vitor poderia dar em nada, se Brennand não fosse flagrado por câmeras agredindo uma modelo, no começo de agosto, em uma academia do Shopping Iguatemi, em São Paulo. Por esse caso, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) denunciou o empresário por lesão corporal e corrupção de menor e pediu a apreensão de seu passaporte. Antes que o pedido fosse analisado pela Justiça, o suspeito deixou o País, na madrugada de domingo, 4. A denúncia incluiu corrupção de menor porque o empresário teria incentivado seu filho a participar das agressões à modelo Alliny Helena Gomes, de 37 anos. A defesa de Brennand nega as acusações.

Vitor contou à reportagem que tinha saído do trabalho, no restaurante Fasano, por volta das 23 horas e seguia para casa em sua moto. Quando se aproximava da portaria 2 do condomínio, notou que um carro estava dando sinal de luz para que parasse. "Pelo retrovisor da moto, vi a Land Rover dele e fui parando. Aí ele me fechou e começou a xingar de 'vagabundo, quem você pensa que é para passar correndo em frente da minha casa'. Eu estava a 25km ou 26 km por hora, pois lá é máxima de 30km/h, e se a gente passa, recebe multa. Tentei explicar, falando que trabalho na fazenda há cinco anos e nunca fui multado."

Conforme seu relato, os xingamentos continuaram. "Ele estava exaltado e continuou me humilhando, dizendo que eu era marginal, que não era para estar ali. Ele me tratou como um cachorro e me obrigou a dar a habilitação para ele. Eu tinha parado a moto e tirado o capacete para conversar com ele, que continuava a me xingar. Aí chegou o supervisor da segurança, que tinha ouvido os gritos. Ele entregou minha habilitação para o segurança e disse que não queria mais que eu entrasse na fazenda. Disse que ia falar com o restaurante para me colocar para fora, para não pôr mais os pés lá."

Na frente do segurança, Igor começou a ser espancado, segundo relata. "O primeiro soco pegou na testa, no olho, no rosto e meu nariz começou a sangrar. Depois deu mais um golpe na região da nuca e me pegou pelo pescoço. Ficaram as marcas dos dedos. Meu capacete, que estava na moto, caiu e ele me largou. O segurança mandou que eu corresse para a portaria para não apanhar mais. Ele foi atrás e começou a me xingar de novo, dizendo que eu era marginal, vagabundo."

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O garçom Vitor Igor Domingues Machado denunciou à Polícia Civil ter sido agredido pelo empresário Thiago Brennand por ter passado de moto em frente à mansão dele, no condomínio Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz, interior de São Paulo
Foto: José Maria Tomazela / Estadão

    Na mesma noite, já na madrugada do sábado, Igor foi ao plantão da Polícia Civil e denunciou a agressão. Após registrar um boletim de ocorrência, ele recebeu uma requisição para passar por exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) de Sorocaba. "Lá, depois do exame, me disseram que em dez dias o laudo estaria na delegacia. Só que se passaram dois meses, fui lá três vezes e o exame não chegou. Na delegacia, me mandaram ir de novo ao IML e fui acompanhado de um advogado. Foi então que me disseram que não tinha registro do meu laudo e o diretor do IML fez outro exame, com base nas fotos das lesões."

    Só depois da repercussão do caso da modelo, em São Paulo, o laudo do exame de Igor foi juntado ao inquérito em Porto Feliz.

    Segundo o garçom, seu drama não terminou. Ao ser intimado pela polícia para prestar esclarecimentos sobre o caso, Thiago alegou que era tudo mentira, que não houve agressão, e registrou um boletim de ocorrência contra Vitor Igor por calúnia. Desde então, ele não pôde voltar ao trabalho no condomínio. "Estou em casa, esperando que me passem os serviços. Na administração do hotel e da fazenda disseram que é para minha segurança, para me proteger. Disseram que ele é perigoso. Vi na TV que ele é o maior colecionador de armas táticas do Brasil."

    Tanto o Fasano quanto a administração do condomínio confirmaram que Vitor Igor mantém o vínculo empregatício, mas está em outra função como medida de preservação do funcionário.

    Comportamento agressivo

    Quem conviveu com o empresário o descreve como pessoa de comportamento agressivo. No Juizado Especial Cível e Criminal de Itatiba, a Justiça proibiu Thiago de se aproximar da "vítima Álvaro Affonso de Miranda Netto, de seus familiares e de eventuais testemunhas" e de ter acesso ao centro de treinamento equestre da vítima, Doda Training Center, sob pena de prisão.

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    Cavaleiro profissional, duas vezes medalhista olímpico, Doda Miranda pediu medida protetiva contra Thiago após ser ameaçado por ele. Em um grupo de WhatsApp, o empresário ameaçou também a família de Doda. A defesa de Thiago disse que o caso foi encerrado com medidas "de ambos os lados".

    O empresário também foi denunciado à Polícia Civil por violência sexual e assédio moral por uma mulher com quem teve um relacionamento. Segundo a versão da denunciante, Thiago a manteve em cárcere privado na mansão do condomínio e a teria obrigado a manter relações sexuais com ele. Ela também relatou ter sido obrigada a se submeter a uma tatuagem com as iniciais dele. Segundo a defesa do empresário, ele negou de forma veemente as acusações. A investigação do caso foi encerrada por falta de provas, na delegacia de Porto Feliz, em junho deste ano.

    Sobrenome

    Nascido e criado no Recife, Thiago leva o sobrenome de uma das famílias mais tradicionais de Pernambuco. Ricardo Brennand, já falecido, foi fundador do instituto que leva seu nome, também conhecido como Castelo de Brennand, uma instituição cultural sem fins lucrativos muito visitada na capital pernambucana.

    O Instituto Ricardo Brennand já foi eleito o melhor museu da América do Sul por um conceituado site de viagens e, além da maior coleção mundial do pintor holandês Frans Post, abriga um dos maiores acervos de armas brancas do mundo, com mais de 3 mil peças, entre elas 27 armaduras medievais completas.

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    Em suas redes sociais, que agora foram tiradas do ar, o empresário fazia questão de mencionar sua origem dos Brennand. No dia da morte do empresário, engenheiro, colecionador e incentivador das artes, Thiago fez uma publicação dizendo ter o sobrenome do pai de Ricardo Brennand, a quem tratou como "meu tio". A reportagem entrou em contato com o instituto para confirmar o parentesco, mas não obteve retorno. Familiares diretos foram procurados e disseram que não se manifestariam sobre o parente.

    Além de ser herdeiro de bens da família, Thiago foi sócio de três empresas no Recife, entre elas uma administradora de imóveis e um grande hospital. Em setembro do ano passado, ele abriu, com uma sócia, uma empresa de administração de imóveis em São Paulo, com capital de R$ 9,8 milhões. Na Junta Comercial, consta que a empresa continua ativa.

    Viagem ao exterior

    A viagem de Thiago ao exterior foi confirmada pela defesa dele. O destino, no entanto, não foi informado. Na denúncia feita pelo promotor Bruno César Cruz de Assis no caso da agressão à modelo, a boa condição financeira do empresário foi usada como argumento para pedir à Justiça a retenção do seu passaporte.

    O MP também pediu que ele fosse obrigado a manter seu endereço atualizado nos autos do processo. O promotor quer que a Justiça determine o pagamento de R$ 100 mil por danos morais à vítima das agressões de Thiago, além de medidas protetivas para mantê-lo afastado dela.

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    Nesta terça-feira, 6, o MPSP informou que aguarda decisão judicial sobre as medidas cautelares que foram requeridas ao Poder Judiciário no momento do oferecimento da denúncia, "para a posterior adoção das medidas porventura cabíveis em razão da viagem do empresário ao exterior".

    Conforme a assessoria do escritório de advocacia Cavalcanti Sion Advogados, que defende o empresário, Thiago Fernandes Vieira viajou para o exterior em voo de carreira, sem que existisse qualquer restrição de se ausentar do País. "Ele tem data de retorno ao Brasil e está à disposição de autoridades", diz a nota. A data da volta ao Brasil não foi informada.

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