Professores e funcionários das três maiores universidades públicas do Estado de São Paulo podem aumentar ainda mais a crise que há dois meses coloca o ensino público paulista na berlinda: a partir da semana que vem, as categorias discutem se aprovam ou não indicativo de greve por tempo indeterminado – o que já acontece no ensino médio e no fundamental desde o último dia 13 de março.
Nesta quinta-feira, alunos, professores e servidores das universidades de São Paulo (USP), Estadual de Campinas (Unicamp) e Estadual Paulista (Unesp) realizaram uma manifestação a partir da Avenida Paulista até a Rua Itapeva, na Bela Vista (região central), por melhorias salariais aos trabalhadores das três instituições. Os sindicatos que os representam pedem 11,6% de reajuste salarial, entre reposição de inflação e ganho real; a reabertura de órgãos de extensão – no caso da USP, por exemplo, a creche para filhos de professores e funcionários. A proposta do governo do Estado de diminuição de repasse do ICMS às instituições também foi alvo dos manifestantes, que eram de São Paulo e cidades do interior.
O grupo caminhou até a sede do Conselho dos Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp), onde, a partir das 16h, estava marcada uma reunião entre os reitores da USP, Unicamp e Unesp com o Fórum das Seis – organismo que representa sindicatos das categorias e os Diretórios Centrais Acadêmicos (DCEs) das três universidades.
Do lado de fora do prédio, estudantes e funcionários não poupavam o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e principalmente o reitor da USP, Marco Antonio Zago, de críticas. Outros lembravam que São Paulo “tem o nosso Beto Richa” – referência a Alckmin, comparando-o ao governador do Paraná, também tucano, onde ação da Polícia Militar deixou mais de 200 feridos durante protesto de professores no dia 29 de abril, em Curitiba.
Na reunião, os membros do Cruesp apresentaram o índice de reajuste imediato de 4%, e mais 3,09% em outubro, a serem pagos em novembro. Uma primeira proposta, dias atrás, era quase idêntica – com a diferença de que os 3,09% seriam pagos em dezembro.
“As entidades consideraram a proposta insuficiente, mas vamos levar isso às categorias – são dez, ao todo, e semana que vem elas começam a definir se votam indicativo de greve. Teremos nova reunião dia 25 de maio e esperamos que até lá avancemos”, disse um dos coordenadores do Fórum das Seis, César Augusto Minto, que também integra a Associação dos Docentes da USP (Adusp).
Se a greve na rede pública é combustível para o ensino superior? “Se considerarmos que a proposta de hoje até rebaixou a primeira, pode ser; alega-se a crise, mas é muito difícil que recuperem nossas perdas passado o período de hiperinflação. Agora, o sucateamento está acontecendo nas atividades-meio das universidades e vai atacar também as atividades-fim – é mais difícil de percebê-lo, mas vai acontecer”, declarou o dirigente.
A próxima reunião, dia 25, está marcada para acontecer das 15h às 17h. Já os professores da rede básica voltam a realizar assembleia nesta sexta-feira às 14h – até agora, o governo paulista não negociou alegando que “é política” a greve, comandada pela Apeoesp. A entidade que representa os professores estaduais é vinculada à Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Números nas três universidades
Dados dos anuários estatísticos apresentados hoje na reunião no Cruesp, referentes ao período entre 1995 e 2013, mostram que a quantidade de docentes nas três universidades estaduais paulistas cresceu 18% no período: de 3.497 em 1995 para 6.008 em 2013.
A quantidade de cursos de graduação aumentou 115,5% (de 80 para 285), assim como a de alunos matriculados, que subiu 77,3% (de 19.618 para 58.204). Alunos da pós-graduação também aumentaram: variação de 75,7%. Crescimento menor foi verificado no número de servidores técnico-administrativos: variação de 15,5%, ou de 7.918 em 1995 para 17.451 em 2013.