Haddad elogia movimento, mas mantém impossibilidade de reduzir tarifa em SP

18 jun 2013 - 10h58
(atualizado às 17h20)
Prefeito de São Paulo Fernando Haddad e representantes do Movimento Passe Livre participam de reunião do Conselho da Cidade para falar sobre o transporte público na capital paulista
Prefeito de São Paulo Fernando Haddad e representantes do Movimento Passe Livre participam de reunião do Conselho da Cidade para falar sobre o transporte público na capital paulista
Foto: Alex Falcão / Futura Press

Em reunião extraordinária com o Conselho da Cidade para discutir o transporte público na capital nesta terça-feira, Fernando Haddad (PT) elogiou a atitude do Movimento Passe Livre (MPL) de representar a sociedade civil pela redução da tarifa. No entanto, o prefeito de São Paulo voltou a dizer que não é possível reduzir o valor e repudiou a violência nas manifestações. O MPL organizou os cinco protestos contra a elevação da tarifa de R$ 3 para R$ 3,20, em vigor desde o início do mês.

O prefeito destacou que, na manifestação de segunda-feira, houve pouquíssimos incidentes. "Eu nunca utilizei uma palavra que desmerecesse o movimento. Nunca usei palavras como vândalos e baderneiros. Eu tenho repudiado a violência, principalmente, quando ela parte do Estado", disse.

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No encontro, Haddad reiterou que o município não tem receita para subsidiar ainda mais as tarifas do transporte público. Segundo ele, qualquer das três sugestões já oferecidas pelo movimento, como reduzir, congelar ou eliminar a tarifas, levaria a um aumento de subsídios, o que desequilibraria as contas municipais.

Haddad disse que 70% dos impostos municipais são destinados, conforme a Constituição, à saúde e à educação. Segundo ele, se o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) fosse dobrado, as tarifas seriam reduzidas em 50%.

O prefeito admitiu que os valores do transporte público na capital são altos. "Se nós não considerássemos altos, não estaríamos tomando essas providências", afirmou, ao se referir aos subsídios pagos pelo governo.

Mayara Vivian, que integra o MPL, disse que não concorda com as declarações do prefeito. Para ela, não é uma questão, simplesmente, de remanejamento de impostos. "A gente tem que tirar o lucro dos empresários", disse.

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Ela disse que o grupo pode ajudar o prefeito a pressionar essas empresas, por meio das manifestações. A integrante do MPL garantiu que os protestos continuam até o revogamento da elevação das tarifas. Uma nova manifestação está marcada para as 17 h de hoje, com concentração na Praça da Sé.

De acordo com a rádio CBN, a maioria dos conselheiros afirmou que repudia a violência policial e pediu para que o prefeito ouça os manifestantes e considere rever o aumento da passagem.

O conselho

Desde o dia 26 de março, a capital paulista conta com um novo canal de diálogo entre a administração municipal e a sociedade, chamado de Conselho da Cidade. O órgão consultivo é formado por 136 conselheiros: representantes dos movimentos sociais, entidades de classe, empresários, cientistas e pesquisadores, artistas e lideranças religiosas. 

O Conselho da Cidade se reúne quatro vezes ao ano e analisa assuntos centrais para a capital, como a revisão do Plano Diretor e o projeto urbanístico do Arco do Tietê. Desta vez, a pauta abordou o movimento contra o aumento na tarifa do transporte público. Entre os integrantes, estão o cardeal arcebispo de São Paulo Dom Odilo Scherer; o senador Eduardo Suplicy, o piloto de corrida Emerson Fittipaldi, o jornalista Eugênio Bucci, o presidente presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo, Francisco Kurimori, a presidente do Instituto Esporte & Educação, Ana Moser, o presidente da Fiesp, Paulo SKaf, e a presidente do Instituto Ayrton Senna, Viviane Senna. 

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Cenas de guerra nos protestos em SP

A cidade de São Paulo enfrenta protestos contra o aumento na tarifa do transporte público desde o dia 6 de junho. Manifestantes e policiais entraram em confronto em diferentes ocasiões e ruas do centro se transformaram em cenários de guerra. Enquanto policiais usavam bombas e tiros de bala de borracha, manifestantes respondiam com pedras e rojões.

Durante os atos, portas de agências bancárias e estabelecimentos comerciais foram quebrados, ônibus, muros e monumentos pichados e lixeiras incendiadas. Os manifestantes alegam que reagem à repressão opressiva da polícia, que age de maneira truculenta para tentar conter ou dispersar os protestos.

Veja a cronologia e mais detalhes sobre os protestos em SP

Segundo a administração pública, em quatro dias de manifestações mais de 250 pessoas foram presas, muitas sob acusação de depredação de patrimônio público e formação de quadrilha. No dia 13 de junho, bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela Polícia Militar na rua da Consolação deram início a uma sequência de atos violentos por parte das forças de segurança, que se espalharam pelo centro.

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O cenário foi de caos: manifestantes e pessoas pegas de surpresa pelo protesto correndo para todos os lados tentando se proteger; motoristas e passageiros de ônibus inalando gás de pimenta sem ter como fugir em meio ao trânsito; e vários jornalistas, que cobriam o protesto, detidos, ameaçados ou agredidos.

No dia seguinte ao protesto marcado pela violência, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) declarou que via "ações coordenadas" oportunistas no movimento, reiterou "a defesa do direito de ir e vir" da população, mas garantiu que não permitirá que os manifestantes prejudiquem a circulação de veículos e pessoas. No mesmo dia, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afirmou que a polícia deve ser investigada por abusos cometidos, mas não deixou de criticar a ação dos ativistas.

As agressões da polícia repercutiram negativamente na imprensa e também nas redes sociais. Vítimas e testemunhas da ação violenta divulgaram relatos, fotografias e vídeos na internet. A mobilização ultrapassou as fronteiras do País e ganhou as ruas de várias cidades do mundo. Dezenas de manifestações foram organizadas em outros países em apoio aos protestos em São Paulo e repúdio à ação violenta da Polícia Militar. Eventos foram marcados pelas redes sociais em quase 30 cidades da Europa, Estados Unidos e América Latina.

As passagens de ônibus, metrô e trem da cidade de São Paulo passaram a custar R$ 3,20 no dia 2 de junho. A tarifa anterior, de R$ 3, vigorava desde janeiro de 2011. Segundo a administração paulista, caso fosse feito o reajuste com base na inflação acumulada no período, aferido pelo IPC/Fipe, o valor chegaria a R$ 3,40. "O reajuste abaixo da inflação é um esforço da prefeitura para não onerar em excesso os passageiros", disse em nota.

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O prefeito da capital havia declarado que o reajuste poderia ser menor caso o Congresso aprovasse a desoneração do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) para o transporte público. A proposta foi aprovada, mas não houve manifestação da administração municipal sobre redução das tarifas.

Agência Brasil
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