Como muitas famílias que têm filho pequeno fazem, Maike Lopes, de 29 anos, e a mulher, Karine de Oliveira, de 28, dormiam com o caçula, Bernardo, de 1 ano e 2 meses, na mesma cama, entre eles. Lopes até pensou em levantar mais cedo, por causa do temporal que castigava Embu das Artes, Grande São Paulo, na madrugada desta segunda-feira, 11. "Foi tudo muito rápido. Houve um estrondo, e a terra caiu em cima da gente. Dos três", conta. Ele ainda tentou pegar Bernardo, mas não teve forças - estava com os joelhos quebrados. O bebê não sobreviveu.
"Eram quase 4 horas; eu estava para me levantar", diz ele, consultor de Recursos Humanos (RH), que costuma sair cedo de casa, na Rua do Caqui, no bairro Jardim Pinheirinhos, em Embu, para chegar a tempo ao trabalho, em Pinheiros, na zona oeste da capital. Lopes chegou a ser hospitalizado, mas foi liberado. Karine gritou pedindo ajuda e desesperou-se atrás de outros dois filhos: Pedro, de 10 anos, e Clara, de 8. Os dois escaparam do deslizamento e estão bem.
Na rua, os vizinhos ainda não acreditam na tragédia. "O menino era a alegria da gente. Uma criança alegre que ia com todo mundo. Ficava aqui brincando de bola com as outras crianças", afirma Camila Gonçalves, de 33 anos.
Na casa do sogro, Karine, chorava abraçada ao marido. Em estado de choque, lamentava não ter se levantado mais cedo e não ter pressentido uma tragédia. Ela também agradecia aos vizinhos.
"Agora, é uma mistura de sentimentos. É raiva, é incompreensão. É tudo o que se pode pensar depois de uma tragédia tão triste como essa", afirmou o pai de Lopes e avô de Bernardo, Marcos Donizete Lopes, de 57 anos.
A Defesa Civil interditou a casa da família e outros imóveis na mesma rua. Parte da vizinhança vive de forma precária, perto de barrancos ou de declives e ribanceiras.
Poder público
A prefeitura de Embu das Artes informou que a região da tragédia não é regularizada e que as moradias seriam resultado de uma invasão. "O deslizamento ocorreu em loteamento irregular. A prefeitura de recebeu notificação judicial solicitando a fiscalização, fixação de placas no local, publicidade de processo de ação civil em razão de loteamento e ocupação clandestina da área."
A gestão municipal disse ainda estar "cumprindo todos os requisitos solicitados pela Justiça".
A prefeitura de Embu das Artes também informou que está monitorando as áreas de risco e que a situação desses locais está "sob controle". Além disso, informou que em outros pontos da cidade houve deslizamento de terra, mas de menor intensidade e sem vítimas.