"Me senti tão impotente. Eu chamava: "pai, pai, pai pai, pai, paizinho", relatou ao Fantástico Raquel Soares, filha de Pilson Pereira da Silva, de 81 anos, um dos idosos mortos por mãe e filho que invadiram uma residência e efetuaram diversos disparos de arma de fogo em Peixoto de Azevedo, no Mato Grosso.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Imagens captadas por câmeras de segurança divulgadas pelo programa da TV Globo revelam a cronologia do crime cometido pela pecuarista Inês Gemilaki, seu filho, o médico Bruno Gemilaki Dal Poz, e outros membros da família envolvidos. Todos os suspeitos foram presos pela Polícia Civil.
O cenário inicialmente prometia um fim de semana festivo na morada da família Lavall, com um churrasco organizado em comemoração ao aniversário do minerador Erneci Lavall. Contudo, por volta das 15h14, uma caminhonete branca estaciona em frente à residência, e dela desembarcam três pessoas: Inês, Bruno e o cunhado dela, Éder Gonçalves.
Bruno, carregando uma espingarda calibre 12, é seguido de perto por Éder, que assume posição estratégica na retaguarda.
Enquanto isso, estavam na casa o produtor rural Erneci Afonso Lavall, conhecido como "Polaco", e sua esposa, Raquel Soares. Enquanto os convidados se reuniam ao redor de uma mesa, o produtor rural descansava em um sofá.
Inês então dispara contra a janela e entra no imóvel através dos estilhaços. Dentro da sala, ela se agacha e inicia uma sequência de tiros. "Foi muito rápida, muito rápida, sem chance de defesa de ninguém, e não tínhamos para onde correr, as mulheres entraram na casa e outros se deitaram", relembra José Roberto Domingos, que sobreviveu ao ataque a tiros.
O alvo inicial dos disparos é Rui Luiz Bogo, de 69 anos, conhecido de Inês. Ainda sorrindo, ela encara a câmera de segurança no momento do ataque.
Dez pessoas se encontravam na residência naquele momento, enquanto uma criança dormia em um dos quartos. Sentada ao lado do pai, a filha de Rui, Lourdete Bogo, testemunhou a cena. "O meu pai nunca fez um mal para ninguém. O que ela fez foi covardia", afirmou ela.
O padre José Roberto, também presente na casa, tentou escapar dos tiros e se abrigou atrás do sofá, mas não foi poupado dos disparos. Inês continua atirando, desta vez visando "Polaco", no entanto, a arma falha pelo menos duas vezes.
A ação se estende por aproximadamente dois minutos. Antes de deixarem o local, Inês tenta atingir uma câmera de segurança, sem sucesso. Ela então solicita que seu filho, Bruno, faça o mesmo, mas ele também não consegue danificar o equipamento.
Prisões
Mãe e filho se entregaram à Polícia Civil dias após o crime. A Polícia Civil cumpriu os mandados de prisão contra ambos em uma propriedade rural da família, localizada a 180 quilômetros do município matogrossense onde ocorreu a invasão à residência.
Segundo a Polícia Civil, o local onde mãe e filho foram presos é de difícil acesso e tem mais de 85 quilômetros de estradas de terra. A Justiça do Mato Grosso expediu os mandados de prisão contra os dois suspeitos após pedido da delegada Anna Paula Marien, responsável pelas investigações.
A Polícia Civil também prendeu Márcio Ferreira Gonçalves, marido de Inês e padrasto de Bruno, que já era procurado pelo crime, e seu irmão Eder Gonçalves Rodrigues, que confessou a participação no duplo homicídio. Eles estavam em uma casa no Centro de Alta Floresta.
De acordo com a polícia, Eder confessou a participação no crime, dizendo ser a pessoa que entrou invadiu a casa e efetuou os disparos com Inês e Bruno. Durante a execução do crime, Márcio ficou na caminhonete Ford Ranger, do lado de fora da residência, aguardando para ajudar os comparsas na fuga.
Motivação
Conforme apurado pelo Fantástico, Inês foi inquilina de "Polaco" por mais de um ano e residiu na casa onde os crimes ocorreram. Segundo relatos do proprietário, ao devolver o imóvel, ela deixou uma dívida de aluguel, além de danificar câmeras de segurança e outras propriedades.
Em comunicações posteriores, Inês afirmou que repararia os danos causados à residência, o que nunca se concretizou. "Polaco" decidiu então levar o caso aos tribunais, porém, sem sucesso em responsabilizá-la pelos prejuízos.
Horas antes do ataque, Inês e seu marido registraram um boletim de ocorrência contra o proprietário da residência, alegando terem sido ameaçados devido a uma antiga dívida de aluguel.
Questionada pela reportagem, a delegada Anna Marien ressaltou que ainda não é possível determinar a motivação exata por trás do crime.
"Que ela pague pelo que fez. Ela, os filhos dela, o marido dela, o irmão do marido dela", afirmou "Polaco". "O que vai ficar dele [Rui] agora? A saudade, as lembranças, os conselhos que ele me dava. A saudade de saber que eu nunca mais vou ver ele, isso é o que mas me dói. Meu filho pedindo ele a todo momento", lamentou Raquel, emocionada.
À TV Globo, Angelita Kemper, advogada de Inês, alegou que sua cliente "relatava que sofria inúmeras ameaças por conta dessa ação, ao ponto de culminar que pela outra parte ali não ter gostado da decisão do juiz de ser desfavorável a ele. Ele não aceitava que iria perder o valor".
A defesa de Bruno, filho de Inês, solicitou tratamento psiquiátrico para o médico, o que foi deferido durante a audiência de custódia. Já o advogado de Márcio Ferreira pediu a revogação da prisão preventiva e aguarda a decisão da Justiça. O advogado do irmão dele, Éder, não se posicionou.