'Largo da Batata Ruffles'? Entenda vaivém da Prefeitura de SP sobre a exploração comercial da área

Gestão Nunes cedeu praça por 24 meses para marca em troca de supostas melhorias. Após repercussão, anulou doação e diz esperar parecer da Comissão de Proteção à Paisagem Urbana

15 dez 2024 - 20h59
(atualizado às 21h49)
Vista do Largo da Batata, localizado no bairro de Pinheiros, na zona oeste da cidade de São Paulo.
Vista do Largo da Batata, localizado no bairro de Pinheiros, na zona oeste da cidade de São Paulo.
Foto: LEANDRO CHEMALLE/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO

A possibilidade do Largo da Batata, na zona oeste de São Paulo, ter o nome modificado e associado a uma marca e a um alimento ultraprocessado - a batatinha chips Ruffles - gerou polêmica dentro e fora das redes sociais nos últimos dias. Na internet, o assunto foi replicado em inúmeros memes.

O debate se deu por conta de um termo de doação do Largo da Batata à PepsiCo, assinado pela gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) no início de dezembro. No documento, ao qual o Estadão teve acesso, a gestão municipal cede a área pelo valor simbólico de R$ 1.122.410 para que a empresa explore comercialmente. Tal montante, entretanto, não seria destinado aos cofres públicos, mas gasto pela própria PepsiCo em supostas melhorias no local durante 24 meses.

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Dentre as intervenções, segundo o acordo, estão previstas a instalação de uma "estação" de academia, um "letreiro instagramável" com os dizeres "Viva a onda de SP", uma base para prática de skate, bancos ondulados, bicicletário, mesa recreativa e uma "estação" infantil - com três brinquedos. Também está nos planos uma pintura de 15 metros de comprimento por 10 metros de largura, desenvolvida com tinta acrílica à base de água e verniz ecológico de alta resistência, a ser feita por um artista paulistano do bairro de Vila Maria.

Intervenções previstas no Largo da Batata:

  • Estação de academia;
  • "Letreiro instagramável" com os dizeres "Viva a onda de SP";
  • Base para prática de skate,;
  • Bancos ondulados;
  • Bicicletário;
  • Mesa recreativa;
  • Estação infantil - com três brinquedos.

A exploração do espaço, entretanto, não se enquadra nos "naming rights" - direito aplicado à concessão da propriedade nominal de um determinado local a uma marca, como ocorre em estádios, casas de shows e estações de Metrô. Ou seja, a PepsiCo não comprou o direito de estampar a Ruffles junto com o nome original da praça.

Nas redes sociais, o vereador Nabil Bonduki (PT) criticou a doação e afirmou que o termo foi assinado sem licitação e sem autorização da Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU). Segundo ele, a cessão foi baseada em um decreto antigo, assinado pelo ex-prefeito João Doria em 2018, que regulamenta o recebimento de doações e comodatos de bens, além de doações de direitos e serviços.

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"No entanto, esse decreto é inaplicável para a cessão de uso de um espaço público como querem fazer. Mesmo com essa evidente inadequação legal, o processo avançou na Subprefeitura de Pinheiros e foi formalizado sem a devida análise. A Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU), órgão responsável por avaliar exposições de marcas em espaços públicos, sequer foi consultada", disse ele na publicação.

Após a repercussão do caso, a gestão municipal recuou e decidiu anular o termo de doação. Em nota, a prefeitura alega que o processo foi feito de forma legal, mas confirma que sem o parecer do CPPU. E que agora aguarda a manifestação da Comissão.

"A Prefeitura de São Paulo informa que todos os requisitos no processo de adoção da praça no Largo da Batata, que prevê serviços de zeladoria e a doação para o município de equipamentos como mobiliário urbano e horta, respeitaram a legislação em vigor que não exige licitação. A decisão de tornar o termo assinado sem efeito nesta quinta-feira foi necessária para que a Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU) se manifeste a respeito da proposta de comunicação visual do parceiro para o espaço", diz o texto.

Questiona, a PepsiCo respondeu, por meio de nota, que o projeto de revitalização do Largo da Batata "prevê melhorias e benfeitorias para o espaço público, como revitalização dos canteiros, mobiliário e jardins".

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"Trata-se de um termo de cooperação e doação, sem necessidade de licitação, que cumpriu todos os trâmites legais e que não incorreu em nenhuma irregularidade. A companhia reitera que seguiu todas as diretrizes do processo administrativo com a SubPrefeitura de Pinheiros e que a iniciativa não contempla a mudança do nome do Largo da Batata (naming rights). A PepsiCo aguarda a avaliação dos demais órgãos competentes ligados à Prefeitura para definir a continuidade da ação."

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