O estudante de engenharia Maurício Azevedo, 20 anos, está há um ano em Londres, onde conta ter poucos amigos e não muitos contatos. Ainda assim, ele conseguiu que mais de 6 mil pessoas confirmassem no Facebook sua presença para uma manifestação convocada por ele para esta terça-feira em Londres em solidariedade aos protestos que vêm sendo realizados no Brasil.
Atos semelhantes foram convocados pelo Facebook em dezenas de cidades ao redor do mundo. "Berlim e Dublin já haviam realizado eventos (no final de semana). E vi que Londres ainda não tinha se manifestado. Criei o evento (no Facebook) na sexta de manhã e sinceramente não estava esperando muita gente. No primeiro dia, havia pouco mais de cem pessoas. Agora, já são mais de 5 mil confirmados'', disse ele à BBC Brasil.
Até a conclusão deste texto já haviam confirmado presença um total de 6.656 pessoas. Ele afirma que a ideia de organizar a manifestação, que está marcada para 17h do horário local (13h do horário de Brasília), surgiu porque "está na hora de a gente acordar, fazer alguma coisa, não só assistir".
O próprio organizador está cético de que todos aqueles que disseram que vão ao protesto de fato irão comparecer. "A polícia de Londres diz que normalmente de 10% a 40% dos que confirmam presença realmente aparecem. Mas se forem 40%, já serão milhares", acrescenta.
Oceano de distância
Azevedo afirma que se sentiu determinado a agir após ver "cenas de abuso, truculência e uso de gás lacrimogêneo pela polícia contra manifestantes". "Aquilo me chocou bastante", diz o estudante.
Seu comentário é uma referência à violenta repressão realizada pela Polícia Militar de São Paulo na quinta-feira, quando os policiais lançaram bombas de gás lacrimogêneo e dispararam balas de borracha contra manifestantes que protestavam contra o aumento das tarifas de transporte público, que foram reajustadas de R$ 3 para R$ 3,20.
O gaúcho Azevedo conta que já havia se sentido frustrado por não ter tido chance de participar dos protestos contra os aumentos de passagens em Porto Alegre realizados em abril deste ano. Portanto, não quis deixar a oportunidade passar. "Não é porque há um oceano de distância nos separando que não vou participar'', diz.
Azevedo refuta críticas de que a onda de protestos no Brasil poderia estar assumindo um ar muito difuso e sem um tema central, e comenta que "o aumento das passagens foi o estopim, para que as pessoas parassem e pensassem sobre o que estava acontecendo".
"A gente viu o julgamento do mensalão, a roubalheira, a PEC 37, a estatuto do nascituro. As pessoas começaram a ver que o país realmente tem problemas e que a gente não estava fazendo nada", acrescenta.
Polícia
Após ter criado o evento no Facebook, o passo seguinte foi contactar a Polícia Metropolitana de Londres. Um processo que ele conta ter transcorrido sem maiores complicações.
''Eles pedem que você os contacte com seis dias de antecedência quando se trata de uma passeata, porque precisam bloquear ruas e, assim, minimizar os efeitos do protesto. Quando é o que eles chamam de evento 'estático', que não envolve fechamento de ruas, o processo é mais tranquilo.''
''Passei meus contatos, telefone, endereço. Expliquei que não iríamos trancar rua alguma. Nem atrapalhar o trânsito, só utilizar os espaços públicos de tráfego das pessoas'', acrescentou.
O evento será realizado na Old Palace Yard, uma praça entre o Parlamento e a Abadia de Wesminster.
Inicialmente, a ideia era realizar a manifestação em frente à Embaixada do Brasil, também no centro da cidade, mas a polícia informou que não seria possível realizar o evento no local, por motivos de segurança, conta o estudante.
A polícia também vetou o segundo local marcado para a manifestação, a Praça de Trafalgar, por questões burocráticas, obrigando os organizadores a marcar o evento para a Old Palace Yard.