Os 23 anos do Massacre do Carandiru foram lembrados por uma manifestação que percorreu locais simbólicos da capital paulista na noite da última sexta-feira (2). Parentes de vítimas da violência cometida pelo estado, movimentos sociais, coletivos autônomos e pessoas engajadas no tema da segurança pública se reuniram em frente à Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
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O grupo seguiu em caminhada pelas ruas do centro da cidade, passando pelo prédio da Secretaria de Segurança Pública, Praça da Sé e prédio do Tribunal de Justiça, onde os nomes dos 111 mortos no massacre foram lidos.
Os manifestantes passaram ainda pela Secretaria da Justiça do Estado, localizada no Pateo do Colégio, e pela Secretaria do Estado da Administração Penitenciária, na Rua Líbero Badaró. Houve uma parada em frente à unidade da Fundação Casa na rua Florêncio de Abreu, onde gritaram palavras de ordem. Carregando velas acesas, eles encerraram a caminhada com um ato em frente ao Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, na região da Luz.
No dia 2 de outubro de 1992, cerca de 360 policiais invadiram, durante uma rebelião, a Casa de Detenção e mataram, com uso de metralhadoras, fuzis e pistolas, 111 detentos. A ação dos policiais é considerada um dos mais violentos casos de repressão a rebelião em presídios no País.
O local chegou a abrigar 8 mil detentos no período de maior lotação. A unidade foi desativada e parcialmente demolida em 2002. Em julgamento dividido em quatro etapas, 73 policiais foram condenados pelo massacre, recebendo penas entre 48 e 624 anos de prisão.
O protesto criticou também o atual sistema carcerário e a violência da polícia contra a população da periferia. Eles lembraram as últimas chacinas envolvendo policiais.
A fundadora do movimento Mães de Maio, Débora Maria da Silva, comparou as vítimas do Carandiru àquelas assassinadas nos ataques de maio de 2006, no estado de São Paulo, quando 493 civis e 59 agentes públicos foram mortos, segundo informações oficiais. “Esse ato é para lembrar dos nossos mortos que foram massacrados há 23 anos. Nós não podemos esquecer daqueles que se foram, porque eram [como] nossos filhos, independentemente de estar no sistema prisional. A dor da mãe do cárcere é a mesma dor da mãe de maio, é a mesma dor da mãe do policial”, disse Débora. Ela afirmou que o povo massacrado é o mesmo que está sendo encarcerado, que são os pobres, negros e periféricos.
José Aguiar, de 73 anos, sobrevivente do Massacre do Carandiru, lembrou do perigo constante dentro do presídio. “Lá dentro estávamos sempre correndo risco”. Ele trabalhava como encarregado da seção Judiciária dentro da Casa de Detenção. “Tinha três celas individuais, um dia eu dormia em uma, no outro dormia na outra. No dia do massacre, eu não estava em nenhuma das celas, eu estava dentro do armário na [seção] Judiciária. Acordei com o tiroteio”, afirmou.
Ele disse que havia mais de 111 corpos no local. “Depois que terminou a matança, eu ajudei a recolher corpos, ajudei a tirar mais de 50 corpos do fosso do elevador e na caixa d'água tinha corpo boiando também”, acrescentou.