Após uma reunião entre a CPI do Transporte Coletivo e a Frente de Luta Pelo Transporte Coletivo, na tarde desta terça-feira, o movimento decidiu ocupar o plenário da Câmara de Curitiba (PR). Eles pedem uma audiência com o prefeito Gustavo Fruet (PDT) para reivindicar a redução da tarifa de R$ 2,70 para R$ 2,25, o cancelamento da licitação do transporte e a municipalização da administração do setor, hoje feita pela Urbanização de Curitiba (Urbs), uma empresa de economia mista.
Segundo o movimento, a manifestação será pacífica, respeitando o patrimônio público, com o único objetivo de chamar a atenção para o movimento e durará, no máximo, 24 horas, ou até o grupo ser recebido pelo prefeito. "A licitação foi uma verdadeira fraude, um crime contra o domínio público. Os problemas são fruto de uma série de fatores que se acumulam no decorrer dos anos", declarou Celso Monteiro, um dos manifestantes. Letícia Camargo, também da Frente, disse que a licitação foi "fraudulenta", representando "a lógica de um desenvolvimento que alguns chamam de cidade modelo".
A manifestação baseia suas reivindicações no recente relatório do Tribunal de Contas do Estado, que viu indícios de irregularidades na licitação do transporte realizada pelo ex-prefeito Luciano Ducci (PSB), em 2010, e recomendou R$ 2,25 com a tarifa correta pelo sistema. A frente também lembrou o documento apresentado pelo Sindicato dos Engenheiros do Paraná, juntamente com outras entidades sindicais, apontando a formação de cartel no processo licitatório.
"Não queremos um mero cancelamento dos contratos. Queremos uma frota pública. O município deve assumir este serviço, assegurando o ir e vir destes usuários. E a tarifa zero é uma dessas reivindicações. Estamos diante de uma situação histórica, como poucas que aconteceram no município. Somos pedras no sapato dos empresários, já que lutamos pelos direitos do povo", disse Luiz Castro.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Urbanização do Paraná (Sindiurbano-PR), Valdir Mestriner, a prefeitura já possui condições para tomar a decisão de anular os contratos. "O prefeito não anula os contratos por questões políticas. Temos que voltar a fazer novas mobilizações, pois a CPI está terminando seus trabalhos e por isso precisamos pressionar o prefeito e impedir que no próximo ano os empresários façam o reajuste a que têm direito", enfatizou.
O presidente da Câmara, Paulo Salamuni (PV), disse considerar legítimo o movimento e autorizou a permanência dos manifestantes por 24 horas.
Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.
A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus. A mobilização surtiu efeito e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas – o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.
A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.
A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. "Essas vozes precisam ser ouvidas", disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.