Cerca de 5 mil pessoas tiveram que deixar suas casas na região metropolitana do Recife, em Pernambuco, em decorrência das fortes chuvas que atingiram o estado nos últimos dias e deixaram mais de 90 mortos e cerca de 25 desaparecidos até o final da tarde desta segunda-feira, 30.
Algumas famílias perderam tudo o que tinham, como é o caso da vendedora ambulante Maria Tereza dos Santos, moradora do bairro de Tejipió, na Zona Oeste da cidade. Meri, como é conhecida, conta que o rio que batiza o bairro costuma subir quando a vazão da chuva é muito grande, mas na madrugada do sábado, 28, para o domingo, 29, a chuva se assemelhava a uma torneira aberta. Foi quando ela e o marido começaram a subir os móveis, mas a iniciativa não foi o bastante.
A casa foi destruída pela chuva e ficou com a estrutura comprometida. Naquele ponto, a água chegou à altura de dois metros. Ela e o marido ficaram desempregados por causa da pandemia e a única renda que tinham era com a venda de água no sinal.
"Eu trabalhei de tudo um pouco, na minha vida inteira. É muito difícil perder tudo que eu consegui num dia só", lamenta a vendedora, que agora conta com a ajuda de vizinhos para se manter.
O perito judicial Elton Dantas, vizinho de Meri, ressalta a solidariedade nesse momento difícil.
"As pessoas estão se ajudando, mesmo quem perdeu alguma coisa, está ajudando o outro. Isso alivia o apocalipse da destruição”, conta.
Elton teve o primeiro andar da casa afetado, perdeu um carro e alguns móveis. Ele mora há 36 anos no bairro e até já tinha testemunhado algumas enchentes, mas nada nessa proporção.
"Foi muito rápido, deu tempo de subir algumas coisas para os andares de cima. Eu consegui tirar o meu carro, o do meu pai ficou. Quando eu voltei pra casa a água já batia no meu pescoço", relata.
A casa do perito judicial virou um ponto de apoio para os moradores do local, com algumas pessoas que foram abrigadas até a água começar a baixar. A perda foi "menor", nas palavras do próprio morador, que agradece a Deus.
"Tenho vizinhos que perderam tudo", acrescenta.
Estragos em cidades vizinhas
As chuvas também afetaram municípios vizinhos a Recife, como é o caso de Camaragibe. Lá, o problema maior foi um deslizamento de terra que destruiu a casa de Ana, moradora do bairro dos Estados. Abalada, ela pediu que a filha, a advogada Tainá Alves de Lima, relatasse o ocorrido.
Na última sexta, 27, Ana se abrigou na casa de Tainá com medo do volume da chuva e do que poderia acontecer, mas não imaginava que o deslizamento pudesse atingir sua casa. Uma fissura se abriu na parte mais alta do Alto Padre Cícero, causando uma onda de lama que destruiu nove casas, a dela inclusa.
Um vídeo nas redes sociais mostra a velocidade da terra.
"Foram apenas quatro segundos até atingir a casa da minha mãe", conta Tainá.
Eles ainda não foram autorizados pela Defesa Civil a retornar à área e tentar recuperar algumas coisas dos escombros.