Morte de grávida no Rio tem evidências de homicídio pela PM

Representante da OAB acompanhou depoimentos de parentes de Kathlen Romeu e disse estar convicta da autoria por parte dos agentes

11 jun 2021 - 19h53
(atualizado às 21h06)

A família de Kathlen de Oliveira Romeu, morta na última terça-feira, 8, na comunidade de Lins de Vasconcelos, na zona norte do Rio, prestou depoimento nesta sexta-feira, 11, à Delegacia de Homicídios do Rio, na Barra da Tijuca (zona oeste), que investiga o caso. Uma representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) disse que o caso tem evidências de homicídio pela Polícia Militar.

"Eu preciso gritar por justiça por Kathlen. Não foi em vão. Não vai ser em vão. Ela foi a última. Gravem esse nome, não foi em vão", afirmou a mãe da vítima, Jaqueline de Oliveira Lopes, ao sair da delegacia. Kathlen, de 24 anos, era designer de interiores, trabalhava numa loja de roupas em Ipanema (zona sul) e estava grávida de 14 semanas. O bebê também não resistiu.

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A avó dela, Sayonara Fátima, que estava com a neta no momento em que ela foi baleada, também prestou depoimento, assim como o pai de Kathlen, Luciano Gonçalves, e o namorado dela, o tatuador Marcelo Ramos Silva.

A vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Nadine Borges, acompanhou os depoimentos e disse estar convicta de que houve um homicídio. "Foi muito chocante o que nós ouvimos, sobretudo da avó dela, que presenciou a cena do crime. O depoimento da avó só reforça os indícios de que houve homicídio por parte da Polícia Militar. Não há registro, no depoimento, de que houvesse confronto no momento. Apenas a existência de muitos tiros. O que ela disse é que ouviu muitos tiros e só viu policiais militares", contou Nadine.

Kathlen de Oliveira Romeu foi morta na última terça-feira (8)
Kathlen de Oliveira Romeu foi morta na última terça-feira (8)
Foto: Reprodução / Instagram

"A Polícia Civil vai ter que investigar isso com muita cautela, porque as evidências são muito fortes de um homicídio, de fraude processual (por supostamente terem alterado a cena do crime antes da realização da perícia), de crime de desobediência em relação à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal, que no ano passado proibiu a realização de operações policiais em favelas a não ser em situações extraordinárias). Essa operação configura uma afronta ao Supremo Tribunal Federal", afirmou a advogada.

"Nós não vamos descansar um segundo até esclarecer e responsabilizar quem está por trás desse comando e também esses agentes que atuaram dessa forma e mataram uma menina negra de 24 anos grávida. É mais um homicídio de uma pessoa negra pobre num território de favela nessa cidade", concluiu.

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O namorado de Kathlen pediu punição aos responsáveis: "As pessoas vão pagar, não só os policiais que estavam lá na hora e que dispararam contra ela, o comandante também, porque o policial não age sozinho. O comandante também tem que pagar", afirmou Silva. "Eu não tenho mais medo da morte, porque eu sei que quando essa hora chegar vou encontrar com ela e com meu filho", disse, muito emocionado, ao sair da delegacia.

A Polícia Militar afirma que policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) foram atacados por criminosos, quando estavam em uma localidade chamada "Beco da 14", e reagiram. Eles só souberam que Kathlen havia sido atingida quando o tiroteio terminou, sem que ninguém fosse preso.

A Delegacia de Homicídios da capital já ouviu cinco dos 12 policiais militares que participaram da ação. Segundo a polícia, o cabo Marcos Felipe da Silva Salviano disse ter trocado tiros com quatro criminosos, todos armados e pelo menos um deles portando fuzil, por volta das 14h15 da terça-feira.

A Polícia Militar do Rio afastou 12 policiais que atuaram na ação que terminou com a morte da jovem. Os PMs tiveram suas armas recolhidas para perícia - ao todo, 21 armas foram recolhidas.

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