As mortes pelo coronavírus já causam impacto nas populações de pequenas cidades do interior de São Paulo. Até a tarde da segunda-feira, 27, cinco municípios paulistas com menos de 10 mil habitantes tinham ao menos um óbito confirmado. De acordo com o presidente da Câmara de Caiabu, Genilson do Nascimento (PSDB), nas pequenas cidades o impacto das mortes é maior, porque todas as pessoas se conhecem. "É como se morresse alguém da própria família", disse.
Caiabu, com 4.191 habitantes, é a menor entre as 131 cidades paulistas que já tiveram pelo menos uma vítima fatal pela covid-19, segundo a Secretaria da Saúde do Estado. A morte de um pedreiro de 64 anos que ficou internado no Hospital Regional de Presidente Prudente foi comunicada pelo alto-falante da igreja matriz. O óbito aconteceu no dia 8 de abril e, no mesmo dia, o prefeito Dario Pinheiro (PSDB) decretou estado de calamidade pública e determinou toque de recolher das 19h às 6h. Os familiares - esposa e dois filhos - foram colocados em quarentena.
O comerciante Paulo César dos Santos, que há dez anos mantém um restaurante no centro da cidade, disse que não foi só a família do pedreiro que ficou em isolamento. "O pessoal todo se recolheu, até os idosos como meu pai, que são mais descrentes e não gostam muito de ficar fechados em casa. Ele era pessoa conhecida e a morte causou um susto." Santos está com o restaurante fechado desde o fim de março e só atende por delivery. "Um vírus vem lá da China e mata alguém aqui no interiorzão, numa cidade de 4 mil habitantes. É uma coisa absurda", disse.
Em Arandu, de 6.357 habitantes, a chegada da covid-19 causou comoção geral e sete dias de luto. Dois dias após a morte de sua mulher, de 55 anos, o presidente da Câmara, Ronaldo Beraldo, de 57 anos, também foi infectado e morreu no dia 5 de abril. Assim, a cidade se tornou a de maior letalidade pela doença no Estado. O casal, conhecido de toda a cidade, deixou dois filhos, um deles é Diego Beraldo, atual secretário da Cultura de Avaré. Ele não foi localizado pela reportagem.
O velório na Câmara, tradicional quando falece um político local, não pôde ser realizado. Em razão do protocolo do coronavírus, os corpos foram levados diretamente do hospital de Botucatu, onde houve os óbitos, para o cemitério municipal. "Registre-se o reconhecimento do histórico de relevantes serviços prestados à sociedade aranduense pelo presidente Ronaldo Beraldo em sua trajetória parlamentar", publicou a Câmara em seu site oficial. "O mais triste dessa doença é privar os familiares e amigos de uma despedida honrosa como ele merecia", lamentou o amigo Clóvis Arruda.
Em Santo Antônio da Alegria, cidade de 6.929 habitantes, na divisa com Minas Gerais, o vírus causou a morte de um morador de 57 anos. O assessor municipal Valdenir Rodrigues conta que o clima de consternação foi até maior quando a doença foi confirmada. "Todos sabiam que ele tinha problemas de saúde e já havia passado por internações. Por isso, acho que toda a cidade adivinhou qual seria o desfecho. Mas o povo está assustado. Agora todo mundo está usando máscara", disse.
O que mais chocou, segundo ele, é que o homem deixou uma filha portadora de síndrome de down, que agora está sob os cuidados exclusivos da mãe. "Ele também deixou um filho casado, que não mora na cidade", disse. No dia 24 de abril, a prefeitura de Santo Antônio da Alegria baixou decreto obrigando o uso de máscaras no comércio essencial. Um carro de som circula pelas ruas transmitindo orientações e pedindo às pessoas que fiquem em casa. Nesta segunda-feira, 27, as barreiras nas três entradas da cidade, que funcionam 24 horas, foram reforçadas.
Em Lavrinhas, de 7.260 moradores, o vírus atingiu fatalmente um idoso de 85 anos, no dia 16. Ele estava internado em um hospital de Cruzeiro, cidade da região. Como o resultado do teste para coronavírus não tinha saído, o velório foi aberto aos familiares e amigos. A prefeitura de Lavrinhas precisou identificar e alertar as 25 pessoas que velaram o corpo e acompanharam o sepultamento, em cemitério particular. Segundo o município, pelo histórico do paciente, não havia suspeita de que o caso pudesse ser da covid-19.
Em Iepê, de 8.259 habitantes, a doença matou um morador de 64 anos. Ele estava internado no Hospital Regional de Presidente Prudente e morreu no último dia 17. "Ainda não sabemos como o vírus apareceu, pois a cidade não tinha casos e ele não tinha viajado", disse a secretária de Saúde, Lenara Fernandes dos Santos. Segundo ela, o morador tinha histórico de doença cardiovascular crônica. O corpo foi enterrado sem velório no cemitério local. O irmão e o cunhado que tiveram contato com a vítima fizeram a quarentena e já estão liberados. Conforme a secretária, uma parte da cidade se assustou, mas muitos ainda não acreditam na doença. "Estamos pedindo o uso de máscaras, mas está difícil. Talvez precisemos obrigar", disse.