Morto na porta de hospital sofreu discriminação, diz família

Familiares do vigilante que morreu após ser vítima de suposta omissão de socorro em um hospital privado da zona leste de SP vão acionar CRM e Justiça para punir eventuais responsáveis

21 jul 2014 - 16h57
(atualizado às 19h42)
Segundo o cunhado do vigilante, Delcídio de Souza, o sentimento da família é de tristeza e muita revolta
Segundo o cunhado do vigilante, Delcídio de Souza, o sentimento da família é de tristeza e muita revolta
Foto: Alan Morici / Terra

A família do vigilante Nelson Santos, 48 anos, disse nesta segunda-feira que ele foi vítima de discriminação social e racial ao ter o atendimento negado em um hospital particular de Itaquera, zona leste de São Paulo, na noite da última quarta-feira. Santos morreu depois de passar mal e ser levado ao hospital pelo motorista e o cobrador de uma lotação na qual seguia para o trabalho. Em entrevista coletiva, familiares classificaram o caso como “uma sentença de morte”.

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As imagens do vigilante, negro, agonizando e se contorcendo de dor em frente ao hospital Santo Expedito, em Itaquera, foram parar na internet, onde repercutiram porque denotaram suposta omissão de socorro por parte de médicos e enfermeiros da instituição.

O caso é investigado pelo 53º DP (Parque do Carmo), onde familiares já prestaram depoimento. Testemunhas disseram à polícia que funcionários do hospital teriam se recusado a atender o paciente, já que ele não tinha convênio médico. Na entrevista de hoje, representantes da família e o advogado constituído para o caso, Ademar Gomes, disseram que vão acionar diretores e funcionários do hospital na justiça criminal e cível, na qual deverão requerer uma indenização por danos morais e materiais no valor de aproximadamente R$ 1,5 milhão, mais o pagamento de pensão a oito dependentes do vigilante – os filhos de 14, 12 e 10 anos, a mulher, uma enteada, uma irmã com problemas de saúde e as duas filhas dela. 

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"Foi puro descaso de classe social"

A defesa ainda vai protocolar uma representação acusando médicos de omissão de socorro, nos próximos dias, no Conselho Regional de Medicina (CRM).

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“O que houve foi a discriminação de um trabalhador, uma pessoa do povo, porque ali só atenderiam convênio e particular. Olharam para ele agonizando por 50 minutos, e, alegando que ele estava bêbado, (não o atenderam) por pura discriminação, puro descaso de classe social, racial, todo tipo de discriminação com quem mora na periferia e não tem recursos necessários para ser atendido”, disse o cunhado da vítima, o metroviário Delcídio de Souza, 57 anos.

Segundo o cunhado do vigilante, o sentimento da família é de “tristeza e muita revolta”. “O momento de contar isso (a morte do pai delas) para as crianças foi terrível, com um tentando consolar o outro. Não merecíamos”, disse. Sobre o porquê de Santos ter sido levado a um hospital privado, já que não possuía convênio, atestou: “Não escolhemos onde ter o mal súbito”.

De acordo com o metroviário e a mulher, a cabeleireira Roseli Ribeiro dos Santos de Souza, 41 anos, irmã da mulher do vigilante, o laudo preliminar do instituto Médico Legal (IML) apontou como causa da morte embolia pulmonar. Eles negaram que, em algum momento, Santos tenha apresentado problemas graves de saúde que justificassem o mal estar de quarta-feira. Como vigilante contratado e com bicos, o salário mensal de Santos informado pela família foi de R$ 2,7 mil.

“O processo será contra o hospital, na esfera cível, e, na cível e na criminal, contra os responsáveis por ele e o enfermeiro que teria negado atendimento. No CRM, faremos todos os esforços para que sejam tomadas providências contra essa omissão de socorro”, declarou o advogado da família, Ademar Gomes. “As imagens filmadas pelas pessoas que estavam lá mostraram que houve a falta de interesse em salvar uma vida, e isso é crime”, completou Gomes, para quem a pensão a ser arbitrada pela Justiça, em caso de condenação, deverá contemplar os dependentes e, no caso dos menores de 18 anos, até que completem 24 anos.

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Hospital abre sindicância e promete punição

Em nota, o hospital Santo Expedito informou que instaurou uma sindicância para apurar o caso e que, se apurada a responsabilidade de algum funcionário na situação envolvendo o vigilante, “não hesitará em punir com rigor os eventuais envolvidos”.

Por outro lado, o hospital também afirmou não corroborar com “qualquer tipo de omissão de seus profissionais” e salientou que “nunca se furtou em atender vítimas de acidente de trânsito, pessoas baleadas, pessoas em processo de infarto agudo do miocárdio e com acidente vascular cerebral, entre outras ocorrências, mesmo que desprovidas de convênio de assistência médica”.

Também na nota, o hospital acusou o condutor da lotação de ter agido “irresponsavelmente” ao deixá-lo lá, e não em um pronto-socorro. 

Fonte: Terra
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