O empresário Fernando Sastre de Andrade Filho foi denunciado pelo Ministério Público, nesta segunda-feira, 29, por homicídio doloso – quando há intenção de matar – e lesão corporal gravíssima. Ele é quem dirigia o Porsche que bateu no carro do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, de 52 anos, que morreu no local. O caso ocorreu no dia 31 de março, na Zona Leste de São Paulo.
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De acordo com a MP, além da denúncia, a promotora Monique Ratton se manifestou a favor da prisão preventiva do suspeito. O objetivo, justifica a promotora, é evitar que ele, "como já fez ao longo das investigações", influencie as testemunhas.
A denúncia aponta que Fernando Sastre bebeu em dois lugares antes de dirigir seu carro, fato constatado pela Polícia Civil durante a investigação, e que tanto sua namorada quanto um casal de amigos tentaram impedir que ele dirigisse o carro de luxo. No entanto, ele assumiu o risco quando pegou o veículo, mesmo alcoolizado.
"Na avenida, trafegou a mais de 150 km/h, atingindo um automóvel dirigido por um motorista de aplicativo, que morreu. A vítima que ia no banco de passageiros do carro de luxo teve ferimentos gravíssimos, ficando na UTI por dez dias, com perda de órgão. O denunciado só se apresentou à autoridade policial 36 horas depois da colisão, tendo deixado o local dos fatos com autorização dos policiais militares que atenderam à ocorrência", diz a nota do MP.
A promotora requisitou o compartilhamento de provas com a Promotoria da Justiça Militar para que os policiais militares respondam pelo "eventual cometimento de crime", por liberar o empresário após a mãe dele pedir. Agora, o Tribunal de Justiça de São Paulo deve analisar a denúncia e decidir se vai aceitá-la.
Câmeras gravaram liberação
Imagens registradas pelas câmeras corporais dos policiais militares mostraram que, inicialmente, os agentes evitaram que Fernando e sua mãe, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, deixassem o local do acidente quando perceberam os dois se retirando.
"O senhor era o condutor do carro?", questiona uma das PMs, que anda rapidamente em direção ao empresário, que neste momento já tentava deixar o local ao lado da mãe. "Você não pode tirar ele daqui assim, a gente precisa qualificar ele primeiro, para depois a senhora retirar", acrescentou a agente a Daniela.
A mãe de Fernando então afirma que queria apenas levá-lo com urgência ao hospital. Nesse momento, uma testemunha chega a dizer que viu o carro do empresário "passar voando" antes da colisão.
No vídeo, o motorista do Porsche está com a voz arrastada e tem dificuldade de responder algumas perguntas feitas pela PM. Em determinado momento, ele diz: "A gente estava saindo da festa, iríamos para minha casa jogar sinuca, do nada aconteceu um acidente horrível e aconteceu isso, eu não lembro mais de nada".
Após filho e mãe terem sido abordados, eles tiveram seus dados registrados pelos policiais, mas depois foram convencidos pela mulher de que ela levaria o filho sozinha ao hospital, resultando na liberação do condutor. "Pode ir", diz a PM.
Apesar do que afirmou aos policiais militares, Daniela não levou o filho para atendimento médico e o condutor do Porsche foi embora sem se submeter a um exame que poderia confirmar se ele havia consumido bebida alcoólica momentos antes da colisão, que foi registrada por câmeras de segurança.
Relembre o caso
No dia 31 de março, o empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, de 25 anos, conduzia um Porsche, avaliado em mais de R$ 1 milhão, quando bateu na traseira de um Renault Sandero. O acidente matou o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, de 52 anos, que diriga o carro popular.
A batida aconteceu por volta das 2 horas da manhã na Avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé, zona leste de São Paulo. Depois de colidir com o veículo de Ornaldo, Fernando fugiu do local. Ele estava com um amigo, o estudante de medicina Marcus Vinícius, no momento do ocorrido. O jovem ficou gravemente ferido e chegou a ser internado.
Já o motorista de aplicativo Ornaldo não teve a sorte de sobreviver à colisão. O condutor do Sandero até chegou a ser socorrido em parada cardiorrespiratória para o Hospital Tatuapé, mas morreu por conta de "traumatismos múltiplos".
Uma informação importante para as investigações é sobre o possível consumo de bebidas momentos antes da batida. Isso porque uma comanda a qual a TV Globo teve acesso mostra que o jovem chegou a gastar R$ 600 em consumo de bebidas alcóolicas em um restaurante da capital paulista pouco antes do acidente.
A emissora também divulgou imagens de câmera de monitoramento que registraram o momento em que a garçonete de um restaurante retira os copos de bebidas alcoólicas da mesa de Andrade Filho.
O empresário foi até o local com a namorada, o amigo Marcus e a companheira dele, Juliana. Depois de ficar três horas no estabelecimento, os dois casais seguiram para uma casa de pôquer. Segundo os depoimentos coletados pela Polícia Civil, eles ficaram cerca de 2h30 na casa de jogos, até que começou uma discussão na saída.
Para a polícia, Marcus e Juliana relataram que Fernando bebeu e que a discussão era para que ele não dirigisse, pois estava “alterado”. No entanto, o motorista do carro de luxo e a namorada negam a informação.