O Ministério Público de São Paulo informou que a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) pagava uma mesada para famílias de presos ligados à organização, apontou uma reportagem da Record TV.
O Ministério Público de São Paulo (MPSP) afirmou que a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) paga uma mesada para as famílias dos integrantes da organização criminosa que estão presos, conforme revelou uma reportagem exibida pelo programa Fala Brasil, da Record TV.
Informações confirmadas pelo MPSP ao Terra, um dos casos de família que recebe pensão da organização criminosa é de um homem condenado por um grande assalto a um carro-forte da Prosegur no Paraguai. O crime envolveu mais de 40 criminosos em abril de 2017. Ele foi identificado como sendo Edson Moreira Gomes.
De acordo com o promotor de Justiça Carlos Eduardo Targino da Silva, do MPSP, Edson já tinha envolvimento anterior com a facção criminosa, relatou ao Fala Brasil.
Gomes cumpre pena de 24 anos em presídio federal devido ao assalto e, ao fim de 2023, foi condenado a mais de oito anos de prisão por lavagem de dinheiro e associação a organização criminosa. Ele nega ter qualquer envolvimento com o crime organizado.
Uma investigação da Polícia Civil e da Polícia Federal em Minas Gerais descobriu um sistema de pagamentos de mesadas a familiares de membros da facção que estão presos por participarem de grandes roubos e atentados.
O esquema de lavagem de dinheiro por meio de pagamentos do PCC a detentos presos no sistema penitenciário federal, com depósitos mensais em contas bancárias de familiares foi identificado pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO) de Belo Horizonte em Minas Gerais, integrada pela Polícia Federal e Polícia Civil do Estado de Minas no âmbito da Operação Caixa Forte II.
A reportagem da Record afirma que o repasse era de cerca de R$ 400 mil ao ano para os familiares de membros da organização. Gomes, por exemplo, recebia pagamentos mensais no nome da esposa, que foi condenada.
Ela recebia ao menos R$ 1,5 mil por meio de depósitos que não era identificados e movimentou mais de R$ 100 mil sem demonstrar origem lícita do dinheiro.
A esposa de Gomes foi condenada a cinco anos de prisão em regime semiaberto por lavagem de dinheiro e ainda irá recorrer da decisão. Ela nega envolvimento com o grupo criminoso.
Sobre o caso de Edson, o MPSP afirma que o caso tramitou em Ferraz de Vasconcelos e diz respeito apenas aos pagamentos por meio de depósitos sem identificação, realizados pela facção, na conta bancária de Clemildes Soares dos Santos Gomes. "Os quais tinham por beneficiário Edson Moreira Gomes, preso na Penitenciária Federal de Porto Velho, seu esposo".
Os pagamentos eram nos mesmos valores e no mesmo padrão dos demais pagamentos em favor de beneficiários do esquema de lavagem de dinheiro em todo o país. Além disso, não foi apresentada justificativa para a movimentação bancária, seundo o MP.
Operação Caixa Forte II
De acordo com o MPSP, durante a Operação Caixa Forte II foram apreendidos documentos tais como fotografias de comprovantes de depósitos, planilhas de pagamentos e outros, que demonstravam a realização de depósitos mensais por parte da facção em favor de diversas pessoas por todo o país, indicadas por membros da facção presos no sistema penitenciário federal, que seriam os beneficiários finais dos referidos pagamentos.
"Esses depósitos e transferências possibilitavam a remuneração dos integrantes da organização que estão encarcerados no sistema prisional federal, os quais recebem valores no importe de R$1.500,00, R$3.000,00 ou R$4.000,00 mensais, conforme o motivo pelo qual foram encaminhados para o presídio federal", disse o Ministério Público em nota.
A prática revelou um esquema de lavagem de dinheiro realizado pela organização criminosa, que ocultava os valores recebidos por meio de crimes, fracionando os recursos ilícitos em depósitos de pequenas quantias, e enviando-os a terceiras pessoas, ligadas aos detentos e coautoras no processo de lavagem de dinheiro, até que as quantias atingissem os líderes da organização. Os criminosos indicavam pessoas relacionadas a eles para que recebessem os valores em contas bancárias.
A operação teve início em 2020, com o cumprimento de mais de 400 mandados de busca e apreensão, em mais de vinte Estados. O esquema funcionava com pagamentos em contas de familiares, que beneficiava centenas de presos no sistema penitenciário federal em todo o país.
Devido ao alto número de envolvidos, a operação foi dividida, tendo tramitado em Ferraz de Vasconcelos a ação penal que resultou na condenação de Edson Moreira Gomes e Clemildes Soares dos Santos Gomes em primeira instância. Ambos apresentaram recurso de apelação, que será analisado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.