Nº de roubos em SP atinge mínimo histórico, mas latrocínios e estupros crescem

Recorrência de crimes violentos aumenta percepção de insegurança, apesar da queda de delitos patrimoniais em 2024, divulgada pela gestão Tarcísio de Freitas. SSP destaca aumento do patrulhamento e da tecnologia

31 jan 2025 - 18h19
(atualizado em 4/2/2025 às 19h27)

Os roubos atingiram o menor patamar da série histórica, iniciada em 2001, no Estado de São Paulo. Foram 193,6 mil casos notificados no ano passado, diminuição de 15% ante as 228 mil ocorrências de 2023. Os homicídios também chegaram ao menor número desses últimos 24 anos, consolidando tendência de queda.

Em contrapartida, os casos de estupro subiram 0,45% e os de latrocínio, 1,8%. Na capital, a alta de vítimas de roubos seguidos de morte foi ainda maior, de 23,2%, conforme dados divulgados nesta sexta-feira, 31, pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos).

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A Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirma que a redução dos roubos e furtos resulta do "fortalecimento das ações de policiamento e da integração das forças de segurança". Destaca ainda o uso de "inteligência policial, tecnologia e a ampliação do efetivo policial, com o incremento de mais de 9 mil novos policiais". Segundo a pasta, essas ações também vão contribuir para a queda de latrocínios.

Após diminuir crimes patrimoniais, desafio da polícia é reduzir também a percepção de violência nas grandes cidades de SP
Após diminuir crimes patrimoniais, desafio da polícia é reduzir também a percepção de violência nas grandes cidades de SP
Foto: Felipe Rau/Estadão / Estadão

Nas últimas semanas, dois dos latrocínios de mais repercussão foram a morte de um jovem ao lado do namorado por uma dupla que queria os celulares em Pinheiros, na zona oeste, e o assassinato de um delegado por ladrões na Chácara Santo Antônio, na zona sul. Foram 170 vítimas no último ano, ante 167 no período anterior.

No ano passado, o próprio secretário da área, Guilherme Derrite, reconheceu que os delitos violentos, como o latrocínio, reforçam a percepção de insegurança na cidade. "Estamos reduzindo paulatinamente (os crimes), mas só vamos conseguir melhorar de maneira eficaz quando existir punibilidade no Brasil", disse, em setembro.

No caso dos roubos, 2024 foi não só o ano com o menor registro de casos em toda a série histórica, como também o primeiro a contar com menos de 200 mil registros desse tipo de crime. Para se ter parâmetro, chegaram a ser registradas 323,3 mil ocorrências apenas no ano de 2016.

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Os furtos também apresentaram queda no último ano, ainda que com redução menos acentuada. Foram registrados 555,8 mil casos de janeiro a dezembro, ante 576,2 mil em todo o ano de 2023, queda de 3,5% nos casos.

Na capital, os índices foram puxados para baixo com a expressiva queda de roubos nos bairros centrais, que viram no pós-pandemia avançarem a degradação e o espalhamento de usuários de drogas da Cracolândia, na região central.

Os homicídios caíram 3,5%: de 2,7 mil para 2,6 mil. Além de ser o menor número da série histórica, trata-se de patamar bem abaixo do registrado no fim da década passada, quando houve alta de mortes por conta de confrontos envolvendo membros de facções criminosas, mas a violência ainda chama a atenção.

Em novembro, o empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, de 38 anos, foi morto a tiros em plena luz do dia no Aeroporto Internacional de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo. Ele era delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC). A ação também resultou na morte do motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais, de 41 anos, que não resistiu após ser alvejado por um tiro de fuzil nas costas.

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Nesta quinta-feira, 30, a Corregedoria da Polícia Militar indiciou dez PMs presos por suspeita de participação no assassinato de Gritzbach. De acordo com as investigações, os agentes têm envolvimento com o crime organizado.

Motos e residências como alvo

Das 170 vítimas de latrocínio contabilizadas em todo o Estado no ano passado, quase um terço (53) foram mortas em ocorrências na capital.

Apesar de os casos serem variados, autoridades apontam que, em geral, o latrocínio hoje é um crime mais comum em ocorrências de roubos de moto, em que bandidos costumam agir armados, embora haja também casos relacionados a roubo a pedestres e invasões de residências.

Delegados ouvidos pelo Estadão dizem ainda que, entre os pontos de alerta, estão vias próximas ao início das rodovias Imigrantes e dos Bandeirantes.

Nesta semana, a Polícia Civil prendeu um homem considerado o principal suspeito de matar o delegado Josenildo Belarmino de Moura, de 32 anos, em assalto no dia 14. Moura estava de folga no dia do crime e caminhava pela Chácara Santo Antônio, usando camiseta, bermuda e chinelo. Ele foi alvejado com quatro tiros: dois nas costas, um no braço e outro na garganta. A vítima atuava como delegado havia apenas dois meses.

Em setembro, o delegado de classe especial Mauro Guimarães Soares, de 59 anos, morreu após ser baleado no peito durante tentativa de assalto na Vila Romana, zona oeste da capital. Ele caminhava com a esposa, também delegada, quando foi abordado.

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De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, o caso foi investigado pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), que relatou o inquérito policial à Justiça após a prisão de três suspeitos de envolvimento no crime, incluindo aquele que seria o autor dos disparos.

Estupros também apresentam aumento

No caso dos estupros, as ocorrências subiram 0,45%: foram de 14.514, em 2023, para 14.579, no ano passado. Esse tipo de crime chega ao maior patamar da série histórica.

Os feminicídios também atingiram o maior número desde que ocorrências desse tipo começaram a ser contabilizadas, em 2018. Foram 250 registros no último ano, alta de 13,1% em relação aos 221 casos contabilizados em 2023.

A SSP afirma que, em "relação aos crimes sexuais, que muitas vezes ocorrem em uma dinâmica familiar, as forças de segurança têm atuado não só na investigação e prisão dos autores, mas incentivando a denúncia dos agressores e a redução da subnotificação desses crimes".

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A secretaria diz ainda, em nota enviada à reportagem, ter ampliado os canais de denúncia e expandido em 87% o atendimento nos plantões policiais com 69 novas salas de Delegacias de Defesa da Mulher (DDM) 24 horas, além das 141 DDMs no Estado.

"Além das unidades físicas, o Estado investe em tecnologia para ampliar a proteção. A SSP mantém a Cabine Lilás da PM para o atendimento exclusivo às vítimas de violência doméstica e o aplicativo SP Mulher Segura, que já ultrapassou cinco mil downloads, oferece um botão de pânico às vítimas para ajuda imediata e permite o registro de boletins de ocorrência", afirma a pasta.

"O monitoramento de agressores por tornozeleira eletrônica também foi ampliado em 56,6%, reforçando a segurança das vítimas. Esses esforços refletiram no aumento das prisões em flagrante por feminicídio, que chegaram a 125 pessoas em 2024, um crescimento de 34,4% em relação ao ano anterior", acrescenta.

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