"Não tinha necessidade daquilo", diz namorada de fisiculturista morto em ação da PM

Os cinco policiais envolvidos na ação foram afastados e o caso está sendo investigado; caso ocorreu na Vila Andrade, na zona sul de São Paulo

4 nov 2022 - 05h10
(atualizado às 07h30)
Reinaldo Armando Vettilo Junior
Reinaldo Armando Vettilo Junior
Foto: redes sociais

O fisiculturista Reinaldo Armando Vettilo Junior, de 39 anos, foi morto no sábado, 29, após a Polícia Militar ser acionada para conter uma confusão desencadeada por uma briga conjugal em um condomínio na Vila Andrade, zona sul de São Paulo. O homem teve um desentendimento com a mulher e a colocou para fora do apartamento - ela estava apenas de roupas íntimas. Depois, discutiu com vizinhos que estavam em uma festa no hall do prédio, o que fez a confusão escalar.

Durante a ação, os PMs teriam disparado três tiros de arma de eletrochoque contra Reinaldo, e um dos agentes ficou de joelhos em cima do pescoço dele, segundo relatos. Desacordado, o fisiculturista chegou a ser socorrido, mas não resistiu. Conforme a Secretaria de Segurança Pública, os cinco policiais envolvidos na ação foram afastados e o caso está sendo investigado pelos órgãos especializados.

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Namorada do fisiculturista havia oito meses, a operadora de caixa Vitória Matias, de 22 anos, contou ao Estadão sobre a ação da polícia. Ela relata que estava acabando o expediente no fim da tarde, quando Reinaldo a convidou para ir ao apartamento dele. Ao chegar lá, eles se desentenderam. "Falei para a gente ir tomar um banho e ele disse para eu ir na frente, que ele logo ia", relembra.

Mas a briga continuou e Vitória foi colocada pelo companheiro para fora do apartamento. Ela vestia apenas roupas íntimas, já que estava prestes a entrar no banho. Vitória, então, procurou uma vizinha e recebeu ajuda para entrar em contato com a mãe. Já Reinaldo desceu para o hall do prédio - a hipótese principal é de que ele estava tentando encontrá-la. Depois, o fisiculturista se deparou com uma festa de halloween, onde se estranhou com vizinhos.

A polícia foi chamada para contornar a confusão e, conforme relato de Vitória, disparou três tiros de eletrochoque contra o fisiculturista na tentativa de contê-lo. Ao ouvir o barulho vindo de fora, Vitória desceu para o hall. "Comecei a gritar pedindo para não atirarem nele, que ele não fez nada com ninguém. Eu falava: 'Junior (como Reinaldo era conhecido), abaixa, se ajoelha, pelo amor de Deus, eles vão te matar aqui'."

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Após os disparos, Vitória afirma que um dos cinco agentes teria ficado ajoelhado sobre a barriga e o pescoço de Reinaldo por cerca de 15 minutos - um vídeo captado por vizinhos mostra uma parte dessa cena. Ele ficou desacordado após a abordagem da polícia. Foi socorrido, mas acabou morrendo.

"Não tinha necessidade daquilo tudo, ele já estava rendido quando os policiais chegaram. Era só ir lá e prender", disse Vitória. Ela conta que o namorado tinha sinais de embriaguez, mas reforça que ele não a agrediu e que chegou a colocar as mãos na cabeça durante a abordagem policial.

Segundo ela, o médico que atendeu Reinaldo após o resgate ser acionado disse à família que a morte teria se dado por asfixia mecânica. "O pescoço estava muito roxo", lembra. A polícia não confirmou essa informação e disse que as causas do óbito ainda estão sendo esclarecidas.

"Se eles não têm nada a esconder, se afirmam que foi conduta certa, que tinham treinamento para aquilo, que apresentem as câmeras e todos vamos saber se foi ou não uma conduta certa", critica Vitória.

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Ela tem um filho de dois anos, que chamava Reinaldo de pai, e cobra Justiça após o ocorrido. "A gente estava em um relacionamento tão gostoso, ele queria ter filho, a gente estava querendo morar junto. Tiraram de mim sonhos, planos. Meu filho chama por ele todos os dias e não sei o que falar para ele."

Policiais foram afastados, diz secretaria

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública informou que a Corregedoria da PM e o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) "investigam os fatos e todas as circunstâncias para cabal esclarecimento, não desprezando qualquer informação ou dados que possam contribuir para elucidação das questões de ordem penal ou administrativa".

Conforme a pasta, as imagens de segurança do condomínio que captaram a ação e as filmagens gravadas pelas câmeras dos uniformes dos cinco policiais envolvidos na ocorrência estão em análise pela Divisão de Homicídios. A PM apura os fatos por meio de Inquérito Policial Militar (IPM), que leva quarenta dias para sua conclusão. Os policiais envolvidos na ocorrência foram afastados.

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