"Cadê o fluxo agora?", perguntou um rapaz de blusa branca com listras verdes, bermuda jeans, carregando um saco de lixo com roupas. "Sei não. Tem uma parte ali, mas foi cada um para o lado", respondeu o interlocutor sem camisa, sentado na calçada da Praça Princesa Isabel, na região central de São Paulo.
Os primeiros desdobramentos da grande operação policial realizada na madrugada desta quarta-feira, 11, contra o tráfico de drogas na região central da capital paulista foram a dispersão e o espalhamento dos usuários e traficantes de drogas. A partir da Praça Princesa Isabel, foco da atuação de policiais civis, militares e da Guarda Civil Metropolitana, o chamado "fluxo" se dividiu em pequenas aglomerações.
A principal delas foi na Avenida Duque de Caxias, na esquina com a Avenida Rio Branco, exatamente em frente à praça. Cerca de cem pessoas ocuparam a calçada na altura do número 750. A movimentação causou momentos de tensão com o policiamento. Em pelo menos duas oportunidades, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Baep) se prepararam para o confronto, que não aconteceu. Também existia, até o fim da manhã, grande concentração de usuários na esquina das ruas Gusmões com a Triunfo, distante três quarteirões dali.
A situação mais comum, no entanto, foi a dispersão em que os usuários começaram a vagar pelas ruas próximas sozinhos ou em grupos pequenos. Na esquina das ruas Conselheiro Nébias e Glete, distante dois quarteirões da praça, um grupo de três dependentes instalou seus colchões e sacos pretos com pertences. Um deles foi é José Bernardo da Silva, de 32 anos, viciado em crack há 10 anos. Ele conta que ficou com medo da violência policial e decidiu se instalar lá. Não sabe para onde vai. Na alameda Nothmann, ainda mais distante, dois dependentes estavam sentados na calçada.
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O antigo endereço da Cracolândia, nas imediações da Estação Julio Prestes, foi uma opção vetada aos usuários. Policiais fizeram um bloqueio nas saídas da Avenida Rio Branco para impedir a volta dos usuários à região da estação da Luz.
O espalhamento trouxe medo e preocupação para vizinhos e comerciantes. Um salão de cabeleireiros na Helvetia decidiu abrir apenas meia porta do estabelecimento. "A gente fica com medo de arrastão, de eles entrarem para roubar tudo", diz o proprietário.
É a mesma angústia de uma concessionária de veículos, que viu o faturamento cair 80% desde que o fluxo migrou para a região. "A gente trabalha, mas trabalha com medo. Agora, ninguém sabe para onde vão", diz o vendedor. Nenhum comerciante quer se identificar.
Cerca de 650 policiais civis e militares realizaram nesta quarta-feira, 11, uma nova fase da operação contra o tráfico de drogas na região central da cidade. O foco da ação foi a praça Princesa Isabel, local para onde usuários e traficantes migraram no mês de março.
Por volta das 12, a situação na praça estava "calma", de acordo com avaliação de agentes da Polícia Civil no local. As equipes de zeladoria da prefeitura realizam grande limpeza na praça, retirando principalmente as barracas que, segundo os policiais, encobriam a venda de drogas.
De acordo com Alexis Vargas, secretário executivo de Projetos Estratégicos da Prefeitura de São Paulo, o objetivo da operação foi cumprir 36 mandados de prisão. Até 11h, já foram detidas 20 pessoas, que foram levados para o 77º DP, na região de Santa Cecília. Também foram apreendidos pacotes de drogas e balanças.