Quando a violência contra a mulher chega à polícia é porque tudo já deu errado antes: a educação, a saúde, a assistência social, a família. Muitas vezes, a polícia acaba sendo a porta de entrada para os casos, mas não pode ser a porta de saída. Para romper o ciclo da violência, a mulher precisa de ajuda psicológica, ter independência financeira e saber que ela não está sozinha.
A Lei Maria da Penha mudou a forma como o Estado passou a enxergar a vítima. Até então, não havia nada que deixasse claro que a mulher, apesar de ser maioria na sociedade, está sim mais vulnerável à violência pelo simples fato de ser mulher.
A legislação chega para chacoalhar essa visão antiga que existia, pensar em prevenir crimes e criar políticas públicas de proteção. Hoje, estudos indicam que 10% das mulheres deixaram de ser mortas após a lei. Então, tem surtido efeito.
O principal desafio é diminuir o número de vítimas, que ainda é alto. A pandemia mostrou isso.
Foi por causa das dificuldades impostas pelo isolamento que criamos, em abril de 2020, a Delegacia de Defessa da Mulher (DDM) online em São Paulo. Funciona 24 horas por dia, sete dias por semana. Sem sair de casa, ela pode registrar a ocorrência e mandar 'print' (imagem) com foto das lesões. Esse trabalho não substitui as delegacias físicas, mas anda lado a lado. Hoje são 138 DDMs, dez delas 24 horas. Até 2019, só tínhamos uma.
*Jamila Ferrari é coordenadora das Delegacias da Mulher