O dia histórico do Rio de Janeiro com uma câmera na cabeça

Do capítulo novo sendo escrito em uma noite que a capital fluminense jamais vai esquecer

18 jun 2013 - 14h37
(atualizado às 16h48)
Vídeo mostra clima de tensão e caos em protesto no centro do Rio
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Quando cheguei à Candelária para registrar o inicio da concentração para o grande manifesto programado por toda a noite de segunda-feira, 18 de junho, constatei que os próprios manifestantes já tinham tido a ideia que eu até então achava brilhante para a cobertura: colocar uma câmera, dessas da moda, na cabeça, com o devido acessório de fixação, para o protesto que o Rio de Janeiro jamais iria esquecer. 

Quando abordava alguns dos simpatizantes da causa, que teve o aumento das tarifas de ônibus pelo Brasil como estopim dos manifestos, a maioria dizia que queria fazer o próprio registro dos fatos. Uma delas, a estudante Júlia Jacobina, me disse que "suas imagens eram para fugir do que relatam as grandes corporações, como Rede Globo e Folha de S. Paulo". Aliás, repórteres da emissora trabalharam no protesto à paisana, gravando a passagem sem a canopla da Globo.

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O fato é que, ao colocar minha própria câmera na cabeça, trago, então, o relato exclusivo do Terra da manifestação no Rio de Janeiro, no dia em que 100 mil pessoas saíram pelas ruas do centro da cidade. O dia histórico em termos de aliança entre a sociedade, "do não tenho partido", como os manifestantes tanto gritavam, vestidos de branco, foi o que trouxe danos ainda imensuráveis causados por uma minoria. 

Foi a noite também que a Polícia Militar (cerca de 70 homens) foi encurralada na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Mais representativo impossível, enquanto o silêncio do governador Sérgio Cabral (PMDB), com agenda cancelada para esta terça-feira, permanece. Ele já avisou que, por enquanto, não dará declarações, após ser o principal alvo da fúria, ao lado do prefeito Eduardo Paes (PMDB), que apurou ser legítimo o ato de protestar, mas criticou os que usam da violência.  

As imagens estão acima, em cortes secos, para que cada um reflita sobre a violência desta causa, e sobre a necessidade real de atuação de um grupo minoritário que acredita que sem violência e terror não existe a possibilidade de atingir o poder público. O dia foi histórico justamente pelo fato de promover profunda reflexão em todos os segmentos da sociedade. Para o bem, e para o mal. 

Levei máscara, óculos de natação, descolei vinagre facilmente, mas esqueci que, muito além de desviar de balas de borracha e gás de pimenta e lacrimogêneo, é extremamente recomendável você andar em grupos. Após flagrar uma verdadeira demolição de uma agência bancária do banco Itaú, na ânsia de mandar uma foto do local, devastado, fiquei um pouco para trás de um grupo de fotógrafos que eu acompanhava na rua da Assembleia, perpendicular ao caos instalado na Assembleia Legislativa do Rio, a Alerj. 

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Um grupo de quatro jovens na faixa dos 20 anos me abordou sobre o fato de eu estar registrando as imagens deles promovendo o quebra-quebra. Quando tentei argumentar, um deles me atingiu na boca do estômago, o celular, que estava quase enviando a foto caiu e eles correram. Perda material que nem se compara com os feridos, por estilhaços, por munição real, ou por uma pedrada, como o policial do registro em imagem, e o colega e fotógrafo Ernesto Carriço, do diário O Dia, com um corte na cabeça que fez o sangue escorrer. 

O Ernesto foi companheiro de curso do Exército, justamente para situações como essa de guerra campal. Só que ao invés dos morros, a guerrilha foi estritamente urbana. E por mais que os conselhos até viessem à tona de como se proteger num conflito, você não deixa nem um momento de ter bem claro na mente que está exposto. A imprensa está exposta. Todos estão. Está sendo tudo na base do "cada um pague o seu preço". 

Depois que até os bombeiros ficaram no fogo cruzado entre manifestantes e Tropa de Choque, certamente se detecta que o Estado não está sabendo como conduzir sua política de segurança pública num momento tão vital para o seu povo.

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Fonte: Terra
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