RIO - Os advogados que representam a família do congolês Moïse Kabagambe, assassinado no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), em 24 de janeiro, criticaram nesta segunda-feira, 14, a condução do inquérito sobre o crime pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. O congolês é representado pela Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ).
Segundo os advogados da OAB-RJ, até agora, a defesa e a família não conseguiram ver a íntegra das imagens captadas pelas câmeras de segurança do quiosque onde ocorreu o homicídio. O temor exposto pela defesa do congolês é de que o indiciamento pela Delegacia de Homicídios da capital e a consequente denúncia do Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ) não respondam questões-chave que ainda pairam sobre o caso, especialmente sobre a participação de outros personagens, suscitada por imagens vazadas para a imprensa. No início deste mês, a Justiça do Estado do Rio decretou a prisão temporária, depois convertida em preventiva, de três homens ligados ao quiosque por envolvimento no espancamento que provocou a morte do congolês.
Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da OAB-RJ, Álvaro Quintão, um inquérito com conclusão superficial manteria a família em risco permanente e inviabilizaria a aceitação da oferta da Prefeitura do Rio de Janeiro de gerir o quiosque onde o crime foi cometido. Quintão afirmou que os responsáveis pelo inquérito vêm fazendo um vazamento seletivo das imagens.
Consultada sobre as críticas, a secretaria estadual de Polícia Civil não havia se manifestado até a publicação desta reportagem.
Reunião. Nesta segunda-feira, a OAB-RJ intermediou uma reunião de parentes do congolês e lideranças da comunidade congolesa no Rio com senadores, deputados federais e estaduais, vereadores e uma representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Para o presidente da OAB-RJ, Luciano Bandeira, o que aconteceu a Kabagambe é também expressão do extermínio da juventude negra, uma chaga do Rio de Janeiro. "A Ordem está atuando desde o primeiro momento no auxílio jurídico à família, o que é uma tradição da entidade. Este caso é emblemático, pois o drama pessoal desta família expõe o racismo estrutural da sociedade brasileira e a precariedade da vida dos imigrantes congoleses no Rio, sem condições de acesso a emprego, educação e moradia", afirmou Bandeira.