O policial militar dono das armas usadas no atentado a duas escolas em Aracruz (ES), que é o pai do atirador, lamentou, em entrevista ao Estadão, o crime cometido pelo filho e pediu desculpas a cada uma das famílias das vítimas. O PM, que teve a identidade preservada, também afirmou que "quer que a Justiça seja feita". Os ataques cometidos pelo adolescente de 16 anos na manhã da última sexta-feira, 25, deixaram 4 mortos e 12 feridos,
"Meu mais profundo sentimento de pesar. Sei que a tragédia que ceifou várias vidas foi cometida por meu filho, um filho criado com todo amor e carinho. Mas não consigo entender o que o levou a cometer esse atentado. Se eu pudesse, pediria para cada família o perdão para meu filho, apesar de saber que, diante de tamanha dor, isso é algo impossível. Gostaria de poder pedir o perdão e dar minha explicação para cada parente das vítimas, mesmo que fosse em vão", disse o pai do autor dos disparos.
Segundo o pai do adolescente contou ao Estadão, o filho não demonstrou nenhum tipo de emoção após ter cometido os crimes. O policial militar também relatou que chegou a ligar preocupado para o filho quando soube em um grupo de WhatsApp do ocorrido nas escolas, mas que até então nunca havia imaginado que ele era o autor dos disparos.
"Chegamos em casa uns 30 minutos depois disso [do crime] e nos deparamos com ele. Ele estava bem tranquilo, parecia que nada tinha acontecido. Eu perguntei se tinha aparecido alguém ali, se tinha visto alguma coisa de violência. Ele falou que não. A gente tinha que sair para ir a um lugar próximo, chamado Mar Azul, a uns 5 km de Coqueiral. Era mais ou menos 11 horas e falei: ‘Vamos almoçar logo para a gente ir lá, resolver o que temos que resolver e voltar para casa’", disse o PM.
"Nós almoçamos, eu, minha esposa e ele. Ele almoçou tranquilamente. Quando a gente chegou em Mar Azul, depois de uns cinco ou dez minutos, uma viatura da Polícia Militar chegou e conversou comigo. Falou que já tinha todas as suspeitas de que o filho seria o atirado, devido ao carro que ele utilizou. Era um outro carro meu, que eu tinha deixado na garagem. E quando eu cheguei em casa, o carro estava na garagem, tudo certinho", acrescentou o pai do adolescente.
Segundo o policial militar, o garoto negou o crime em um primeiro momento, mas depois acabou confessando. De acordo com ele, a mãe do rapaz desmaiou na hora que o filho admitiu ter sido o autor dos atentados.
Nas redes sociais, o PM foi acusado de ter preparado o filho para o atentado, o que alegou ser uma "acusação absurda". De acordo com o policial, ele vem sofrendo com montagens e acusações falsas, que estão acarretando ameaças de morte contra ele. Por segurança, ele e a esposa deixaram a cidade de Aracruz.
De acordo com o pai, o adolescente fazia tratamento psiquiátrico. Para o PM, apesar do menino ter alegado à polícia que o motivo do crime foi ter sofrido bullying há 2 anos, quando não estudava em nenhum dos dois colégios atacados, ele não acredita na versão do filho.
"Ele falou que foi por causa do bullying que ele sofreu dois anos atrás mais ou menos. Mas a gente que tem um pouco de experiência nessa área de segurança sabe muito bem que ele está mentindo. Ele tá querendo cobrir alguma outra coisa maior. Eu acredito que ele esteja querendo encobrir as pessoas que o manipularam. Eu ainda não consegui entender a motivação para ir na escola e fazer aquela brutalidade. O bullying não justificaria. O delegado ainda perguntou se ele tinha alguns amigos nisso. Ele falou que foi ele sozinho. Mas a gente não acredita", disse ao Estadão.
O policial também afirmou que o filho deve ser punido pelo que fez e alegou que não pretende evitar a punição que sofrerá por ter falhado na proteção da arma do Estado que mantinha em casa.
"Estão achando que eu sou um grande monstro que treinei meu filho, que dei minha arma para ele, que induzi ele a fazer isso. Estamos arrasados. [...] Eu quero contribuir o máximo possível para que a Justiça seja feita. Eu não quero nenhum tipo de impunidade. Eu não quero que o meu filho fique impune não. Quero que a justiça seja feita. Não quero que seja feita vingança, quero que a justiça seja feita", destacou.