No primeiro feriado após sua abertura, o Parque Augusta Prefeito Bruno Covas ficou praticamente lotado. Na tarde desta segunda-feira, 15, o novo endereço de lazer da região central registrou cenas mais comuns apenas nos parques mais tradicionais, como Villa-Lobos, Ibirapuera e Tiquatira. Visitantes com biquínis e sungas num clima de praia no gramado; famílias fazendo piqueniques e shows musicais e circenses.
A ocupação desta segunda-feira confirma a boa aceitação da população. Com dez dias de inauguração, o parque se tornou uma alternativa para quem queria aproveitar o dia quente, mas não viajou no feriado da Proclamação da República. Já dá para dizer que a lista de opções de "praias paulistanas", aqueles locais que compensam a falta da faixa litorânea na capital, ganhou mais um endereço.
No parque, o espaço mais disputado foi o amplo gramado da entrada principal da rua Caio Prado. O calor que chegou aos 27 graus foi a senha para estender a canga e até colocar biquíni, como a estilista Yumi Kurita. "O parque oferece uma boa infraestrutura. A gente olha essa grama e já dá vontade de deitar", diz a moradora da região central de 30 anos. A referência ao litoral está também nas várias cadeiras de praia espalhadas pelo gramado. Há quatro anos em São Paulo, o cearense Alberto Loureiro, de 28 anos, estava feliz só pelo fato de poder usar sunga em um parque na capital. "Acho que a gente se mais livre aqui. Ninguém estranha. Em outros parques, não é muito comum", opina.
Ela e um grupo de cinco amigos levaram vinho, com taças e tudo, queijo, brownie, torrada e sanduíche. O gramado não virou só uma praia adaptada, mas também a própria mesa do bar. Ainda com receio da contaminação pelo novo coronavírus, mesmo com a queda acentuada dos casos e mortes causada pelo avanço da vacinação, Tamiris Melo diz que ainda é mais seguro se confraternizar ao ar livre. "A pandemia ainda não acabou. A gente pode fazer aqui o que faria no bar, mas estando mais protegidos", diz a empresária de 32 anos.
Num cantinho mais discreto, à sombra, a manicure Sabrina Silva também caprichou no cardápio: torta caseira de frango, refrigerante e até um docinho de sobremesa. Ela conseguiu reunir várias gerações da família: a bisavó Pedra Pereira Silva, de 82 anos, a avó Conceição Gomes, ela própria e os filhos. É a primeira vez que todos se reúnem após o avanço da vacinação contra covid-19. "A gente ficou muito tempo em casa. Precisava sair um pouco", diz dona Pedra, que deixou a cidade de Dom Eliseu (PA) há dois anos por causa da pandemia e não voltou mais.
A Prefeitura informou que até as 19h15 desta segunda-feira, 21.540 pessoas visitaram o parque. No domingo, foram 16.127 e, no sábado, 10.390
O Parque Augusta vai muito além do gramado principal. O antigo bosque e os caminhos centenários, datados da instalação do Colégio Des Oiseaux nos anos 1910, foram preservados. Muita gente estava apenas circulando. Como o aposentado Carlos Bezerra, de mãos dadas com a mulher Carolina Bezerra, ambos de 67 anos. Mas ainda tem coisa faltando no parque. O boulevard que ligaria o espaço à Praça Roosevelt (pela Rua Gravataí) ainda não está pronto.
Com 23 mil metros quadrados, o local tem um anfiteatro ao ar livre com arquibancada e um palco de madeira. Era ali que a artista circense Isabel Luana Silva ensaiava malabarismos com um bambolê. Ela deixou o semáforo da rua Caio Prado com a Avenida da Consolação para "sentir o clima" dentro do parque. Ela ganhou R$ 40 reais do lado de fora até o meio da tarde. Nos dias bons, ganha o dobro. Mas afirma que tem de aguentar xingamentos racistas. "Já me chamaram de macaca de circo", conta. Dentro do parque, ela se sente mais segura, mas pretende se apresentar apenas quando estiver com o figurino completo de artista. A primeira impressão foi boa: ela foi aplaudida por quem acompanhava seu treino.
A banda "Mustaches & os Apaches" apresentou seu repertório folk passando o chapéu entre cerca de 50 pessoas numa das apresentações. No currículo, a banda ostenta apresentações no Sesc Vila Mariana e na Virada Cultural de 2014. E pode somar mais aplausos do Parque Augusta.
As crianças ganharam espaços específicos, como o tradicional parquinho, que também esteve lotado, mas também improvisaram outros espaços, o que é próprio da infância. As pedras que ornamentam algumas trilhas entre o gramado viraram matéria-prima para as esculturas da Giovanna, de 6 anos, com a ajuda do pai, Leonardo, engenheiro de 32 anos - eles não quiseram dar os nomes completos.
Até os pets puderam brincar - o espaço tem um cachorródromo que também ficou cheio no meio da tarde. "Acho o espaço ótimo, aberto. Ele está se divertindo muito", disse o fotógrafo Olavo Martins, de 35 anos, ao lado do advogado Filipe Marquezin, de 35 anos. "Ele" é o pinscher Calvin Klein era o que dava mais trabalho.
Várias razões levaram esse enxame de gente para o parque, na opinião dos frequentadores. Muitos visitantes se queixaram da falta de segurança no parque mais próximo dali, na Praça Roosevelt. Outros queriam área verde - o que não encontram no Minhocão. Outros acham longe o Ibirapuera. Os meses de isolamento social impostos pela pandemia também influenciaram.
Novo espaço na cidade
A instalação do Parque Augusta foi determinada no Plano Diretor de 2002. O terreno era utilizado como estacionamento e quase se tornou empreendimento habitacional e comercial. Após décadas de mobilização de moradores e associações do entorno, a Prefeitura fez um acordo com as construtoras proprietárias, que haviam descumprido algumas determinações do local. Os custos de cerca de R$ 11 milhões, nas contas da Prefeitura, foram pagos pelas duas construtoras. Em troca, ambas ganharam créditos para erguer prédios em outras áreas da cidade sem a necessidade de pagar taxa adicional.
Por conta dessa batalha, o fotógrafo Murilo Yamanaka estava orgulhoso quando tomava sol no gramado. Ele participou do movimento pela criação do Parque Augusta e afirma que se sente feliz ao ver o gramado cheio de gente.