'PCC já matou juiz e 70 policiais. Isso é mais grave do que o crime no aeroporto', diz procurador

Para Marcio Sérgio Christino, morte de empresário em Guarulhos não representa aumento da ousadia de facção criminosa

9 nov 2024 - 03h14
(atualizado às 07h31)
Vídeo mostra momento em que empresário delator do PCC é executado no Aeroporto de Guarulhos
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Para o procurador de Justiça do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) Marcio Sérgio Christino, o assassinato do empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach na sexta-feira, 8, no Aeroporto de Guarulhos, se confirmado que tenha sido praticado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), não representa mudança de patamar ou aumento expressivo da violência da facção. Christino é autor do livro Laços de Sangue, sobre a história do PCC.

Peritos examinam corpo de empresário baleado no Aeroporto de Guarulhos.
Peritos examinam corpo de empresário baleado no Aeroporto de Guarulhos.
Foto: Polícia Civil/Divulgação / Estadão

"A facção matou o juiz Machado (Antonio José Machado Dias), em Presidente Prudente, em 2003, em frente ao fórum; matou o Ismael Pedrosa (diretor da Casa de Detenção em 1992, quando 111 presos foram mortos por policiais militares) em 2005; matou 70 policiais durante os atentados de 2006, e o que aconteceu agora é que espanta? Tudo isso é mais grave do que o crime desta sexta-feira", avalia Christino. "Parece que o pessoal esqueceu (dos crimes anteriores)."

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Peritos examinam corpo de empresário baleado no Aeroporto de Guarulhos.
Foto: Polícia Civil/Divulgação / Estadão

Para o procurador, inclusive, a ação no Aeroporto de Guarulhos não foi sofisticada. Uma dupla, com dois fuzis, realizou pelo menos 27 disparos, conforme a perícia. Gritzbach foi atingido em várias partes do corpo, como cabeça, tórax e braços.

"O aeroporto é um lugar importante, mas não é uma agência bancária, que tem segurança reforçada. É um lugar aberto, não tem um policiamento especial", avalia Christino. "O PCC apenas cumpriu o que sempre fez, inclusive de forma bem parecida com crimes anteriores: matou alguém que havia traído a facção."

Marcio Sérgio Christino é autor do livro 'Laços de Sangue', sobre a história do PCC.
Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO / Estadão

O empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach era delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do PCC. Entre os bandidos, dizia-se que havia um prêmio de R$ 3 milhões pela cabeça do delator.

Gritzbach fechou acordo de delação premiada, homologado pela Justiça em abril. As negociações com o Ministério Público Estadual duravam dois anos e ele já havia prestado seis depoimentos. Na delação, falou sobre o envolvimento do PCC, a maior organização criminosa do País, com o futebol e o mercado imobiliário. O empresário também deu informações sobre os assassinatos de líderes da facção.

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Tráfico de drogas

Gritzbach já havia sido alvo de um atentado na véspera do Natal de 2023, quando um tiro de fuzil foi disparado contra a janela do apartamento onde morava, no Tatuapé, na zona leste, mas o autor errou o alvo.

Para o procurador Marcio Sérgio Christino, é descabida a comparação entre o Brasil e o México quanto à criminalidade. "Lá existe um domínio territorial, é diferente daqui. O Rio de Janeiro vive uma situação específica, mas nos outros lugares (do Brasil) essa comparação não tem cabimento", afirma.

"O que o PCC quer é o monopólio do tráfico de drogas no País, expandir seus domínios. Mas não podemos comparar com o que ocorre em outros países, o México, a máfia italiana. A máfia nasceu junto com o Estado, na Itália. Aqui o PCC não existe desde a proclamação da República, é bem recente. Não dá pra comparar", avalia.

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