Antes mesmo de a Anistia Internacional lançar na tarde desta quarta-feira (25) seu relatório anual "O Estado dos Direitos Humanos no mundo", com um capítulo especial dedicado ao Brasil, e com o Rio de Janeiro em destaque pelo crescimento do número de homicídios e de violência policial, o governador Luiz Fernando Pezão deu sua resposta.
Durante evento no metrô da linha 4, Pezão disse que prefere que a própria comunidade dê sua resposta. “Prefiro que as pessoas das comunidades falem se ouve avanço ou não. Cheguei aqui em fevereiro de 2007 e não se entrava e nem andava no (Complexo do) Alemão. Tive semana passada lá, visitando obras que estamos fazendo. É preciso ver a vida real dos 12 mil policiais lutando para trazer a paz em território em guerra há 30, 40 anos. Queria ver associações de direitos humanos se manifestando antes, quando as pessoas viviam sob o jugo o tráfico. Jornalistas foram mortos condenados pelo tráfico”, afirmou.
O relatório cita, por exemplo, o caso do pedreiro Amarildo de Souza, sequestrado e morto na Rocinha por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora. “O Brasil é um dos países onde mais se mata no mundo", afirma Átila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil.
"Cultivamos a ideia de um País pacífico, mas convivemos com números de homicídios que superam, inclusive, situações onde existem conflitos armados e guerras. É inadmissível que haja cerca de 56 mil vítimas de homicídios por ano, a maior parte composta de jovens, e este não seja o principal tema de debate na agenda pública nacional", conclui.
Pezão diz que esses índices já diminuíram no Rio. “No Dona Marta, local da primeira UPP, não tem um homicídio há seis anos. Houve avanço significativos. A cidade do Rio já chegou a ter uma taxa de mortalidade de 43 por 100 mil. Hoje está em 20, 22 no Rio. Está bom? Não. Quero chegar a 10”, disse Pezão, que criticou os que esquecem que a polícia também é vítima.
“Não acho normal matar um policial”, disse o governador que pede que o Congresso Nacional endureça as penas de criminosos. “O criminoso mata um policial e sai da cadeia em quatro anos. Tem menor que já apreendemos nove vezes. O Congresso tem que discutir o que a sociedade quer”, disse, afirmando que já telefonou ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do seu partido, pedindo para tirar a discussão do papel.
O relatório da Anistia Internacional ataca a política de segurança pública no País: “A militarização da segurança pública - com uso excessivo da força e a lógica do confronto com o inimigo, em especial nos territórios periféricos e favelas - tem contribuindo para a manutenção do alto índice de violência letal no país. O relatório final da Comissão Nacional da Verdade tem importante papel em estabelecer como o legado da ditadura impacta na violência policial de hoje e em propor reformas para assegurar uma segurança pública baseada na defesa dos direitos humanos.” O relatório cita também a violência policial contra manifestantes durante a Copa do Mundo de 2014 e a violência contra jornalistas e a liberdade de imprensa.
Apesar do relatório, Pezão afirma que não vai recuar em sua política. “Acredito na política de pacificação, na política de proximidade. Nada vai nos fazer recuar. Vamos contratar mais policiais, treiná-los melhor. Vamos fazer uma grande capacitação dos policiais de UPPs nos próximos meses”, disse o governador, que pretende que a segurança seja um dos legados para a população após os Jogos Olímpicos. “Não quero segurança apenas em grandes eventos. Segurança tem que ser para sempre”, afirmou.
O governador recebe na tarde desta quarta-feira no Palácio Guanabara, moradores do Complexo da Maré, que na segunda-feira fizeram um protesto contra a violência policial na comunidade. “Vou receber a todos e ouvir o que eles têm a dizer, como sempre faço. Protesto sempre é válido. Só não vamos permitir que fechem vias e tirem o direito de ir e vir de outras pessoas”, afirmou. Nesta terça-feira o Governo confirmou que até o fim de junho a Maré vai começar a ganhar sua Unidade de Polícia Pacificadora em substituição ao exército.