A Polícia Militar de São Paulo responsabilizou na noite desta quinta-feira o Movimento Passe Livre (MPL) pela depredação de agências bancárias e de uma concessionária de carros importados na marginal Pinheiros, praticada por mascarados. A corporação se manifestou em entrevista coletiva no Quartel da PM, na Luz (centro de SP).
O MPL organizou um ato contra a Copa do Mundo e pela tarifa zero nos transportes que terminou em vandalismo, sem que houvesse, no entanto, qualquer intervenção da PM. Além disso, ninguém foi preso.
De acordo com o comandante do policiamento na capital, coronel Leonardo Torres Ribeiro, o MPL enviou ontem à PM um documento no qual pedia que a corporação se mantivesse afastada do ato. No documento, o MPL afirma que entende que “os movimentos sociais devem ter autonomia para promover sua própria segurança”.
“Acompanhamos à distância, respeitando o manifesto e o anseio do Movimento Passe Livre”, disse o coronel Pinheiro. “Atribuímos, sim, ao MPL a responsabilidade por essa depredação. Eles que formalizaram esse pedido de afastamento da Polícia Militar”, completou.
A PM admite que pode ter demorado na ação, já que a Tropa de Choque só se deslocou para as proximidades da concessionária horas após o início das ações de vandalismo, com imagens da depredação de agências bancárias na avenida Rebouças já captadas pelo helicóptero Águia.
“Não fomos ingênuos (em confiar no MPL). A demora foi no deslocamento do efetivo que estava nas proximidades, se é que isso pode ser chamado de demora”, disse o coronel.
No ofício encaminhado ao secretário, o MPL expões as razões pelas quais pede distância "da presença ostensiva da PM" durantes os protestos. "Citamos como exemplo principal o ato do 15 de Maio, organizado pelo Comitê Popular da Copa de São Paulo, que transcorria sem conflitos até que provocações pela grande proximidade de manifestantes e policiais deflagrou uma brutal repressão e o fim da manifestação com menos de 15 minutos de ato", diz o texto do MPL.
Ao contrário do que foi observado em outros protestos, desta vez a PM não se posicionou ao lado dos manifestantes, e o monitoramento foi feito à distância. Questionado sobre a oscilação no modo de agir da corporação, o coronel Ribeiro disse que a PM aguarda uma regulamentação para manifestações.
"A Polícia Militar vai realmente atuar com padronização a partir do momento em que tivermos uma regulamentação do direito à manifestação, a partir do momento em que houver uma padronização, por que está pendente esse regramento jurídico", afirmou.
Apesar de o ofício do MPL ter sido endereçado ao secretário Fernando Grella, o comandante do policiamento na capital descartou a necessidade de comunica-lo sobre a ação da PM no protesto.
“Não há por que incomodar o secretário com um episódio desse. A polícia deu um voto de confiança ao movimento, mas vamos ter cautela nessas solicitações”, afirmou Ribeiro. Segundo ele, uma integrante do MPL manteve contato com a PM durante o ato, relatando a situação vigente. “Nosso último contato com ela foi na avenida Rebouças”, disse, para concluir: “Ela foi avisando que a situação estava sob controle e que eles tinham responsabilidade. Depois ela sumiu.”
Sobre as agressões de policiais do Choque contra dois jornalistas, ocorridas após a dispersão de manifestantes e black blocs, o comandante resumiu: “Toda e qualquer irregularidade deve ser investigada. Estamos à disposição para ouvir os profissionais”, encerrou.
Representantes do MPL foram procurados pelo Terra após as declarações da PM, mas disseram ter sido informados sobre elas pela reportagem. O movimento ficou de se pronunciar a respeito.