Polícia Civil investiga elo entre ataques em Botucatu com ações financiadas pelo PCC

Ação seguiu o mesmo modo de operação de um bando altamente especializado que invadiu bancos em maio, em Ourinhos

30 jul 2020 - 13h59
(atualizado às 18h56)

A Polícia Civil vai investigar o elo entre a quadrilha e ações do PCC. Os ataques em Botucatu, conforme policiais ouvidos pela reportagem, seguiram o mesmo modo de operação de um bando altamente especializado que invadiu bancos em maio, em Ourinhos, a 183 quilômetros da cidade. Na ocasião, os criminosos usaram explosivos para roubar uma agência bancária e também trocaram tiros com a Polícia Militar.

Até o início desta tarde, a polícia já havia recuperado cinco carros blindados usados na ação, a maioria do modelo Range Rover. Também foram recuperados malotes com dinheiro e armas (fuzis). Não foram informados detalhes do material apreendido. Diligências policiais continuam por toda a cidade e arredores. Praticamente todos os setores do município cancelaram suas atividades em razão do clima de insegurança nas ruas e diversos relatos sobre ações de captura pela cidade. Ao longo da madrugada, a polícia confirmou ao menos cinco pontos espalhados pelo município, em que trocou tiros com criminosos. Em uma dessas, dois policiais foram feridos, sem risco de morte. Um assaltante foi morto já em um outro cerco, na entrada da cidade, pela manhã.

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Segundo a Polícia Civil, ao menos 150 agentes da corporação, PM, delegacias e batalhões especializados e até a cavalaria estão nas ruas em busca de fugitivos. Ao menos dois casos de moradores feitos reféns por ladrões em busca de carros foram confirmados na madrugada: um caso em um estacionamento e, outro, em uma residência. Não houve feridos. Para fazer a observação de ações suspeitas, a força-tarefa policial também utiliza dois helicópteros da PM e um drone.

Imagens compartilhadas nas redes sociais mostram moradores sendo feitos reféns durante ação criminosa
Imagens compartilhadas nas redes sociais mostram moradores sendo feitos reféns durante ação criminosa
Foto: Reprodução / Estadão

Durante coletiva de imprensa, o comandante de Policiamento do Interior-7, coronel Aleksander Toaldo Lacerda, confirmou que foi acionado um plano de contenção assim que viaturas da PM foram queimadas em frente ao 12º Batalhão, com mobilização das PMs de cidades vizinhas e cerco nas saídas do município, para evitar confrontos na área urbana. Devido ao bloqueio, assaltantes tiveram de abandonar carros e fugir a pé por áreas de mata. Foram deixados para trás e apreendidos sete fuzis calibre 762 e 556, um fuzil ponto 50, uma metralhadora 9mm, artefatos explosivos e recuperada parte do dinheiro roubado, em valor não informado.

O secretário estadual da Segurança Pública, João Camilo Pires de Campos, disse na coletiva que a resposta policial aos ataques na cidade foi um exemplo de ação coordenada de combate ao crime organizado. Ele não quis relacionar o assalto a uma suposta reação de quadrilhas especializadas a ações contra o tráfico que estão ocorrendo em outras regiões paulistas, mas ressaltou que o panorama mostra haver um enfrentamento ao crime organizado. "Nós nunca apreendemos tanta droga no Estado quanto de janeiro a junho deste ano. Estamos dando uma pancada dura no crime. Nesta noite também houve uma apreensão de itens que poderiam ser usados em roubo a bancos na região de São José dos Campos", informou, sem passar mais detalhes.

Segundo o delegado Seccional da Polícia Civil de Botucatu, Lourenço Talamonte, equipes especializadas em investigações de roubo a bancos e o Deic também se mobilizaram. A relação com uma quadrilha que promove assaltos semelhantes pelo Estado, como em Ourinhos no último mês de maio, é tratada como uma hipótese. "Nenhuma hipótese é descartada".

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Conforme a Polícia Civil, na madrugada, os criminosos foram flagrados fugindo do Banco do Brasil, na região central. O alerta foi ligado após duas viaturas serem incendiadas na entrada do Batalhão da Polícia Militar. Reforços foram acionados pela corporação, e vieram das cidades de Bauru, Avaré, Piracicaba e Sorocaba. Ao menos um caminhão em chamas foi deixado pela quadrilha próximo ao pedágio da Rodovia Marechal Rondon para dificultar a chegada de reforço policial a Botucatu.

Ao longo da madrugada e já ao amanhecer, chegaram reforços também do Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia), Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), Deic (Departamento Especial de Investigações Criminais), Força Tática e esquadrão antibombas do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), entre outros. Em duas agências, foram deixadas dinamites, recolhidas pelo grupo antibombas. Houve detonação pelo bando apenas no Banco do Brasil, que ficou parcialmente destruído.

"A situação está muito tensa. Eu vim trabalhar com medo, a prefeitura informou que estava dispensando o pessoal, mas me senti na obrigação pois trabalho no Balcão da Cidadania e presto informações a muitos munícipes. Muitos deles são idosos, então é importante eu estar aqui. Mas a prefeitura está praticamente vazia, e a cidade também. Muitos setores liberaram os trabalhadores. Tem polícia por todo canto, Rota, até da Polícia Rodoviária", disse o servidor público Bruno Furlan, de 20 anos.

REFÉNS

Gerente do Iguaçu Hotel, que fica a duas quadras das agências invadidas, Vinícius Vieira tem como hóspede um dos primeiros reféns da quadrilha, que prestava serviço de reparo de vidros à noite na agência do Itaú-Unibanco, quando ocorreu o ataque.

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"Ele estava lá dentro e percebeu que seu amigo tinha sumido. Foi verificar e aí eles apareceram, o fizeram refém e falaram para tirar a camisa. Falavam que era para ficarem tranquilos, que só queriam dinheiro. E contou que, numa distração dos assaltantes, saiu correndo e voltou para o hotel", revelou.

O amigo também mantido refém só foi libertado depois, também sem camisa, e acolhido por duas mulheres que passavam de carro pelas ruas da região. A intenção dos criminosos era manter pessoas reféns para usá-las como "escudos humanos", caso a polícia flagrasse o bando em ação, o que não acabou acontecendo.

Imagens mostram caminhão em chamas na rodovia Marechal Rondon, uma das entradas da cidade
Foto: Reprodução / Estadão

Funcionários de uma farmácia da região também foram mantidos reféns por alguns momentos pelo mesmo motivo. A reportagem não conseguiu contato com os trabalhadores abordados na agência do Itaú, e seus nomes serão preservados.

Devido ao clima de medo na cidade, a Prefeitura, além de adotar uma espécie de toque de recolher, pedindo para as pessoas ficarem em casa, também suspendeu o funcionamento das unidades básicas de saúde. Em comunicado no seu Facebook, a Secretaria Municipal de Saúde informou que a medida se fez necessária para proteger a população e servidores e também em decorrência de instabilidade nas redes de energia elétrica e internet.

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BANCOS

Em nota, o Itaú Unibanco, que teve uma agência alvo de criminosos, lamentou o ocorrido e informou que nenhum funcionário ou cliente foi ferido. "A unidade 0223 está fechada temporariamente para reparos e os clientes que necessitarem de atendimento presencial poderão se redirecionar à agência 7398, no bairro Cidade Alta. Contudo, o Itaú reforça a orientação para que os clientes usem os canais digitais para efetuar operações", disse o comunicado.

O Banco do Brasil, cuja agência de Botucatu foi a mais danificada nos ataques, informou em nota que não abriu nesta quinta-feira "após ataque criminoso do tipo novo cangaço". Segundo o BB, houve danos estruturais em parte da unidade pelo uso de explosivos.

A instituição também confirmou que recebeu perícia do esquadrão anti-bombas e que equipes de engenharia e manutenção foram deslocadas para o local para avaliação dos danos e procedimentos de limpeza. "O BB trabalha para a normalização do atendimento no menor espaço de tempo, mas ainda não é possível fixar prazo para sua normalização".

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