Policial é suspeito de ter matado jovem por engano no RN

Investigações indicam que Giovanne Gabriel foi confundido com um assaltante que tomou o veículo de um parente do militar

19 ago 2020 - 18h39

NATAL - Um policial militar é apontado como o principal suspeito pelo assassinato de Giovanne Gabriel de Souza Gomes, de 18 anos, ocorrido no dia 5 de junho deste ano na Região Metropolitana de Natal. Conforme os delegados da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) informaram em coletiva de imprensa nesta quarta-feira, 19, as investigações indicam que o jovem foi confundido com um assaltante de carros, que horas antes havia assaltado o veículo de um parente do militar que supostamente teria executado o jovem. Esse policial, preso por agentes da Polícia Civil do Rio Grande do Norte, não teve a identidade revelada e foi recolhido ao Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, em Natal, onde deverá cumprir prisão temporária.

Conforme detalhado pelo delegado Márcio Lemos, diretor da DHPP/RN, Giovanne Gabriel andava de bicicleta a caminho da casa da namorada, no município de Parnamirim, vizinho a Natal, quando foi abordado por policiais que ocupavam uma viatura da Polícia Militar do Rio Grande do Norte (PMRN).

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Segundo relatado, o jovem tinha as mesmas características físicas - estatura, cabelo e cor da pele - do verdadeiro autor do assalto, posteriormente identificado e preso. Giovanne então teria sido colocado na viatura, deixando para trás a bicicleta, o aparelho celular e um par de tênis. Ele foi levado à zona rural de São José de Mipibu, também na região metropolitana de Natal, onde foi executado. O corpo foi encontrado dias depois, em estado de decomposição, com as mãos amarradas e um tiro na cabeça.

"A gente efetuou a prisão de um policial militar que está no contexto investigativo da autoria. A gente vai terminar, no prazo de 30 dias da prisão temporária, as demais condutas e individualizar a participação de cada um", relatou o delegado Márcio Lemos, um dos responsáveis pela investigação do caso, que teve repercussão nacional e envolveu até mesmo um pedido de empenho feito pela governadora Fátima Bezerra (PT/RN) nas redes sociais à DHPP para uma célere elucidação do homicídio. A morte de Giovanne Gabriel, jovem negro e morador da periferia de Natal, ocorreu em meio aos atos mundiais do movimento Black Lives Matter.

O crime

Conforme detalhado na coletiva de imprensa, o roubo do veículo do parente do policial envolvido na morte de Giovanne Gabriel aconteceu no dia do desaparecimento do jovem, 5 de junho passado. A viatura da Polícia Militar, pertencente ao 8º Batalhão, que é responsável pelo patrulhamento ostensivo de uma região distinta da qual estava no momento da abordagem, condução e crime foi apreendida pela Polícia Civil e passará por perícia, com o objetivo de identificar resquícios de material genético de Giovanne Gabriel.

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"A lógica e o desenvolvimento dos fatos indicam que ele foi colocado na viatura e levado até o local onde o corpo foi encontrado, e lá teria sido morto, na mesma manhã do roubo. Essa viatura não deveria estar no local", ressaltou o delegado Cláudio Henrique, também da DHPP.

As provas colhidas apontam o envolvimento de agentes da segurança pública, disseram os delegados. "Hoje, a gente conseguiu identificar o motivo, identificar a forma, e estamos encaminhando para identificar completamente a autoria. Foi um trabalho investigativo bastante complexo, que envolveu a participação da Polícia Militar, sem a qual a gente não lograria êxito", destacou Henrique.

Os investigadores descartaram a possibilidade de participação de Giovanne Gabriel no assalto ao veículo do parente do policial militar. "Esse crime terminou se desenrolando com o óbito do garoto. Não há nenhuma prova do envolvimento do garoto. Nós identificamos um dos autores. Nós anulamos que seja o Gabriel. O veículo roubado foi localizado e recuperado, levado à Delegacia", explicou Claudio Henrique.

Serão ouvidos em breve os depoimentos dos demais policiais militares que ocupavam a viatura que foi usada na ação que culminou no assassinato do jovem.

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'É duro cortar na carne'

O titular do Comando do Policiamento do Interior, Cel Castelo Branco, da PMRN, participou da coletiva de imprensa. "A Polícia Militar participou ativamente das investigações da Polícia Civil. A Polícia Militar não compactua com nenhuma conduta que não seja dentro dos princípios da legalidade e que, paralelamente à investigação da Polícia Civil, nós abriremos um procedimento interno através de sindicância e, posteriormente, inquérito policial militar para também apurar as circunstâncias do fato", disse.

O coronel detalhou, ainda, que o policial militar se encontra à disposição da investigação, devidamente resguardado no Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, onde foi ouvido pelos delegados. "É muito duro cortar na própria carne, mas temos que fazer o nosso trabalho. Condutas desabonadoras de policiais militares ou quaisquer outros servidores públicos, elas não são compatíveis com os cargos ocupados", reiterou o comandante.

Sobre o uso da viatura da PMRN para uma ação com interesses particulares de um policial militar e seus familiares, o coronel Castelo Branco foi enfático. "Não é comum a viatura do 8º Batalhão se deslocar para outra área de patrulhamento. Será apurada a responsabilidade por esse caso também".

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