Policial Militar que atirou em suspeito pelas costas em SP é preso

Vinicius de Lima Britto será encaminhado ao Presídio Militar Romão Gomes nesta sexta, 6, após audiência de custódia; reportagem não conseguiu localizar a defesa do agente

6 dez 2024 - 10h29
(atualizado às 17h06)

O policial militar Vinicius de Lima Britto, que executou um jovem de 26 anos no bairro Jardim Prudência, na zona sul de São Paulo, foi preso preventivamente na manhã desta sexta-feira, 6. Segundo o governo de SP, após audiência de custódia, o agente será encaminhado ao Presídio Militar Romão Gomes, conhecido como Barro Branco, zona norte da capital paulista. Ele é o segundo policial militar envolvido em casos de violência na capital paulista preso nesta semana.

O PM estava de folga e atirou pelas costas do rapaz, que tinha furtado pacotes de sabão em um mercado. Gabriel Renan da Silva Soares foi alvejado ao escorregar na porta do estabelecimento. A prisão dele foi decretada pela Justiça na quinta, 5, após pedido o Ministério Público.

Publicidade

O Estadão tenta contato com a defesa do policial. No boletim de ocorrência, ao qual a reportagem teve acesso, o PM afirma que agiu em legítima defesa.

No pedido do MP, o promotor Rodolfo Justino Morais destacou a gravidade do caso e apontou que o PM agiu com crueldade e sem justificativa, utilizando a arma da corporação. "Verifica-se que o denunciado praticou homicídio qualificado, delito hediondo que gera medo e desassossego na comunidade local."

O documento ainda cita o histórico do agente e considera um risco que ele seja mantido em liberdade. "Este não é o primeiro caso de morte provocada pelo denunciado. Em apenas 10 meses de atividade policial, já esteve envolvido em outras três mortes em circunstâncias semelhantes, o que demonstra sua alta periculosidade e o risco concreto que sua liberdade representa para a sociedade."

O caso aconteceu no último dia 3 de novembro, mas as imagens de câmeras de segurança só foram divulgadas no início desta semana. Após a repercussão, a Secretária da Segurança Pública disse que o PM foi afastado das atividades operacionais e que o caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). As gravações foram divulgadas inicialmente pelo portal g1 e, posteriormente, obtidas pelo Estadão.

Publicidade

Policial disparou ao menos 11 tiros

As imagens de câmeras de segurança mostram que Gabriel entra no mercado por volta de 22h45 de blusa vermelha e pega ao menos quatro pacotes de sabão. Ele então se dirige para a porta, mas, ao tentar sair correndo com a mercadoria, escorrega em um pedaço de papelão colocado por ali por conta das chuvas que atingiram a cidade naquele dia.

Enquanto estava pagando uma compra no caixa, Vinicius percebe a movimentação estranha e saca uma arma de fogo da cintura logo após Gabriel cair no chão. O policial militar, então, efetua vários disparos quando a vítima já está na área do estacionamento do mercado. Segundo informações preliminares, foram ao menos 11 tiros em poucos segundos.

Conforme o boletim de ocorrência, o policial militar afirmou que Gabriel teria colocado a mão dentro da blusa, "como se estivesse armado", e ainda teria dito explicitamente que estava com uma arma de fogo. O agente afirma que isso o teria obrigado a efetuar os disparos. Um motociclista de jaqueta preta, que estava próximo, se apressa para correr para longe dos disparos.

'Foi execução, não tem outro nome', diz pai da vítima

"Foi execução, não tem outro nome para isso. Tinha treze furos no corpo do meu filho", disse ao Estadão o pai de Gabriel, o motorista Antônio Carlos Moreira Soares, 54 anos. Segundo ele, a família só teve acesso aos vídeos da ocorrência nesta semana, por meio de um advogado que os obteve junto à Polícia Civil. Só então eles entenderam melhor as circunstâncias da morte de Gabriel.

Publicidade

"Ele infelizmente era um dependente químico, e deu para ver pelas imagens que ele tinha furtado alguns produtos, não estou falando para ninguém ignorar isso. Mas, que o policial o pegasse e o levasse preso, que cumprisse a lei", disse. Ele cobra responsabilização do agente da PM. "Nada vai trazer meu filho de volta, mas nós queremos que ele (policial) seja julgado pelo que fez."

Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações