Porto Alegre: dia tem tensão, prisões, depredações e acaba com "debate"

Jornalista é agredido por PM sem identificação; comandante diz que corporação não tem dinheiro para comprar identificações

7 set 2013 - 17h09
(atualizado às 19h04)
Grupo invade a avenida Loureiro da Silva, onde estavam sendo realizados os desfiles de 7 de setembro
Grupo invade a avenida Loureiro da Silva, onde estavam sendo realizados os desfiles de 7 de setembro
Foto: Daniel Favero / Especial para Terra

Porto Alegre teve um dia de tensão, prisões e depredações com a série de manifestações que foram organizadas por diversas entidades em diferentes pontos da cidade. Um grupo, composto por professores, partidos políticos e membros do Bloco de Lutas e Black Bloc, chegou a invadir a avenida Loureiro da Silva, onde ocorria o desfile de 7 de setembro.

O Grito dos Excluídos ocorreu em frente ao Mercado Público e outro grupo se reuniu, às 9h, na praça Argentina, que fica próxima do local onde ocorreram os desfiles. Não houve confronto com a polícia, que realizou patrulhas e sobrevoou o céu da cidade com helicóptero desde as primeiras horas do dia.

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Na avenida Loureiro da Silva, os manifestantes, muitos com os rostos cobertos, gritavam pelo fim da Polícia Militar, e provocavam os militares que estavam no local. No momento da invasão do desfile, um grupo de alunos do Colégio Militar chegou a ser vaiado por membros do Centro dos Professores do Estado (Cpers), que estavam em meio à manifestação, além de manifestantes mascarados terem tentado impedir que fotógrafos registrassem a pichação de muros.

Os bloqueios da polícia fizeram com que os manifestantes saíssem da Loureira da Silva em direção à prefeitura, e pelo caminho depredaram duas agências bancárias – uma do Itaú e outra do Banco do Brasil – e viraram lixeiras na avenida Salgado Filho. 

Foi quando a situação ficou mais tensa com a chegada da Tropa de Choque e cavalaria. Um manifestante se recusou a sair da rua e foi preso pela polícia por desobediência. Durante a detenção, um repórter teve a câmera e a mão chutadas por um policial que não estava identificado, além de outra jornalista ter relatado ameaças por parte da polícia.

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Black Bloc durante protesto em Porto Alegre
Foto: Daniel Favero / Especial para Terra

A polícia justificou que “não tinha dinheiro para comprar a identificação de todos os policiais”, conforme afirmou o comandante do policiamento metropolitano, coronel Silanus Serenito Oliveira Mello, já irritado com as indagações feitas pela imprensa. “Qualquer excesso deve ser comunicado à corregedoria”, disse.

Acuados pela polícia, os manifestantes se reuniram na esquina democrática, mas apenas os mascarados e com escudos faziam frente à Tropa de Choque. Os integrantes do Bloco de Lutas gritavam palavras de ordem na rua dos Andradas, protegidos da ação da polícia. Mas o efetivo policial era tamanho que os manifestantes resolveram recuar para a prefeitura. 

Porto Alegre: dia tem tensão, prisões, depredações e acaba com "debate"
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Eles voltaram a se reagrupar no terminal Parobé, e seguiram para o parque Farroupilha (Redenção), onde resolveram ”ocupar” uma barraca do Exército montada por militares da reserva. Após uma breve negociação, os manifestantes foram autorizados a ficar no local, desde que nada fosse depredado. Eles permaneceram lá até as 14h50, discutindo basicamente sobre anarquia, veganismo e outras causas, e deixaram o local pacificamente. 

Antes do início do protesto, dois skinheads foram presos portando cinco facas e duas soqueiras na avenida João Pessoa. Eles foram abordados pela polícia e encaminhados para o 9º Batalhão da Polícia Militar.

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Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus. A mobilização surtiu efeito e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas – o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.

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A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. "Essas vozes precisam ser ouvidas", disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Fonte: Terra
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