“O governador recentemente deu um reajuste de 17% aos secretários estaduais, e aos professores, dará 10% aos que fizerem a prova de mérito. Será que o mesmo tratamento é dado aos dois? Os secretários farão prova de mérito para conseguir reajuste?”
O desabafo é de um professor da rede estadual de ensino da zona oeste de São Paulo. Com 50 anos, lecionando Filosofia, ele foi um dos 1.500 professores, segundo a Polícia Militar, que decidiram na tarde desta sexta-feira manter a greve iniciada há uma semana. A assessoria de imprensa da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo) disse que 40 mil participaram do ato.
Como na sexta passada, a categoria realizou hoje sua assembleia no vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp), de onde saiu em marcha, sob forte chuva, para a Praça da República – onde fica a sede da Secretaria Estadual de Educação.
Além de um índice de reposição de perdas da ordem de 75,33%, os professores pedem também uma nova modalidade de contratação de temporários, um máximo de 25 alunos por sala, com o desmembramento de salas superlotadas, e a implementação de jornada do piso. Aumento do vale-transporte e do vale alimentação também estão na pauta dos grevistas.
Dos cerca de 230 mil professores da rede estadual, a Apeoesp estima que 59 mil aderiram à paralisação, entre capital, Grande São Paulo e interior.
“A gente tem pedido para que o governo reconsidere muitas coisas; por exemplo, temos salas com 67 alunos matriculados, o que gera o fechamento, quando superlota, e a troca troca de escolas com os alunos. Fora que há hoje uma falta de apoio generalizada ao professor – não são só giz e lousa; não adianta entregar tablete para o aluno, isso não vai resolver. O professor precisa ter condições de trabalho para dar continuidade ao que esses equipamentos oferecem”, afirmou um professor de química, também da zona oeste da capital, da mesma forma que o amigo, sob anonimato. “A gente é reprimido depois”, justificou.
Indagado sobre a declaração o governador Geraldo Alckmin (PSDB) logo após a deflagração da greve, semana passada – para o tucano, a situação configura “a mesma novela de sempre” - , o professor de filosofia definiu: “O governador tinha que levar bem a sério essa questão, porque, se todo ano tem greve do professor no governo dele, alguma coisa está errada”, definiu.
“A faixa básica de salário dos meus colegas é de R$ 2.300; um adicional de mestrado paga 15%, e o de doutorado, mais 5%. Tem categorias que o adicional de doutorado pagar 40% sobre o salário. Como o governo quer que o professor da rede estadual estude nessas condições?”, encerrou o professor de química.
Em nota, a secretaria estadual de Educação pediu que os alunos compareçam às aulas, apesar da greve, uma vez que “a Apeoesp não representa os mais de 230 mil professores da rede, que devem comparecer às aulas, de maneira costumeira".
Em janeiro, o governador promulgou aumento de 4,7% em seu próprio salário – que passou de R$ 20.662 para R$ 21.631 -, abaixo da inflação de 12% medida pelo IPCA, em um ano, no do vice, Márcio França (PSB) – foi de R$ 19.629 para R$ 20.549 -, e percentual de 17,8% nos salários de 25 secretários estaduais – passaram de R$ 16.529 para R$ 19.648.