Um pequeno grupo de mascarados jogou pedras nas viaturas da Polícia Militar durante o protesto contra o aumento nas tarifas de transporte em São Paulo, por volta das 19h20 desta sexta-feira, iniciando um tumulto e confronto com os policiais, que responderam com bombas de efeito moral. Até o momento, 51 pessoas foram detidas.
Os vândalos, que usavam camisetas para esconder o rosto, jogaram ainda sacos de lixo no meio da rua, espalhando detritos pela via, atearam fogo em alguns objetos, pixaram pontos de ônibus e quebraram bancos e concessionárias de carros.
Eles tomaram a frente do protesto, deixando os integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) para trás, na rua da Consolação, próximo ao cemitério.
A polícia informou que, dos detidos, 30 foram encaminhados ao 78º Distrito Policial, 13 para o 4º DP e 8 para o 2º DP.
Protesto
O protesto começou às 17h, no Teatro Municipal, no centro, de onde todos saíram em direção à praça do Ciclista, na avenida Paulista. De acordo com informações da Polícia Militar, a passeata conta com cerca de 2 mil pessoas. No evento do Facebook, cerca de 50 mil haviam confirmado presença.
A PM informou que estava com pelo menos 800 homens e 50 viaturas, além do helicóptero Águia. Eles usaram, até a confusão, a tática de "acompanhamento aproximado", que consiste em deslocar os policiais - incluindo os da chamada "tropa do braço" - para andar ao lado dos manifestantes.
Outros protestos já foram marcados para os próximos dias em outras cidades do País.
Críticas
"Os méritos dos avanços políticos, especialmente em relação à cultura, em São Paulo, não são exclusivos do Haddad. Fazer brincadeiras nas redes sociais sobre prefeito gato, prefeito isso ou aquilo, não faz dele progressista de fato. Em junho de 2013, por exemplo, ele apoiou a ação violenta da polícia. Agora temos esse aumento".
O depoimento é de Anabela Gonçalves, 34 anos, uma das manifestantes do primeiro protesto de 2015 contra o aumento da tarifa do transporte público na cidade. Assim como diversos outros participantes do ato, realizado na tarde desta sexta-feira, ela não tira a responsabilidade do prefeito - aclamado na web por tocar guitarra, se arriscar no grafite e praticar outras atividades que deixaram a juventude em êxtase - no recente reajuste anunciado na tarifa de ônibus da capital, que passou de R$ 3 para R$ 3,50. Apesar de o governo do Estado também ter aumentado as tarifas de trens e metrôs para o mesmo valor, os manifestantes se concentraram em críticas à prefeitura.
Bruno Gomes, 28, técnico de administração, tem opinião semelhante. Para ele, que pega ônibus todos os dias para ir e voltar do trabalho e optou por usar uma simbólica camiseta com os dizeres "Haddad = Kassab = Maluf", o preço e a qualidade do transporte na capital paulista são "ridículos" se comparados com outra capitais do mundo.
"Sempre temos várias reivindicações a fazer, mas hoje a pauta é só essa. Podemos ter um transporte mais barato que atenda melhor", afirmou.
Questionado em entrevistas anteriores a respeito do aumento da tarifa, o prefeito Fernando Haddad (PT) se defendeu citando a manutenção dos valores dos bilhetes únicos (mensal, semanal e diário), o reajuste abaixo do índice da inflação e a adoção de tarifa zero para estudantes de baixa renda. Mas até mesmo integrantes do Partido dos Trabalhadores discordam desses argumentos.
"Haddad não poderia ter feito isso. Ele deve criar uma empresa pública para o transporte urbano e tirar o lucro dos empresários. O cartel de São Paulo tem lucro acima das outras empresas do setor. Uma auditoria já mostrou isso", disse Barbara Corrales, membro do diretório estadual do partido. "Não tem nada de incoerente em eu estar aqui. Quem vota no PT é quem pega ônibus, não é o empresário", completou.
Heudes Cássio da Silva Oliveira, porta-voz do Movimento Passe Livre (grupo que organizou o ato e o mesmo que coordenou as principais manifestações de junho de 2013), tem opinião parecida.
"Haddad alega passe livre para estudantes de baixa renda, aumento abaixo da inflação, manutenção dos bilhetes mensal e semanal. Mas as empresas do transporte recebem mais do que o necessário, é isso que tem que ser cortado", afirmou.