Pesquisa da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de São Paulo mostra que a quantidade média de usuários de drogas que frequentam o "fluxo" - região da Cracolândia, no centro da capital paulista, onde os dependentes químicos se concentram - mais do que dobrou nos meses de abril e maio de 2017 em comparação aos mesmos meses de 2016.
O levantamento, divulgado parcialmente na quinta-feira pela secretaria, constatou uma média de 1.861 pessoas frequentes no fluxo, um crescimento de 160% em relação ao mesmo período do ano passado, quando a primeira contagem foi feita com a mesma metodologia. O estudo completo deve ser publicado nos próximos dias.
Das 139 pessoas entrevistadas pela pesquisa, 44,21% fizeram referência aos conflitos familiares (perdas, divórcios, violência e abandono) como motivadores para passarem a frequentar o fluxo. No levantamento, 44% disseram querer parar o uso de drogas - o fator mais associado com a motivação de interromper o uso é já ter participado de outros tratamentos.
Mulheres
A pesquisa mostra que o percentual de mulheres que frequentam a região dobrou, de 16,8% em 2016 (119 mulheres), para 34,5% em 2017 (642 mulheres). Segundo o levantamento, 14,3% das mulheres estavam grávidas no momento da entrevista. Aquelas que tiveram gestações anteriores apontaram que enfrentaram diversos problemas, como filhos abaixo do peso (100%), filhos prematuros (67%), abortos (21%), natimortos (21%) e passagem pela UTI (21%).
A pesquisa revelou ainda que 44,1% das mulheres sofreram algum tipo de abuso físico ou sexual na infância; 70,6% disseram ter sofrido violência física na Cracolândia; e 40%, que fizeram uso de drogas injetáveis.
Perfil
O levantamento do perfil dos usuários de drogas da Cracolândia mostra nem todos os frequentadores da Cracolândia são usuários do crack, há 15% que dizem ser usuários de álcool e 13% que não usam nenhuma das substâncias.
Entre os dependentes químicos da região, mais da metade (66,4%) nunca esteve em situação de rua antes de usar drogas; 74% estavam em suas casas ou de familiares antes de ir para a Cracolândia; 42% disseram não ter com quem contar em situação de emergência e, dos que têm, 57,6% apontaram só poder contar com a própria família.
O estudo utilizou uma amostra de 139 usuários, a maior já obtida com essa população. Segundo a secretaria, este é o primeiro estudo que avaliou de forma aprofundada as características sociodemográficas, de vulnerabilidade social, de rede de suporte social, padrão de uso de substância e uso dos serviços disponíveis com essa população. A pesquisa foi feita com consultoria do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud).
"Esta pesquisa valida nossas ações e fortalece tecnicamente nossa atuação para acolher, tratar e devolver a dignidade para os dependentes químicos da região da Luz", disse o secretário da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro. "Vamos dar continuidade nas ações, pois é um problema complexo e que requer tempo".