A comissão montada para avaliar as denúncias de violação de direitos humanos na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) elaborou um relatório em que pontua os principais casos ocorridos na universidade. Entre os problemas apurados estão violência sexual, abuso moral, coação, discriminação de gênero e orientação sexual, intolerância étnica e religiosa, e consumo excessivo de álcool e drogas. As informações são da Folha de S. Paulo.
De acordo com o jornal, que obteve acesso ao documento, as soluções apontadas incluem proibição de bebidas destiladas, de festas "open bar" (em que o consumo é livre mediante pagamento de ingresso) e de venda para quem apresentar sinais de embriaguez.
Os eventos mais preocupantes, segundo o texto, são as festas de recepção de calouros, em que há "intenso consumo de álcool" e "situações de risco". Ele diz ainda que "a violência sexual ocorre de forma repetida" na unidade e o "abuso moral é prática constante", assim como "o consumo excessivo de drogas lícitas, ilícitas e de prescrição".
Falta de consenso
As proibições sugeridas, porém, não são consenso entre os membros da comissão (que inclui professores, alunos e funcionários). Milton Arruda Martins, atual presidente da comissão, disse à publicação que é favorável não ao veto, mas a medidas de redução de danos. "Não adianta proibir. Alivia a barra da universidade e joga o problema para outro lugar, porque, é óbvio, as festas vão continuar", afirmou. "E ninguém vira estuprador porque bebeu", completou.
Já o professor associado Arthur Guerra de Andrade, chefe do grupo de álcool e drogas da faculdade, considera "românticas" as medidas de veto e redução. "A molecada entra com garrafa de vodca escondida. Quem vai impedir? Vão revistar todo mundo?", questionou.
Todos os alunos que fizeram parte da comissão também foram contrários à proibição.
Denúncias
Em audiência pública realizada no último dia 11 pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), estudantes fizeram uma série de denúncias de violações de direitos humanos no âmbito da faculdade.
O deputado Adriano Diogo (PT), que preside a comissão, declarou ter sido “assediado” para que não levasse adiante a sessão. “Nem presidindo a Comissão da Verdade eu fui tão pressionado a não realizar uma audiência. Impressionante como a gente é assediado quando tenta trazer uma sujeira que está debaixo do tapete”, afirmou. Em seguida, afirmou que o autor do assédio foi o próprio diretor da FMUSP, professor José Otávio Costa Auler Júnior.
O silêncio começa a ser rompido agora, mas os casos de estupro, trote violento e discriminação são velhos conhecidos da faculdade. As denúncias recebidas datam, pelo menos, de 2002, mas um dos casos mais emblemáticos de violência na instituição é ainda mais antigo, de 1999, quando o calouro Edison Tsung Chi Hsueh, de 22 anos, foi encontrado morto em uma piscina após um trote.