No primeiro dia da nova etapa do plano paulista de combate à covid-19, restaurantes e parques receberam um público esperançoso, ansioso e ainda com medo da pandemia neste sábado, 24. Algumas casas atingiram os tais 25% de ocupação – máximo permitido pela regra estadual – logo durante as primeiras horas de funcionamento. Houve clientes que reservaram mesas desde o início da semana. Já no Parque do Ibirapuera, zona sul de São Paulo, o movimento não causou aglomeração, mas corredores e ciclistas sem máscara eram parte da paisagem.
O comércio e o setor de serviços – como restaurantes, academias, cinemas e teatros – voltaram a abrir as portas das 11h às 19h – respeitando o limite de 25% da capacidade. Academias podem funcionar durante oito horas por dia no intervalo entre 6h e 19h. Os parques podem funcionar das 6h às 18h.
Neste sábado, um pouco antes das 11h, restaurantes (principalmente aqueles que funcionam também como bar) começaram a se preparar para receber clientes. Na rua Aspicuelta, na Vila Madalena, zona oeste paulistana, a separação das mesas (e o distanciamento entre elas) era a principal função de quem já estava a postos para o trabalho. Entre gerentes e funcionários, uma dúvida pairava no ar: "Os clientes vão aparecer"?
A proprietária do Porto Madalena, Andreia Vieira, não está no time dos otimistas. Segundo ela, mesmo que a casa receba os 25% dos clientes permitidos, isso será insuficiente para recuperar os prejuízos do período. "Vendi dois carros para pagar salários. Mesmo que as coisas melhorem, dificilmente consigo estabilizar minhas contas nos próximos dois anos", falou.
De fato, por volta das 13h, o restaurante/bar estava com todas as mesas ocupadas – com, aparentemente, o distanciamento adequado. Uma banda de pagode realizava um show, sem que ninguém ficasse em pé durante a apresentação. De tempos em tempos, membros da banda lembravam as normas de segurança. Segundo o governo do Estado, não há qualquer proibição em relação à música ao vivo, desde que seguidos os protocolos sanitários.
Em outro bar, o Pasquim, o primeiro cliente chegou às 11h30. Ele teve a temperatura medida na entrada, cumprimentou garçons e pediu um drinque (Aperol Sprtiz). "O mundo digital não dá conta da nossa ansiedade de sair de casa. Acredito nos protocolos (sanitários). E estava com muita vontade de sair um pouco", disse o gerente de marketing Douglas Joaquim, de 36 anos.
Amigo de Joaquim, o especialista em TI Teles Baraúna, de 32, afirmou que "chegar cedo foi a melhor opção". "Além disso, minha mãe tomou as duas doses da vacina. Isso me deixa um pouco mais tranquilo." Médicos têm reforçado que, mesmo após receber as duas injeções do imunizante, será preciso manter cuidados contra o vírus, como máscara e distanciamento.
Em menos de cinco minutos, as outras mesas começaram a receber seus clientes. Segundo a direção do Pasquim, elas já estavam reservadas desde o início da semana. Em uma delas, o analista de sistemas Diego Messias, 34 anos, ressaltou que se sente "mais seguro no bar do que em transporte público e nos supermercados". Para o sócio do Bar Pasquim, Humberto Munhoz, o momento é de provar que o setor é parte da solução, e não do problema. Ainda assim, algumas casas na região (e também nos Jardins) permaneceram completamente vazias ou com o movimento abaixo dos 10% até as 14h.
A preocupação de muitos comerciantes era também com o movimento externo, na frente dos bares, o que poderia provocar aglomerações. "Não tenho culpa se um sujeito fica parado com uma cerveja na mão em frente ao meu bar", contou um gerente que preferiu não se identificar.
Os restaurantes e bares de Pinheiros e Vila Madalena estão aguardando a possibilidade de utilizar mesas na calçada e os parklets - que, segundo eles, representam um aumento de movimento com segurança para o cliente. Nesta sexta-feira, 23, a gestão João Doria (PSDB) celebrou os números que apontam queda de infecções, internados e mortes. Especialistas, porém, temem que as novas flexibilizações reflitam em nova pressão sobre os hospitais.
'Estava em casa, sem respirar esse ar, há mais de um ano'
Se nos bares, a vontade de um chope e uns petiscos de bar eram evidentes em cada mesa, a volta aos parques também foi marcada por uma ânsia de "voltar a viver". Por volta do meio-dia, o movimento no Ibirapuera poderia ser considerado razoável - levando em conta o sábado de sol. Famílias fazendo piquenique, crianças andando de skate, ciclistas e corredores. Apesar de todas as recomendações, não era tão difícil encontrar algum "esportista" com a máscara no queixo ou com ela no bolso. A reportagem flagrou pelo menos duas situações em que seguranças pediram para frequentadores usarem máscaras.
A família Gimenez, por exemplo, trouxe as crianças para sentirem "o cheiro de grama molhada e respirarem um pouco". Apesar de tudo, a insegurança ainda rondava a família. "A gente sempre tem medo. Muito medo. A gente vive com medo. Mas acho que, com todos os cuidados, voltar aos parques é uma boa ideia para as crianças", falou a dona de casa, Carolina Gimenez, de 42 anos.
As famílias Kronemberger, Souza, Gomes e Guimarães, aproveitaram o primeiro dia de reabertura dos parques para comemorar o aniversário de 7 anos da Heloísa. A festa tinha direito a doces e um bolo de aniversário. A avó, Meire Guimarães da Silva, de 65 anos, já tomou as duas doses da vacina (ela é profissional da saúde) e quer aproveitar a vida com cuidado. "Estava em casa, sem respirar esse ar, sem sair, há mais de um ano. É importante pra gente e, principalmente para as crianças, que já não aguentavam mais ficar trancadas em casa", falou. Para a família, comemorar em um parque representou "muito mais segurança do que colocar todo mundo dentro de casa ou em um salão".
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