Partes de quatro Estados estão com alerta vermelho por acumulado de chuva, emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O aviso dura até as 10 horas desta terça-feira. Conforme o Inmet, Goiás, Espírito Santo, Minas e Rio podem enfrentar chuva superior a 60 mm por hora ou acima de 100 mm ao dia. Por isso, há grande risco de deslizamento de encostas, alagamento e transbordamento de rios.
Entre os dias 11 e 17, a previsão do Inmet indica que os maiores acumulados de chuva tendem a ocorrer nas regiões Norte, parte do Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. No Sudeste, os maiores acumulados de chuva devem se concentrar no centro-sul de Minas e ao norte do Rio, com maiores acumulados entre 70 mm e 100 mm - podendo alcançar 150 mm em áreas ao centro-sul de Minas.
Mais ao Sul do País, o que se aguarda é uma onda de calor por ar seco. Existe a possibilidade de que médias históricas de temperatura sejam excedidas - ultrapassando os 40ºC.
O contraste acentuado entre as regiões têm um causador principal, conforme a meteorologista Estael Sias, MetSul Meteorologia. "O La Niña está levando chuva em excesso para uns e sede para outros." O fenômeno, porém, não está sozinho. A formação de zonas de convergência do Atlântico Sul (ZCAS), as mudanças climáticas e a ação humana podem ter a ver com o que se vive ao longo do País.
São basicamente dois anos sob influência do La Niña, que resfria o Oceano Pacífico Equatorial. Entre maio e outubro de 2021, houve uma "trégua", na qual nem La Niña nem El Niño (que causa o aquecimento dessas águas) atuaram - o que é chamado de neutralidade metereológica.
Desde o ano passado, o La Niña voltou e, com ele, suas consequências. Estael explica que esse fenômeno causa um bloqueio que impede que a chuva se desloque ao Sul, ficando acumulada nas regiões a partir do Centro-Oeste até o Norte. Ela diz também que a estimativa é de que a neutralidade meteorológica chegue com o outono brasileiro. O Departamento de Meteorologia dos Estados Unidos (Noaa) aponta que a chance de transição para neutralidade no período de abril a junho é de 60%. Na prática, isso significa que as próximas semanas não serão tão promissoras.
"A situação é de calamidade e infelizmente pode piorar. Ainda estamos longe de dizer que o pior já passou", afirma Estael. "Vamos ter um pequeno alívio da chuva na segunda metade de janeiro, porque o corredor de umidade vai descer um pouco para o Sul, trazendo um pouco de chuva. Vai continuar chovendo no Sudeste, mas diminui a força. Só que em fevereiro e março a estiagem vai se agravar no Sul e vai voltar a chover mais forte e em maior quantidade nos Estados do Sudeste."
Faixa de nuvens imóvel
Há ainda a formação de zonas de convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Ela consiste na persistência de uma faixa de nuvens que fica praticamente estacionada, provocando muita chuva sobre as mesmas áreas por cerca de quatro dias consecutivos. "É um fenômeno típico do verão", diz Estael. "O que aconteceu é que começou, mais cedo, em novembro. Com a influência do fenômeno climático La Niña, ela acaba ficando estacionária por mais dias."
A formação de uma zona dessas causou as fortes chuvas na Bahia e norte de Minas em dezembro. Agora, após se deslocar, ficando mais ao centro-sul do território mineiro, leva a região a vivenciar precipitações expressivas em um curto período de tempo.
A intensidade desses eventos também pode estar ligada à ação humana. "A gente está vendo as mudanças climáticas se tornarem fato", aponta Estael. "Os eventos estão ficando cada vez mais extremos. Se a gente levava cem, duzentos anos pra ter um evento de chuva de 500, 600 mm, agora, nos parece que todo ano está acontecendo."