Depois de um começo de manifestação pacífico, a polícia e os manifestantes entraram em confronto na noite desta segunda-feira durante os protestos contra o aumento da passagem no Rio de Janeiro. O enfrentamento aconteceu em frente à Assembleia do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que recebeu forte policiamento para evitar pichações. Os manifestantes fizeram fogueiras nas imediações do prédio e atearam fogo em dois carros, um no estacionamento funcional da Assembleia Legislativa e outro atrás da Alerj. Pelo menos 15 focos de incêndio foram contados pela reportagem do Terra. No fim da noite, um grupo de manifestantes conseguiu invadir o prédio da Alerj, quebrou janelas, ateou fogo na porta e tirou cadeiras de dentro do edifício.
Dezenas de PMs e funcionários ficaram presos dentro da Alerj, cercada por manifestantes. Eles negociaram com os que protestavam para sair com os policiais que ficaram feridos durante a invasão. Oficialmente, cinco estão machucados, mas havia informações de que até 20 PMs estariam feridos. Por volta das 23h15, a Tropa de Choque chegou ao local e usou bombas de gás lacrimogênio. Às 23h45, os policiais deixaram a Alerj.
Funcionários dizem que havia mais de 100 pessoas dentro do prédio. "Ficamos numa sala no segundo andar, presos. Eles jogavam muitas pedras do lado de fora. Está tudo arrebentado, janelas, portas. Algumas pessoas entraram em pânico. Tinham três PMs feridos com a gente. Nunca imaginei que pudesse acontecer isso. Eles quebraram tudo, é uma pena", disse o supervisor dos ascensoristas, Robert Rodrigues.
Um dos PMs feridos foi identificado como sargento Washington, que está machucado no olho, vítima de um rojão. Outros policiais foram atingidos por pedradas. Durante a confusão, PMs deram tiros de fuzil para o alto para tentar dispersar a multidão.
Policiais à paisana estavam do lado de fora, circulando entre os manifestantes. Um deles foi até um orelhão e dizia para um interlocutor. "É melhor chamar mais gente, porque vai dar merda".
Numa das portas laterais, os manifestantes tinham contato com os PMs que estavam dentro do prédio. Muitos hostilizavam os policiais, e diziam que iriam invadir a Alerj. Outros seguiam jogando pedras no edifício e em prédios próximos.
No início do confronto, policiais militares tentaram dispersar os manifestantes que se aproximaram da Alerj, e estes reagiram com fogos de artifício e jogando pedras. A polícia então usou balas de borracha, gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Houve tumulto e correria na região da Assembleia, e alguns manifestantes quebraram vidraças de lojas e agências bancárias, enquanto outros picharam as pilastras do Palácio Tiradentes, sede do Legislativo estadual.
Uma pessoa foi detida, acusada de invadir um carro oficial da Assembleia. O manifestante foi levado para a 5ª Delegacia de Polícia.
Os manifestantes começaram a chegar ao local por volta das 19h50. A polícia montou dois cordões de isolamento com a ajuda de grades para impedir que os ativistas tivessem acesso à escadaria do prédio. O objetivo era evitar que as pichações ao prédio registradas nos protestos de quinta-feira se repetissem. Segundo a Polícia Militar, a tropa de choque foi chamada após uma tentativa de arrombamento. A polícia tentou impedir a entrada dos manifestantes com balas de borracha, e muitas pessoas tentam fugir do local.
Do lado de fora, o cenário era de caos, com carros e orelhões destruídos e incendiados. Várias agencias bancárias foram depredadas. Na rua da Assembleia, o cenário era de destruição. Além dos vidros quebrados, as agências foram pichadas pelos manifestantes. Algumas lojas do centro começaram a ser saqueadas.
Boa parte dos manifestantes se concentrou na Cinelândia e toma as escadarias e sacadas do Theatro Municipal, Câmara dos Vereadores e Biblioteca Nacional. Os ativistas seguiam com gritos de ordem contra Paes e Cabral, enquanto parte do grupo se dirigia à Alerj.
Protesto começou pacífico
Mais cedo, o protesto que acontece na capital fluminense recebeu como apoio uma chuva de papel picado, que foi jogado do alto de prédios na esquina das avenidas Rio Branco e Presidente Vargas. Comandante do 5º Batalhão da Polícia Militar, Coronel Camargo estimou que o protesto conta com um público entre 40 mil e 50 mil pessoas. Segundo ele, nenhuma ocorrência foi registrada até o momento, apenas uma briga entre manifestantes que não precisou de intervenção policial. Ao todo, 150 PMs atuam durante a passeata.
Os manifestantes, que tomaram praticamente toda a via até a Cinelândia, gritavam: "vem pra rua, vem, vocês também". Com instrumentos de percussão, usados pela primeira vez nessa onda de protestos no Rio de Janeiro, muitos manifestantes se posicionaram contra o prefeito, Eduardo Paes, o governador, Sérgio Cabral, além da presidente da República, Dilma Rousseff. "Olê, olê, olê, se a passagem não baixar, o Rio, o Rio, o Rio vai parar", cantam ainda.
Nos prédios comerciais da avenida Rio Branco, pessoas acenaram das sacadas e piscaram as luzes dos escritórios em apoio ao ato. Muitos ainda desceram e aderiram ao protesto, como o contador Marcio Bastos, 46 anos. "É bonito ver o povo na rua de novo por uma causa legítima. Chego a me emocionar", relatou Bastos, ao contar que participou das passeatas do Movimento Diretas Já, em 1984. "Vejo o jovem recuperando um engajamento perdido. O Brasil precisava sair da inércia", acrescentou o contador.
Ao longo do percurso, que teve inicio às 17h, muitas pessoas foram se juntando aos manifestantes. Na avenida Presidente Vargas, que está fechada no sentido zona sul, vários grupos desembarcaram da estação de metrô Uruguaiana para seguirem com o protesto.
Grande parte do comércio na avenida Rio Branco e em ruas no entorno teve as atividades encerradas ou funciona com as portas parcialmente abertas. Vendedor da Drogaria Nações, na rua do Rosário, Mauricio Tolentino contou que os donos do estabelecimento orientaram para que os funcionários fiquem atentos a qualquer indício de confusão. "Teve gente que teve prejuízo com o quebra-quebra da semana passada. Mas, por enquanto, está tudo normal", afirmou.
Ainda na avenida Rio Branco, que continua totalmente interditada, ativistas pedem para que os simpatizantes do movimento que se encontram no alto de prédios pisquem as luzes como forma de adesão. Eles foram prontamente atendidos por, pelo menos, dez estabelecimentos. "Quem apoia pisca a luz", cantam os manifestantes.