Um grupo de cerca de 40 manifestantes protesta na manhã desta quinta-feira nas proximidades da casa do governador Sérgio Cabral (PMDB), no Leblon, no Rio de Janeiro. Com cartazes e faixas, o movimento expõe críticas contra o governo fluminense. Em uma deles, o grupo demonstra apoio a São Paulo, pedindo para o governador Geraldo Alckmin (PSDB) "vazar".
Os manifestantes estão concentrados na esquina da rua Aristides Espínola com a avenida Delfim Moreira, no Leblon. O grupo está no local desde domingo, realizando um protesto intitulado "Ocupa Cabral". Eles pedem a saída do governador, a desmilitarização da polícia e maiores investimentos nas áreas da saúde e da educação, entre outras questões.
Uma faixa de trânsito da Delfim Moreira, sentido centro, está interditada, e o policiamento na região foi reforçado por homens da Polícia Militar e da Guarda Muncipal. Segundo a porta-voz do grupo, Luiza Dreyer, o grupo permanecerá no local por tempo indeterminado.
"Nós acreditamos que essa é a melhor maneira de pressionar o poder público. Estamos cobrando uma série de questões que há muito tempo foram esquecidas pelo governo. Os moradores têm nos dado apoio e contribuído com doações de alimentos e roupas. Nós temos grupos de discussões, e quem quiser chegar, debater e conhecer nossas demandas, pode chegar. Estamos aqui pacificamente. Não queremos guerra," disse Luiza.
Recentemente, o governador apelou aos manifestantes, para que eles parassem de protestar nas imediações de sua casa. Na ocasião, Cabral alegou que tinha filhos pequenos e que eles não mereciam passar por isso. "Nós não temos nenhuma intenção de constranger a família dele, aliás, acho um absurdo ele utilizar a família como escudo para sensibilizar a população", disse a porta-voz do grupo.
Ontem à noite, manifestantes invadiram o prédio da Câmara de Vereadores do Rio. Por volta das 22h40, o grupo saiu do local escoltados pela Polícia Militar, após negociação que contou com a intermediação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Houve um grande tumulto do lado de fora do Legislativo. Policiais perseguiram manifestantes, que foram agredidos com cacetetes. Mais cedo, o grupo participou de uma caminhada até a sede do Ministério Público, onde foi recebido pelo procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira, e, posteriormente, se dirigiu para a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), e depois para a Câmara de Vereadores.
Os manifestantes que ocuparam o Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara, diziam que não pretendiam sair do local. Pouco antes das 21h, um grupo de aproximadamente 20 pessoas conseguiu entrar por um portão lateral que estava aberto. O restante ficou do lado de fora porque policiais militares conseguiram bloquear a entrada.
O grupo que estava no interior do prédio estendeu faixas nas janelas, com dizeres contra a corrupção, charges ironizando a violência policial e frases contra o governador Sérgio Cabral. Eles eram apoiados pelos manifestantes do lado de fora, que, inclusive, passavam alimentos.
Protestos mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.
A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.
A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.
A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.
Com informações da Agência Brasil.