A Justiça Militar condenou na madrugada desta quinta-feira, 14, oito militares pelas mortes do músico Evaldo dos Santos Rosa e do catador de material reciclável Luciano Macedo, fuzilados em ação do Exército no Rio de Janeiro em 7 de abril de 2019.
Mais de dois anos e meio depois das mortes e após 15 horas de julgamento, o tenente Ítalo da Silva Nunes, que comandava a ação, recebeu uma pena de 31 anos e 6 meses de prisão por duplo homicídio e tentativa de homicídio de Sérgio de Araújo, sogro do músico.
Os outros sete militares condenados, que também efetuaram disparos na ação, realizada em Guadalupe, na Zona Norte do Rio, receberam penas de 28 anos de prisão. São eles: sargento Fábio Henrique Souza Braz da Silva, cabo Leonardo Oliveira de Souza, soldado Gabriel Christian Honorato, soldado Matheus Sant'Anna, soldado Marlon Conceição da Silva, soldado João Lucas da Costa Gonçalo e soldado Gabriel da Silva de Barros Lins.
Nunes recebeu a maior pena por, além de comandar o grupo, ter sido o primeiro a disparar e ter atirado o maior número de vezes: 77. Quatro outros militares que haviam sido acusado foram absolvidos por não ter sido provado que efetuaram disparos na ocasião.
O crime
Evaldo dos Santos Rosa ia com a família para um chá de bebê naquele domingo de abril quando o veículo em que eles estavam foi atingido por 83 do total de mais de 200 disparos. Cinco pessoas, incluindo uma criança, estavam no carro, que o Exército alegou inicialmente ter furado um bloqueio.
Luciano Macedo foi baleado com gravidade quando tentava ajudar Evaldo e os familiares. Os militares também atingiram o sogro de Evaldo, Sérgio Araújo, que foi ferido nas costas.
Evaldo morreu no local após ser atingido com nove tiros de fuzil, e Luciano, depois de passar 11 dias internado em decorrência dos tiros que levou no braço e nas costas. Peritos militares encontraram 37 marcas de tiros em muros, paredes e carros nos arredores do local da operação.
Segundo o Ministério Público, disparos foram efetuados em dois momentos. Primeiro, os militares miraram assaltantes que roubavam um Honda City branco e fugiram. Dois dos tiros efetuados contra eles acabaram atingindo o veículo em que Evaldo e a família estavam, um Ford Ka branco, baleando o músico e obrigando seu sogro, que estava sentado ao seu lado, a assumir a direção.
O carro parou, e a esposa de Evaldo, o filho de 7 anos e uma amiga da família desceram para pedir ajuda. Foi então que Luciano foi socorrê-los. Segundo a denúncia, por suporem que se tratava dos assaltantes do outro veículo, os militares efetuaram então mais ao menos 82 disparos, e 62 deles atingiram o carro de Evaldo.
A defesa alegou que o músico morreu ao ser baleado no primeiro momento, quando os militares teriam agido em legítima defesa do dono do carro roubado. Isso, no entanto, não foi comprovado.
"Recado para a sociedade"
Durante o julgamento nesta quarta, a viúva de Evaldo, Luciana Nogueira, passou mal quando viu os militares acusados entrarem na sala.
"Eles não têm noção de como estão trazendo uma paz para a minha alma. Eu sei que não vai trazer o meu esposo de volta, mas não seria justo eu sair daqui sem uma resposta positiva", disse Luciana após o julgamento, citada pela Folha de S.Paulo.
"Hoje vou conseguir dormir. Vou olhar para o meu filho, que vai crescer sem ver o pai, e vou dizer que era um homem de bem. É um recado que o tribunal manda para a sociedade. Esse crime não ficará impune", diss ainda, segundo o jornal O Globo.
Os dois lados ainda poderão recorrer ao Superior Tribunal Militar (STM).