A Associação dos Moradores do Horto (Amahor) fez neste sábado, uma manifestação contra as obras de ampliação do estacionamento do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), instituto de pesquisas vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. A presidente da Amahor, Emília de Souza, disse à Agência Brasil que a direção do Jardim Botânico tirou, “de forma radical”, parte do pátio da Escola Municipal Júlia Kubitschek, “que é tradicional para os moradores do bairro e para o Brasil, fundada pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek”, para investir na expansão do estacionamento.
Emília argumentou que se a área foi cedida ao JBRJ para expansão e pesquisa, não cabe um estacionamento. "Se ainda fosse para usar a área ampliada para fazer estufa, laboratório para cultivo de sementes, ou para colocar ali um viveiro de orquídeas, seria admissível, porque estaria dentro da função do parque. Mas, estacionamento e lixeira são um absurdo”.
Ela acrescentou que a área onde o Jardim Botânico está fazendo o estacionamento é inadequada também porque fica à beira do Rio dos Macacos. “De certa forma, vai levar poluição para o rio”. Emília denunciou que todo o lixo produzido pelo comércio da área está sendo despejado próximo às casas dos moradores que integram a Amahor. “Quer dizer que além de sermos considerados invasores, ainda vamos ser depositários do lixo da elite?”, indagou. “É demais”.Com a manifestação, a Amahor quer chamar a atenção das autoridades competentes, disse Emília.
Tania Gomes, moradora há 57 anos do local, disse que a expansão do estacionamento vai tumultuar o fluxo de trânsito pela única saída de veículos do Horto. “Como é que vai ser isso aqui quando começarem a vir os visitantes? Será que a finalidade do Jardim Botânico é plantar carros, estacionamento?”, reclamou.
O diretor de Ambiente e Tecnologia do Jardim Botânico, Claudison Rodrigues, repudiou as acusações. Ele esclareceu que o terreno pertence ao JBRJ e está dentro do perímetro definido de maneira técnica, por lei. “Está registrado em cartório o perímetro definido para o Jardim Botânico, a partir de levantamentos, documentos históricos e tombamentos do Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (Iphan)”, informou.
Um cartaz colocado no portão de entrada do estacionamento, na Rua Pacheco Leão, número 1.235, informa que o local pertence ao instituto. Por ali entram os moradores da chamada área de ocupação irregular e funcionários de órgãos federais, como o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). O diretor assegurou que o JBRJ é totalmente responsável por tudo que estiver ligado às coisas dentro desse perímetro. “Esse é um dado importante. É o que está definido em lei. Nós temos que fazer cumprir determinações legais relacionadas a esse assunto, como, por exemplo, as questões fundiárias que estão na ordem do dia nessa tensão com a Amahor”.
O JBRJ está tomando as medidas que considera apropriadas. Uma delas visa a restringir o número de veículos que estaciona dentro do instituto, principalmente na entrada principal, pela Rua Jardim Botânico, número 1.008. Levantamento feito no período do feriado da Semana Santa até o último domingo, mostra que 37 mil pessoas visitaram o jardim, o que dá uma média de 3,5 mil pessoas por dia. Somente no dia 19 deste mês, foram 6.626 visitantes.
As 80 vagas para carros que existiam anteriormente pelo acesso da Rua Jardim Botânico estão sendo desativadas e não existirão mais no próximo dia 2 de junho, disse Rodrigues. Permanecerão somente quatro vagas para pessoas com dificuldade de locomoção.
O processo de reorganização do estacionamento inclui um convênio firmado com o Jockey Club do Rio de Janeiro, que disponibilizou 230 vagas para os visitantes do JBRJ, cobrando o mesmo preço (R$ 7), desde que apresentem o tíquete da bilheteria do instituto. A partir de junho, o Jockey Club oferecerá mais 170 vagas, totalizando 400 veículos. A parceria já está em funcionamento.
Os canteiros e jardins da área do estacionamento, que foram destruídos pelos automóveis, serão recompostos. Segundo o diretor, o objetivo é implantar medidas relacionadas à sustentabilidade e melhorar a qualidade da visitação. Já o estacionamento pela Rua Pacheco Leão, 1.235, por onde os alunos da escola e funcionários do JBRJ também entram, ganhará dez novas vagas, com a retirada de entulho acumulado no espaço, de modo a totalizar 50 vagas para carros.
“É um estacionamento que já existe há anos”. Rodrigues garantiu que nenhuma árvore da Mata Atlântica foi derrubada. “Cortamos bananeiras”. Mudas de árvores nativas da Mata Atlântica estão sendo plantadas no lugar, informou.