Um homem flagrou o momento em que um policial militar do Batalhão de Operações Especiais (Bope) atira contra ele e moradores da comunidade Vila Cruzeiro, na zona norte do Rio de Janeiro, após um desentendimento entre os PMs e uma moradora. O episódio aconteceu na última terça-feira, 24, mesma data em que foi realizada a ação policial que deixou ao menos 25 pessoas mortas no local.
Nas imagens, gravadas de um celular (veja abaixo), é possível ouvir uma das moradoras da comunidade dizendo: "Moço, você falou que era meia hora, tá? Você mentiu, não tem palavra. Sem palavra". Em seguida, um dos policiais se volta em direção à mulher e a questiona: "Tu falou o que? Eu sou o que? Repete aí".
INACEITÁVEL!
Policial atirando pra cima de moradores!
É grave e cruel como moradores de favela são tratados como vemos nesse vídeo durante a chacina promovida ontem no Complexo da Penha. + pic.twitter.com/ghHuakWj3E
Após o policial questionar a moradora, o homem que está gravando as imagens se posiciona: "Tá tranquilo, irmão! Tá tranquilo!", diz ele. Mas o rapaz é intimidado pelo PM, que o manda "ficar quieto".
O vídeo ainda mostra que outros policiais aparecem e retiram o agente que estava discutindo com a moradora do local, porém, segundos depois, um dos PMs retorna e atira na direção em que estavam os moradores e o homem que fazia a gravação. Todos correram após o disparo.
Nas redes sociais, a deputada estadual Renata Souza lamentou o ocorrido e afirmou que a gravação foi feita pelo seu assessor parlamentar.
"Absurdo! Policial atirou contra meu assessor parlamentar e moradores no Complexo da Penha. A pena de morte é aplicada pelo braço armado do Estado todos os dias nas favelas. Não há dúvidas que Cláudio Castro [governador do Rio de Janeiro] tem as mãos sujas de sangue!", escreveu.
O assessor também se posicionou em seu perfil pessoal.
"Hoje fiquei, literalmente, a um metro de tomar um tiro. E não seria bala perdida, porque o policial do Bope parou a 5 metros de mim, mirou o fuzil e atirou. Eu estava ao lado de um dos corpos dos chacinados na Vila Cruzeiro e ele fez isso com a pu** intenção de aterrorizar", lamentou, por meio de um tuíte.
Em nota enviada ao Terra, a Polícia Militar afirma que Corregedoria-Geral da PM acompanhará as apurações, a cargo da Polícia Civil, sobre as ocorrências da operação.
Chacina na Vila Cruzeiro
A ação policial na Vila Cruzeiro já é considerada a segunda mais letal em um ano de gestão do governador Cláudio Castro (PL), ficando atrás da ação na favela do Jacarezinho, com 28 óbitos. Além das mortes já contabilizadas, o Hospital Estadual Getúlio Vargas afirmou que quatro pacientes seguem internados, sendo um em estado grave e três estáveis.
Outra vítima foi transferida para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP). A Secretaria de Estado da Saúde informou ainda que os corpos estão sendo encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) da Secretaria de Estado de Polícia Civil.
A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro confirmou, por meio de comunicado oficial, que uma pessoa morreu atingida por um disparo em Chatuba, favela vizinha à Vila Cruzeiro. A vítima foi identificada como Gabrielle Ferreira da Cunha, de 41 anos. Ela estava dentro de casa.
A PM informou ainda que a ação foi executada pela Polícia Militar do Rio de Janeiro para impedir o movimento de criminosos ligados ao Comando Vermelho (CV) da Vila Cruzeiro para a Rocinha, na zona sul do Rio. Segundo a PM, as equipes se preparavam para a operação quando criminosos começaram a fazer disparos de arma de fogo na parte alta da comunidade. "Uma pessoa foi ferida na Chatuba, uma comunidade fora da área da operação, e veio a óbito no local", alega.
A nota ainda traz dados sobre o resultado da operação: "Onze criminosos foram localizados feridos e houve apreensão de 13 fuzis, quatro pistolas e 12 granadas, além de drogas a serem contabilizadas".