O "rolezinho" marcado para este domingo no Moinhos Shopping, em Porto Alegre, teve um número de participantes semelhante ao número de jornalistas enviados para cobrir o evento. Setenta e sete pessoas estavam confirmadas no evento no Facebook - que foi denunciado e apagado pela rede social quando tinha mais de 500 confirmados -, mas aproximadamente 20 pessoas se reuniram com os organizadores para caminhar pelo shopping e cantar funk - sem ostentação.
Às 16h20, horário marcado para a reunião, menos de 10 pessoas estavam reunidas do lado de fora para o evento. Centenas de outros frequentadores estavam no shopping, que tinha quase todas as lojas abertas. Os cinemas do Moinhos costumam lotar nos domingos, e não foi diferente neste. Havia uma tensão evidente entre seguranças e funcionários do shopping, que não se refletia entre os lojistas e frequentadores. Seguranças interpelavam repórteres que tiravam fotos e chamavam funcionários do marketing para autorizá-los. "A intenção é preservar os frequentadores", disse um deles.
O Conselho Tutelar foi chamado. "Tivemos denúncias de moradores do Moinhos, preocupados com os 'favelados' e 'maloqueiros' que viriam ao shopping. É lamentável essa postura. Os rolezinhos sempre existiram, os jovens estão aqui para debater seu cotidiano, e nós estamos aqui para fiscalizar", disse Cristiano Pinto, da Microrregião do Centro.
Fábio Fleck mostrava-se preocupado com a discriminação aos eventuais frequentadores, e também com as punições previstas. A juíza Cleiciana Guarda Lara Pech, a pedido da administradora do Moinhos Shopping, decidiu que os organizadores do "rolezinho" deveriam "abster-se de qualquer tipo de manifestação", incluindo "consumir produtos adquiridos fora do estabelecimento" - na página do Facebook, alguns manifestantes falavam em comer pão com mortadela na praça de alimentação. As vitrines das joalherias próximas à entrada do Moinhos Shopping estavam vazias.
"Parece que somos vagabundos que querem quebrar o shopping. O que tá se provando é o contrário. Se acontecer algum prejuízo, eu serei o culpado e vou pagar, mas não estou preocupado", disse o organizador Fábio Fleck. "É decepcionante que tem mais policiais que manifestantes. Não somos sequer um movimento: somos um grupo de pessoas que se reuniu pelo Facebook". Quando perguntado sobre a baixa adesão, Fleck afirmou que não se preocupava. "Sempre falei que viria quem quisesse", afirmou.
Quando entraram no shopping, os organizadores do "rolezinho" foram escoltados por um batalhão de fotógrafos e repórteres. Enquanto davam entrevistas, chegou outra turma: cerca de 10 pessoas com camisetas da União da Juventude Socialista (UJS), movimento estudantil ligado ao PCdoB. Cantando sucessos do funk como "Glamurosa", "Bumbum na Água" e "Quadradinho de Oito", os jovens passaram por três andares do shopping, acompanhados por jornalistas e seguranças. Alguns funcionários fecharam as portas das lojas. "Houve uma orientação de fechar em caso de tumulto. Mas nós sempre fechamos quando entra muita gente ao mesmo tempo. Não é discriminação", disse Silvana, funcionária de uma loja de roupas.
"Existe a discriminação da galera que tem a grana, discriminando quem não tem. Só porque cantamos funk? É um espaço da elite, mas que a periferia tem que frequentar com naturalidade", disse Ismael Cardoso, estudante da USP, dentro de uma loja da All-Star. Ismael participou de "rolezinhos" também em São Paulo. "Lá, eles foram acusados de vandalismo e decidiram ir para o Ibirapuera. Vão quebrar as árvores?", afirma.
O espanhol Gonzalo Durán, morador de Porto Alegre há 15 anos, acompanhou o "rolezinho" por curiosidade. Ele foi comprar um cooler para seu notebook. "Acho que pessoas que fazem distúrbios devem ser enquadradas na Justiça, mas também tem muitas pessoas de terno e gravata que incomodam a paz das favelas, com desapropriações para a construção civil...existem outros tipos de rolés violentos. Tomara que esse esquema de segurança também sirva para prender os delinquentes de colarinho branco", afirmou.