As autoridades de segurança do Rio Grande do Sul afirmaram nesta terça-feira que cresceu o número de criminosos infiltrados entre os manifestantes, um dia após mais um protesto ter terminado de forma violenta em Porto Alegre. Na noite de segunda-feira, 65 pessoas foram presas por crimes cometidos nas ruas da cidade. Segundo a Secretaria de Segurança do Estado, até bondes foram organizados para cometer crimes.
Protestos por mudanças sociais levam milhares às ruas
Manifestações tomam as ruas do País; veja fotos
"Ontem, percebemos claramente que houve evolução negativa, no sentido de que grupos se infiltraram em meio aos manifestantes. Este grupo está cada vez maior nesses eventos, se percebe quem é que se aproveita para cometer delitos. Das 65 pessoas presas, todas foram por crimes contra o patrimônio, sendo que dois manifestantes foram assaltados por quem estava na passeata", disse o secretário de Segurança, Airton Michels. Ele afirmou que a Brigada Militar (Polícia Militar local) teve a mesma atitude de outras manifestações, se adiantando para evitar depredações.
Segundo o delegado chefe da Polícia Civil, Ranolfo Vieira, entre os 65 presos, nenhum tinha sido detido em outras manifestações, além de possuírem diversas passagens pela polícia por crimes como porte de armas, roubos, receptação, tráfico, associação para o tráfico, roubo de veículos, ameaça, estupro e lesão corporal. "Entre esses, 13 foram presos em flagrante, sendo que 11 possuem antecedentes criminais", afirmou.
O comandante da Brigada Militar, Fabio Duarte Fernandes, afirmou que os criminosos estão se organizando em grupos chamados bondes, que se aproveitam da situação para cometer crimes. "Ontem, nós tivemos vários saqueadores integrados, em grupos de 15, 20, que nós estamos denominando de bondes, e ontem ratificamos a atuação para evitar que esses saqueadores se infiltrem na manifestação."
Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.
A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.
A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.
A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.