A morte de três pessoas da mesma família que comeram um bolo de Natal no litoral do Rio Grande do Sul é investigada pela polícia. Outras três pessoas passaram mal, incluindo a mulher que preparou o bolo. Uma das linhas de investigação aponta que o bolo pode ter sido feito com ingredientes estragados, de forma não proposital.
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Zeli dos Anjos, de 61 anos, moradora de Arroio do Sal (RS), foi quem fez o bolo. De acordo com uma vizinha, em relato ao Fantástico, da TV Globo, essa é uma tradição da família, e o preparo leva uvas passas, frutas cristalizadas e glacê.
Zeli e o marido, Paulo, se mudaram para a casa de veraneio após as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio. Eles vivam em Canoas, uma das cidades mais afetadas pela tragédia. Paulo era pescador e o casal tinha boa convivência.
Paulo morreu depois de uma suposta intoxicação alimentar. Depois das mortes na família neste Natal, a morte dele também será investigada pela polícia. O corpo deve ser exumado e passará por necropsia para averiguar a presença de substâncias como venenos, toxinas ou medicamentos.
Mortes
Zeli viajou para Torres, a 30 km de onde mora, para se encontrar com a família neste Natal. A confraternização foi no apartamento da irmã, Maida, que morava com o marido, Jefferson.
O bolo foi feito no dia 23, antes do Natal. Três pessoas que comeram, morreram, sendo as irmãs de Zeli, Neuza e Maida, e a sobrinha, Tatiana. O marido de Neuza, João, não comeu o bolo. O neto dele, de 10 anos, está internado.
A polícia informou que o resultado dos exames revelaram a presença de arsênio, um elemento químico, no sangue de Zeli, Neuza, e do filho de Tatiana. O Instituto Geral de Perícias afirma que essas informações não são oficiais. A polícia aguarda o resultado de todos os exames para confirmar a presença do arsênio no corpo das três vítimas fatais, bem como outra substância nociva ao corpo humano.
Ao Fantástico, o delegado Marcos Vinicius Veloso, da Polícia Civil do RS, explicou que, segundo depoimentos, houve um apagão na cidade de Zeli. Devido à falta de energia elétrica, muitos itens da geladeira dela estragaram. Alguns deles poderiam ter sido jogados fora, enquanto outros teriam sido reaproveitados para fazer o bolo.
"Segundo o que nós estamos verificando nas investigações, alguns desses itens, como uvas-passas e frutas cristalizadas, podem ter sido reutilizados no bolo. Isso um mês depois", afirmou o delegado.
Ele ainda relatou que é preciso que as investigações sejam aprofundadas para entender se esse teria sido o motivo de encontrar arsênio tanto em Zeli, quanto nas outras pessoas.
"Quem comia, logo sentia o gosto estranho. Tão logo o menino de 10 anos comeu e também reclamou do sabor, ela colocou a mão em cima do bolo e falou: 'Agora ninguém mais come'. E as pessoas começaram a passar mal naquele momento", explicou o delegado.
Arsênio
O arsênio é uma substância química que está presente naturalmente nos alimentos. Porém, a quantidade é pequena demais para ser considerada perigosa. Não é comum haver intoxicação pela forma orgânica dessa substância, que é encontrada em frutos do mar e peixes.
O arsênio também é usado na indústria para fabricação de painéis solares e luzes de LED. O elemento também tem aplicação médica, como no tratamento oncológico, por exemplo.
Investigação
A polícia segue investigando as mortes dos familiares que comeram o bolo de Natal. Segundo o delegado Marcos Vinícius Veloso, a princípio, não há indícios de que possa ter ocorrido um crime doloso, ou seja, não houve intenção de matar.
Zeli conversou informalmente com policiais no hospital onde está internada. O delegado afirmou que aguarda a recuperação dela para colher um novo depoimento, e tenta entender o que aconteceu no dia da preparação do bolo.
Segundo o último boletim médico emitido pelo hospital, o quadro clínico da Zeli é estável.