Um projeto em tramitação na Câmara Municipal de Porto Alegre visa mudar o Plano Diretor Cicloviário impedindo a criação de novas ciclovias caso isso acarrete na redução de faixas destinadas para o trânsito de veículos. O autor da proposta, vereador Carlos Nedel (PP), justifica que não é contra as bicicletas e que a ideia é obrigar o planejamento do poder público para a criação de novas vias para ciclistas.
“Porto Alegre é uma cidade muito antiga, não planejada, e tem situações que criam alguma dificuldade de trânsito. São 800 mil carros e entre 20 e 30 mil motocicletas circulando diariamente, o que torna o trânsito bem difícil... algumas ciclovias propostas e executadas vêm diminuindo as pistas de rolamento de veículos motorizados e isso tem agravado nosso problema de trânsito”, justifica o legislador municipal.
De acordo com a proposta, para implementar as novas ciclovias a pista de rolamento dos carros deverá ser alargada, e caso isso não seja possível, deve-se avaliar a possibilidade de fazer isso no passeio de pedestres quando houver espaço para ambos.
De acordo com Nedel o projeto não impede a ampliação das ciclovias, apenas obriga a prefeitura a planejar melhor a criação das novas vias, já que o Plano Cicloviário prevê a criação das ciclovias ao lado do passeio público.
“Já existe uma lei que diz que toda via a ser alargada já deve conter espaço para as ciclovias, e isso dará um incremento muito grande, porque, normalmente, são vias estruturais de longo e médio percurso... com uma lei regulamentando, pedindo um maior planejamento”, justifica o vereador, se dizendo preocupado com a segurança daqueles que utilizam a bicicleta como meio de transporte em Porto Alegre.
Mas a proposta promete trazer muita discussão no legislativo municipal. O vereador Marcelo Sgarbossa (PT), um cicloativista é contra o projeto de Nedel, porque, segundo ele, isso atrasaria ainda mais a implantação das ciclovias na capital gaúcha.
“Dos 400 quilômetros planejados, pouco mais de 20 quilômetros saíram do papel depois de cinco anos, e as poucas ciclovias que temos já são feitas assim (ao lado do passeio de pedestre)... não é a lei do Nedel que vai mudar o que a prefeitura vem fazendo”, critica Sgarbossa.
Em Porto Alegre poucas são as ciclovias que foram criadas diminuindo o espaço de circulação dos carros. Alguns exemplos são as avenidas 7 de Setembro, no centro, e a José do Patrocínio, no bairro Cidade Baixa.
Entretanto, a principal crítica dos ciclistas, como explica Sgarbossa, é a falta de uma decisão política do Executivo municipal, que não define qual será o meio de transporte priorizado, uma vez que as ciclovias são criadas de forma a não prejudicar o trânsito, mas ao mesmo tempo, terminam por atrapalhar a fluidez dos ciclistas no trajeto com a criação de obstáculos, o que faz com que muita gente prefira se arriscar em meio aos carros.
“É uma decisão política que deve ser tomada, que envolve priorizar algum modal. Porque é o espaço que tem, e não tem como destruir meia cidade, tem que tomar a decisão privilegiando alguém, mas não se toma essa decisão, se finge que toma e para a população em geral, parece que as coisas estão sendo feitas”, afirma.
A proposta de Nedel ainda está nos primeiros passos da tramitação legislativa, e por isso ainda deve levar um tempo para ser votada em Plenário, caso seja aprovada em todas as comissões pela qual venha a passar.