RS: protesto em Porto Alegre acaba em saques e confrontos; 20 são presos

20 jun 2013 - 21h13
(atualizado em 21/6/2013 às 00h26)
<p>Bombeiro apaga fogo ateado por vândalos em uma agência bancária em Porto Alegre</p>
Bombeiro apaga fogo ateado por vândalos em uma agência bancária em Porto Alegre
Foto: Daniel Favero / Terra

O protesto que voltou a levar milhares às ruas de Porto Alegre terminou com um saldo de diversos saques, novos confrontos entre vândalos e policiais e pelo menos três feridos e 20 presos. Na noite deste 20 de junho, dezenas de cidades por todo o Brasil tiveram multidões mobilizadas nas ruas numa jornada que começou pacífica e voltou a terminar com inúmeros episódios de violência.

Sob frio e chuva, a manifestação na capital gaúcha teve início novamente em frente à Prefeitura, localizada no Centro Histórico da cidade. A multidão, que beirou as 12 mil pessoas, começou a marchar para depois se dividir nas avenidas Júlio de Castilhos e Salgado Filho. Os dois grupos de manifestantes seguiram os caminhos e se encontraram na avenida João Pessoa, de onde seguiram em direção à avenida Ipiringa.

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Manifestantes marcham pela avenida João Pessoa, em Porto Alegre
Foto: Facebook / Reprodução

Na Ipiranga, uma das principais vias que cruzam a capital gaúcha, os manifestantes voltaram a entrar em confronto com a Polícia Militar nas proximidades do prédio de Zero Hora, jornal do grupo RBS, afiliada regional da Globo. Diferente do protesto de segunda-feira, não foram registradas cenas de vandalismo até o primeiro confronto com a polícia.

Novamente, a PM realizou bloqueios dos dois lados da via, cortada pelo arroio Dilúvio. Um grupo que seguia pela via próxima ao prédio do jornal, mais radical, jogou pedras em policiais, que reagiram. A multidão que protestava do outro lado do canal, a grande maioria pacífica, acabou também como alvo das bombas de efeito moral.

Manifestantes mantiveram confrontos com a polícia. Ruas adjacentes foram bloqueadas para impedir o acesso ao prédio do grupo, cujo entorno já havia sido palco de violência no protesto da última segunda-feira.

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A ação da polícia empurrou os manifestantes que buscavam confronto em direção à avenida João Pessoa, onde os vândalos fizeram uso de algumas pedras presentes em uma obra na região para agredir os policiais, que disparavam balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. O confronto dispersou os manifestantes pacíficos.

Durante o caos, algumas pessoas realizaram diversos saques na Avenida Azenha, importante via comercial da região. Perto dali, uma agência do Banrisul - que já havia sido depredada em um protesto anterior - foi novamente invadida. Um dos tapumes colocados no lugar de uma vidraça quebrada foi queimado e jogado para dentro da agência. O Corpo de Bombeiros rapidamente apagou o foco de incêndio.

A violência atingiu também a sede do PMDB localizada na João Pessoa. "Isso é que dar glamourizar extremistas como se fossem salvadores da pátria", afirmou o vereador peemedebista Valter Nagelstein, que também acusou o Psol de provocar o vandalismo. A sede do PT, loalizada na mesma avenida, foi igualmente atingida. "Para aqueles que acham que o PT está no comando do que está acontecendo em Porto Alegre, aviso que acabaram de invadir e destruir a sede do PT de Porto Alegre, na Avenida João Pessoa, 785", escreveu no Facebook o vereador petista Adeli Sell.

"Ataque aéreo"

Com apoio da cavalaria, a PM foi, aos poucos, avançando sobre os manifestantes. Quando o contingente passava pela Casa do Estudante, onde também fica o Diretório Central de Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),  jovens arremessaram do prédio garrafas de vidro, sacos de lixo e bombonas de água, na tentativa de acertar os militares. "Recua, polícia, recua. É o poder popular que está nas ruas", gritavam os manifestantes das janelas. 

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O percurso terminou na Prefeitura, onde a manifestação havia começado. Baderneiros se juntaram a pessoas que protestavam pacificamente no Paço Municipal. Com a chegada do batalhão de choque, um novo confronto foi travado na avenida Borges de Medeiros, no centro da cidade. PMs eram alvo de rojões e pedradas, e revidavam com tiros antimotim e gás lacrimogêneo.

Outros contingentes criaram bloqueios nas laterais da Prefeitura, encurralando os manifestantes. A estratégia resultou na dispersão da multidão no centro.

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

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A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

O grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Fonte: Terra
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