São Paulo (SP) tem aumento de mortes no trânsito no primeiro semestre de 2024

Com 520 óbitos no período, capital paulista registra a maior quantidade de vítimas desde 2015; Prefeitura diz que a maioria dos casos é causada por desrespeito às leis; Detran afirma que busca conscientizar a população

25 jul 2024 - 03h10
(atualizado às 07h59)
Cidade de São Paulo teve aumento na quantidade de mortes por acidente de trânsito no primeiro semestre deste ano.
Cidade de São Paulo teve aumento na quantidade de mortes por acidente de trânsito no primeiro semestre deste ano.
Foto: Tiago Queiroz/Estadão / Estadão

A cidade de São Paulo registrou aumento de mortes no trânsito entre janeiro e junho deste ano. Ao todo, foram 520 óbitos na capital paulista, segundo dados do Infosiga, o sistema de monitoramento de acidentes do governo estadual. Trata-se da maior marca desde 2015, quando o total de vítimas no primeiro semestre foi 598. Na comparação com o mesmo período do ano passado - 395 mortes - o aumento foi de 31,6%.

A Prefeitura de São Paulo afirma que a maioria dos sinistros de trânsito "é resultado do desrespeito à sinalização e às leis de trânsito", e que a administração municipal tem adotado medidas para evitar os acidentes nas ruas e avenidas da cidade. O Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) afirmou que desenvolve "constantemente políticas públicas que aumentem a segurança viária e conscientizem a população". (veja mais abaixo).

Publicidade

Conforme o Infosiga, a maioria dos casos envolve motociclistas. O grupo representa 40% do total de mortes, com 236 vítimas. Na sequência, vêm pedestres, 28% (192 óbitos); pessoas em automóvel, 8% (55); ciclistas, 4% (22) e passageiros em ônibus e caminhão - que somam, juntos, 10 mortes.

Do perfil das vítimas, a grande maioria é composta por homens (83%), e a maior parte se concentra na faixa dos 20 a 29 anos. Foram 117 mortes neste recorte de idade, o que representa 24,3% do total - em 39 casos, as idades não foram disponibilizadas. Metade das vítimas (50%) era condutor; 36%, pedestres e 10%, passageiros - em 16 casos (3,1%), os dados não foram disponibilizados.

Do perfil dos acidentes, 82,5% aconteceram em vias municipais (429 casos) e 10,8% em rodovias. Em 35 casos (6,7%), a informação de onde o sinistro aconteceu não está disponível no Infosiga.

Em todo 2023, a capital registrou a maior quantidade de mortes desde 2015, com 928 mortes.

Publicidade

'Retrocesso de 20 anos', diz especialista

Horácio Augusto Figueira, engenheiro civil com mestrado em transportes e pesquisador na área de segurança do trânsito, lembra que os motociclistas já tinham um hábito comum de não parar no sinal vermelho, mas a situação piorou com a chegada dos aplicativos de delivery. "Em cruzamento com a semáforos, as motos não estão parando. De noite, então, é barbárie total."

Segundo o pesquisador, na medida em que um motorista fura o semáforo, outros também passam a furar. "Os automóveis estão indo no mesmo barco. Eu vejo motoristas furando o semáforo de pedestre às 14h. A pessoa olha, vê que não tem ninguém, e atravessa", diz. "Na minha opinião, a gente regrediu em 20 anos em termos de segurança no trânsito na cidade de São Paulo."

Para mudar o cenário atual, ele defende algumas medidas, como o uso de ações educativas sobre o trânsito, fazer convênio com a Polícia Militar para colocar mais agentes na rua para fazer autuações e ampliar o contingente da CET (Companhia de Engenharia de Trafego) em até 5 mil profissionais.

No caso de condutores que desrespeitam as regras de trânsito enquanto trabalham, Horácio Figueira acha conveniente também dividir a responsabilidade com a empresa que os contratou, bloqueando os infratores do aplicativo por um tempo se necessário.

Publicidade

"Se continuar assim, a meta da ONU para 2030 (reduzir em 50% o número de mortes no trânsito de 2020 para 2030) não vai ser atingida nem em 2100?, afirmou.

Prefeitura de São Paulo chegou a vetar a instalação de novos radares nas ruas e avenidas da capital em abril deste ano.
Foto: JF Diorio / Estadão / Estadão

A Prefeitura de São Paulo afirmou, via CET, que a maioria dos acidentes "é resultado do desrespeito à sinalização e às leis de trânsito". "Dentre as infrações, a que gera consequências mais graves é o excesso de velocidade", disse a companhia.

A Prefeitura afirma que adotou medidas como a Faixa Azul, que "reduziu a gravidade de acidentes entre motociclistas", implantou 700 frentes seguras e que proibiu a circulação de motos nas pistas expressas das marginais. Entre outras estratégias citadas estão a criação de Áreas Calmas, faixas de pedestres e aumento de travessia em cruzamentos da cidade.

"O Município tem implementado uma série de medidas para evitar que ocorrências de trânsito façam vítimas e causem mortes, tornando o fluxo de trânsito cada vez mais seguro", disse a CET no comunicado.

Publicidade

Prefeitura vetou instalação de novos radares em abril

Como o Estadão mostrou, em abril deste ano, a Prefeitura chegou a anunciar a compra de novos radares para a cidade e o aumento de 1.538 pontos de fiscalização eletrônica na cidade. Mas, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) recuou da medida e vetou a instalações dos novos equipamentos.

Na ocasião, Nunes determinou, por meio de decreto, que a implementação só deve ocorrer quando a iniciativa tiver a necessidade comprovada e que as ações de aprimoramento do trânsito devem ser implementadas por meio de medidas educativas - campanhas, palestras e cursos - e políticas para setor de mobilidade, como o Programa Faixa Azul.

Detran diz que adota medidas para tornar trânsito mais seguro

Em nota, o Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) afirmou que desenvolve "constantemente políticas públicas que aumentem a segurança viária e conscientizem a população".

Entre as medidas, o órgão cita 14 campanhas educativas desde 2023, incluindo um trabalho focado em um trânsito mais seguro durante o chamado Maio Amarelo, e também as operações Direção Segura Integrada (ODSI), feitas nas ruas para conscientizar os condutores sobre direção perigosa e o consumo de álcool.

Publicidade

O departamento afirma também que utilizou R$ 364,5 milhões do Fundo de Multas, arrecadado a partir das infrações, "em ações e aquisição de equipamentos" usados pelo Detran e pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo para "policiamento ostensivo e preventivo do trânsito" nas cidades do Estado.

O Detran disse também, em nota, que foi criado o Sistema Estadual de Trânsito (Sistran), ferramenta usada para fomentar a organização do trânsito e as iniciativas de segurança viária nos municípios, um novo Infosiga, lançado no último mês de maio.

Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se