SE: ato mobiliza milhares por ônibus a R$ 1,92; 5 são apreendidos

Lojas fecharam portas, mas vandalismo foi coibido pelos próprios manifestantes; PM aprova protesto

21 jun 2013 - 00h36
(atualizado às 00h57)

Nesta quinta-feira (20) Sergipe entrou no mapa das manifestações que acontecem em todo o País. Na capital Aracaju, foi organizado um ato de protesto que teve início em frente ao Tribunal de Justiça, focado no reajuste da tarifa do transporte público. A manifestação teve início pouco depois das 16h e seguiu, de forma organizada, até por volta das 21h.

Movimento quer tarifa de ônibus a R$ 1,92
Movimento quer tarifa de ônibus a R$ 1,92
Foto: Tirzah Cunha/Direto de Aracaju

No início da tarde, bancos, o comércio local e as repartições públicas fecharam as portas. A Câmara de Dirigentes Lojistas autorizou os comerciantes a fecharem com medo de uma possível onda de violência que pudesse acontecer com o protesto. Não foi registrado nenhum tipo de depredação durante o percurso, mas 5 menores foram apreendidos.

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Ato pede tarifa a R$ 1,92

Segundo Luiz Gustavo Mendes, um dos líderes do Movimento Não Pago, responsável pela organização do protesto em Sergipe, o manifesto é mais uma ação da frente que luta por um transporte público de qualidade. "Há três anos pedimos um transporte público digno para população. Nessa manifestação, pedimos a atenção do Poder Judiciário para uma resposta à ação movida pelo Movimento para congelamento da tarifa e, posteriormente, a redução para R$1,92. Já provamos que o preço justo é esse", diz. Em Aracaju, o preço pago é de R$2,45.

No ponto de encontro, manifestantes gritavam palavras de ordem como “Não pago, não pagaria. Transporte público não é mercadoria”. Cartazes de protesto contra o investimento na Copa do Mundo, contra a violência, à situação da saúde e da educação no País também foram lembrados, mas todos de forma isolada. “A manifestação teve foco no transporte público. Queremos a revogação do aumento já, pois sabemos que há fraudes na planilha apresentada pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Aracaju”, explica Demétrio Varjão, que faz parte do Movimento Não Pago e foi o responsável pelo cálculo que resultou na tarifa de R$1,92.

Para ativistas, 30 mil participantes; PM estima em 16 mil

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Segundo a organização do movimento, cerca de 30 mil pessoas participaram e se dividiram em dois grupos, que percorreram as principais vias da capital sergipana. “Não conseguimos unificar, mas tivemos um manifesto pacífico, sem violência e que alcançou o objetivo, que era mostrar a mobilização do povo”, afirma Demétrio.  A Polícia Militar estimou em cerca de 16 mil participantes e considerou uma manifestação pacífica. “A Polícia Militar de Sergipe classifica como excelente o manifesto. Foi um protesto pacífico e ordeiro, com poucos incidentes de pessoas que se infiltravam na multidão para furtar. Tivemos dificuldades em precisar o número de pessoas, pois a manifestação começou com quatro frentes e depois se transformou em duas”, destaca Major Paulo Paiva, assessor de Comunicação da PM em Sergipe.

O destino da manifestação foi o terminal de integração do Distrito Industrial de Aracaju, considerado um dos símbolos da precariedade do transporte local. O viaduto Jornalista Carvalho Déda foi tomado por milhares de pessoas que gritaram palavras de protesto e interromperam o trânsito. “Vim aqui como cidadão, porque acredito que se trata de um novo momento do País. Estamos dividindo a dor de ser roubado todos os dias, de não ter acesso à saúde, à educação, a uma estrutura de qualidade”, afirma o publicitário José Elson Netto. 

Sem incidentes

Não foram registrados pela polícia graves incidentes durante as quase cinco horas de manifestação. Segundo informações divulgadas pela PM, cinco menores foram apreendidos. Dois portavam arma branca na hora da concentração do protesto e outros três furtavam celulares no meio da multidão.

No ponto final da passeata, alguns manifestantes ameaçaram a agir de maneira mais radical e colocaram fogo em colchões e palhas de coqueiro. Outros manifestantes apagaram o fogo e gritavam não à violência. O trânsito próximo ao Distrito Industrial ficou parado por mais de uma hora.

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Os próprios manifestantes recriminavam outros atos de vandalismo que aconteceram durante a manifestação. “Foi positivo para o Movimento Não Pago e para todos que se envolveram na organização do protesto. Não temos controlar a todos, porém, todos os focos de violência foram pequenos e repreendidos”, explica Cleidson Santos, integrante do Não Pago.

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

 

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

O grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Fonte: Terra
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