Sob temor de mais cheias, Bahia corre para tirar moradores

Mortes chega a 21; entre ribeirinhos, parte resiste a deixar casas com medo de saques ou por não acreditar no risco

28 dez 2021 - 22h26
(atualizado em 29/12/2021 às 07h32)
Sob temor de mais cheias, Bahia corre para tirar moradores
Sob temor de mais cheias, Bahia corre para tirar moradores
Foto: REUTERS/Amanda Perobelli

Sob o risco de novas cheias em várias cidades, a Bahia corre para tirar moradores de áreas de risco e monitora o nível das barragens no Estado. O número de mortos por causa das fortes chuvas chegou a 21 - um adolescente de 19 anos foi arrastado pela enxurrada anteontem em Ilhéus, no sul do Estado.

O Corpo de Bombeiros divulgou comunicado ontem sobre o aumento do fluxo das águas, com a abertura das comportas da barragem Machado Mineiro, no Rio Pardo, região de Águas Vermelhas, em Minas Gerais, vindo em direção à Bahia. Segundo a corporação, há risco real de enchentes nas cidades de Itambé, Canavieiras, Mascote e Cândido Sales, já bastante atingidas pelas chuvas.

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"A orientação às prefeituras é para que a população deixe as áreas de risco", alerta o comandante-geral do Corpo de Bombeiros da Bahia, coronel Adson Marchesini. Ele diz ser preocupante o volume de água nas barragens do Estado, mas afirma que não há risco de rompimento - houve estruturas rompidas nas regiões de Vitória da Conquista e Jussiape. De acordo com Marchesini, as barragens que tiveram problemas nos últimos dias são bem menores e construções privadas, pertencentes a fazendeiros.

O trabalho para remover moradores das áreas de risco é complicado. Além do perigo de o nível da água subir, as equipes lidam com a resistência daqueles que não querem deixar suas casas para trás. Parte alega medo de saques caso o imóvel fique vazio; outros descartam a chance de uma enxurrada causar uma tragédia. No Estado, porém, já são 42 mil desalojados e 34 mil desabrigados desde novembro, quando começaram as fortes chuvas.

Corrida contra o tempo

Aos 86 anos e com dificuldades de locomoção, Altina Silva não queria sair de casa em Ubaitaba, cidade com cerca de 20 mil habitantes a 375 quilômetros de Salvador. "Insistimos muito, para que ela entrasse no barco. Nós explicávamos que ela corria risco iminente de morrer, mas ela não acreditou e se recusou a sair", relata Rui César Santos, chefe da Guarda Municipal de Ubaitaba.

Altina mora na Avenida Beira Rio, às margens do Rio de Contas, que transbordou. Pouco tempo depois, a guarda foi acionada por parentes da idosa, que já estava com a água pelo pescoço, para que fosse resgatá-la. "A retirada dela foi muito mais difícil, porque tivemos de praticamente nadar até o local onde ela estava para trazê-la até o barco", descreve Rui César.

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"Tudo feito com muito cuidado, porque uma pessoa mais jovem poderia nadar caso caísse na água, mas essa senhora, certamente morreria. Esse foi um resgate bem delicado", acrescenta o chefe da Guarda.

Em Ilhéus, Itabuna e outras cidades, as equipes têm usado botes e helicópteros para resgatar moradores ilhados, muitos com as residências submersas. Pelo menos quarenta rodovias tiveram um trecho destruído ou bloqueado nos últimos dias.

O governador Rui Costa (PT) afirmou ontem que a Bahia atravessa o "maior desastre natural de sua história" e comparou o cenário a um "bombardeio". No total, cerca de 470 mil pessoas já foram afetadas, estima o governo, com 136 municípios em estado de emergência.

Reconstrução e ajuda

Costa disse que não será permitido que casas voltem a ser construídas em áreas de risco, que ficam perto de rios ou em áreas propícias a deslizamentos. Conforme o governo, a prioridade das obras serão pontes e estradas essenciais que ligam os municípios a outras regiões e que estejam em locais de mais fácil acesso.

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O governo afirmou prever auxílio financeiro às famílias que foram vítimas da tragédia, mas o Estado ainda calcula qual deve ser a quantidade total de beneficiários e qual é o valor possível.

À medida que a água baixa em alguns locais, é possível ver a montanha de escombros. Na cidade de Itapetinga, também no sul do Estado, Carlos Batista da Silva mostrava ontem a marca da água na parede, em cima da sua cabeça. Pouco depois de ele ter sido avisado sobre a chegada da enxurrada, viu seus objetos todos ficarem submersos. "Queríamos tirar os móveis, ao menos resgatar a televisão", conta ele, que arrastava para a rua os restos do sofá, algumas cadeiras e o micro-ondas, destruído.

Para Itamaraju, uma das cidades mais prejudicadas pelos estragos, o governo estadual enviou 120 geladeiras para ajudar quem teve as casas engolidas pela correnteza. No município, houve quatro óbitos. Nos últimos dias, famosos e anônimos têm mobilizado campanhas de doações de dinheiro e pertences para ajudar as vítimas.

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